Na tarde do dia seguinte, quando Jacira foi buscar Maria LĂșcia, ela jĂĄ estava pronta. Havia se despedido de todos e esperava sentada no saguĂŁo, ao lado da pequena sacola onde guardara seus pertences.
Antes de elas saĂrem, Jacira foi avisada de
que a madre superiora a esperava em sua sala. Maria LĂșcia sentou-se novamente
enquanto Jacira acompanhava a freira.
Entrou na sala da madre que, depois dos
cumprimentos, pediu-lhe que se sentasse:
- Ontem, quando conversamos,
eu estava em dĂșvida se deveria colocĂĄ-la a par de alguns detalhes sobre os pais
de Maria LĂșcia. Orei pedindo a Deus inspiração e senti que seria melhor falar.
Jacira
concordou e ela prosseguiu:
- Na verdade, o pai de Maria
LĂșcia nĂŁo morreu. Quando Rosalina
chegou aqui, grĂĄvida de seis meses, estava desesperada, sem ter para
onde ir. Havia passado por momentos difĂceis no Rio de Janeiro, precisando de
tratamento mĂ©dico e ajuda emocional. Sua famĂlia morava no interior de Minas
Gerais e era muito pobre Ela decidiu ir para o Rio de Janeiro na esperança de
arranjar um emprego, melhorar de vida. Começou a trabalhar em casa de
famĂlia, e, depois de algum tempo foi trabalhar em um hotel como camareira
ganhando um pouco mais.
A madre fez uma pausa e, notando o interesse
de Jacira, continuou:
- Foi lå que conheceu um garçom e se
apaixonou. Ele se interessou por ela e o namoro começou. A cada dia estavam
mais apaixonados, até que foram morar juntos. Tudo ia bem até que no hotel
hospedou-se uma moça que se interessou por ele, que correspondeu. Ela era
bonita, classe média alta, alegre, falava bem e teve o bom senso de não se
entregar a ele. Ela queria se casar. Ele acabou fazendo o pedido aos pais dela
e ficaram noivos. Rosalina,
chocada com a situação, foi procurå-la, contou-lhe que esperava um
filho dele. A moça respondeu-lhe que os dois se amavam e ela deveria
conformar-se porque logo eles estariam casados.
Diante do desespero dela, prometeu dar-lhe algum dinheiro quando a criança
nascesse.
Pouco depois, Vicente aceitou um emprego que o pai de Guilhermina ofereceu e viajou para o
Sul, onde a famĂlia dela morava.
"Sem
condiçÔes de sustentar a despesa do pequeno apartamento, não sabia o que fazer
da vida, até que uma vizinha, de quem se tornara amiga, vendo seu sofrimento,
aconselhou-a que procurasse o nosso pensionato. Foi essa senhora que lhe deu dinheiro para a
passagem e o endereço para que chegasse aqui, e uma carta para mim contando o
caso dela. Rosalina
era uma moça boa, prestativa,
logo se deu bem com todos. Apesar do seu estado, esforçava-se para
ajudar onde pudesse. Depois que Maria LĂșcia nasceu, oferecemos-lhe um emprego e
ela ficou. Sentimos muito sua morte."
- Deve
ter sido difĂcil para Maria LĂșcia. Rosalina nunca quis voltar para a sua famĂlia?
- Ela
procurou notĂcias deles, descobriu que tinham se mudado sem deixar endereço.
Quando ela morreu, por causa de Maria LĂșcia, nĂłs tambĂ©m tentamos por meio da
parĂłquia da cidade dela, mas nĂŁo descobrimos nada.
A
madre fez ligeira pausa, depois prosseguiu:
- Rosalina nunca contou a verdade para a filha. Ela soube que
Vicente se casou, e nĂŁo quis que ela tivesse uma imagem ruim do prĂłprio pai.
Maria LĂșcia pensa que o pai morreu.
- Rosalina avisou ao pai que ela nasceu?
- VĂĄrias
vezes sugeri a ela que o fizesse. Mas ela foi irredutĂvel.
Nunca o perdoou por
tĂȘ-las abandonado. Costumava dizer: "- Ele nos desprezou, nĂŁo merece
conhecĂȘ-la".
- A
senhora nĂŁo acha que ele poderia cuidar dela agora que estĂĄ sozinha no mundo?
- Talvez.
Mas não då para confiar em um homem capaz de abandonar uma moça gråvida.
- Mas
ela veio para cĂĄ e nĂŁo o avisou. Ele pode tĂȘ-la procurado sem encontrar.
- Também
pensei nisso. Tenho orado muito pedindo a Deus que me inspire. Tive receio de
procurĂĄ-lo. Ele poderia levĂĄ-la para sua casa e nĂŁo sei se seria bom. Afinal,
essa mulher não se comoveu com a situação quando Rosalina a procurou. Não seria uma
boa madrasta para Maria LĂșcia. Achei melhor arranjar uma pessoa boa que a
acolhesse.
- Talvez
tenha razĂŁo. Espero que ela goste de ficar em nossa casa.
- Eu
também espero. A vida tem muitos caminhos, se algum dia, por alguma razão, a
senhora achar que deve contar-lhe tudo, pode fazĂȘ-lo. Algo me diz que devo
confiar no seu bom senso.
Jacira
agradeceu, despediu-se. Procurou Maria LĂșcia e foram para casa.
Durante o trajeto, Jacira foi conversando sobre sua famĂlia.
Explicando a rotina da casa, os hĂĄbitos do pai, o que a mĂŁe gostava.
Ao
chegarem na porta de casa, antes de entrar Jacira tornou:
- Hoje começa para vocĂȘ uma vida nova. A princĂpio
talvez nĂŁo seja fĂĄcil ficar em uma casa estranha no meio de pessoas que nĂŁo
conhece.
Vendo que Maria LĂșcia a
olhava séria, fixou os olhos dela, e disse com voz firme:
- Eu quero muito que vocĂȘ goste de nĂłs e seja muito feliz aqui.
Desejo ser
sua amiga e espero que confie em
mim. Quando se sentir triste, ou tiver algum problema, lembre-se
de que eu estarei ao seu lado
para ajudå-la, aconteça o que acontecer.
Os olhos de Maria LĂșcia
marejaram e ela simplesmente aproximou-se
e deu
um beijo na face de Jacira, que sentiu forte emoção.
Depois de alguns segundos,
elas entraram.
Geni estava na sala e vendo-as aproximou-se curiosa. Maria LĂșcia encarou-a com naturalidade dizendo:
- Boa tarde, senhora.
- Boa tarde. - Respondeu Geni, voltando-se para Jacira: - VocĂȘ demorou!
- Fiquei conversando com a
madre. Ela queria fazer suas recomendaçÔes.
- E o que ela recomendou?
- Votos de felicidades para todos nĂłs. Vamos subir e
mostrar o quarto para Maria LĂșcia.
Ao entrar no quarto,
Jacira abriu a janela dizendo:
- Este quarto era dos meus dois irmĂŁos. VocĂȘ vai instalar-se
aqui.
Ficou fechado e sem uso
desde que eles foram embora. NĂŁo estĂĄ muito bonito, mas pretendo arrumĂĄ-lo
melhor. A roupa das camas estĂĄ limpa, e o banheiro fica ao lado. As roupas que
eles deixaram ainda estĂŁo dentro do armĂĄrio.
Voltando-se para Geni, que
observava parada na porta, ela prosseguiu:
- Precisamos dar um jeito
nessas roupas. Geni aproximou-se
nervosa:
- O que vocĂȘ quer fazer com
elas?
- Doar. As que estĂŁo
melhores ainda poderĂŁo ser aproveitadas por quem precisa. As outras jogamos
fora.
- VocĂȘ nĂŁo pode fazer isso.
São as lembranças que nos restam deles. Precisam estar aqui quando eles
voltarem.
- Eles nos esqueceram. NĂŁo
vĂŁo voltar mais. Mas mesmo se voltarem, nĂŁo vĂŁo querĂȘ-las de volta. Vou buscar
uma caixa, separĂĄ-las, e resolver logo.
Jacira saiu e Geni acompanhou-a, rosto contraĂdo, aflita.
- MĂŁe, tente entender, temos
que tocar nossa vida para a frente.
Essas roupas nĂŁo tĂȘm utilidade para nĂłs e
podem servir para alguém que esteja precisando.
- Quando precisamos ninguém
veio nos dar nada. Por que nĂłs temos de fazer isso para os outros?
- Porque na vida tudo
circula e se movimenta. As coisas inĂșteis que juntamos ocupam lugar e impedem
que as coisas novas entrem. Se vocĂȘ deseja prosperar, deve entender isso.
Jacira apanhou uma caixa e
voltou ao quarto, abriu o guarda-roupas
e
começou a tirar as roupas, separando-as em duas pilhas. Geni assistia com olhos
marejados.
A cada peça, ela se
lembrava dos meninos, e pedia para si, mas Jacira estava decidida e nĂŁo atendia
aos seus pedidos. Vendo que Geni sentara-se
em uma
das camas e olhava com tristeza, ela perguntou:
- VocĂȘ jĂĄ fez o jantar?
- Eu? NĂŁo estou com
disposição para isso. Essa menina sabe cozinhar?
- Fazer a comida, por
enquanto nĂŁo vai ser tarefa dela. Vamos dividir o serviço. Hoje vocĂȘ nĂŁo
precisa cozinhar. Vamos fazer um lanche. Eu trouxe aquele queijo fresco que
vocĂȘ gosta e mais algumas coisas.
- Posso ajudar? - indagou Maria LĂșcia.
- Pode.
Dobre as roupas desta pilha e coloque-as na caixa.
Geni observou-as em silĂȘncio durante alguns minutos,
depois se levantou:
- Vou
descer e preparar o lanche. Quando estiver pronto eu as chamo.
Ela
desceu e Jacira sorriu satisfeita. Sabia que ela nĂŁo resistira Ă curiosidade.
Antes de sair para fazer compras, Jacira sempre lhe perguntava o que desejava
comer. Geni nunca
lhe dizia. EntĂŁo, escolhia a seu gosto. Mas ela tinha expectativa e sempre
reclamava quando as compras nĂŁo eram o que esperava.
Jacira tentava ensinĂĄ-la a se colocar e dizer
o que pensava. Mas Geni, apesar
de ter melhorado em algumas atitudes, nĂŁo confiava mais em si mesma. Sua
vaidade nĂŁo lhe permitia errar e por esse motivo nunca dizia o que queria.
Quando Geni chamou para o lanche, Jacira jĂĄ havia esvaziado e
feito uma faxina no guarda-roupas, deixando suas portas abertas para que o ar
circulasse.
Elas
desceram e Jacira notou que Geni arrumara a mesa com o cuidado que fazia nos almoços de domingo. Convidou Maria
LĂșcia a sentar-se e servir-se. Geni observava calada.
- Sente-se,
mĂŁe. EstĂĄ sem fome?
- As
lembranças daqueles ingratos me tiraram o apetite.
Jacira
preparou seu lanche com prazer e respondeu:
- Pois
eu estou faminta. Esse pĂŁo deve estar uma delĂcia. Ainda hoje vamos nos sentar
e combinar como serĂĄ a rotina da casa daqui para a frente. Vamos definir as
tarefas de cada uma.
- NĂŁo
Ă© preciso. Aqui tudo Ă© muito simples - objetou Geni.
- Precisa
sim. A organização é a base de todo trabalho. Como eu não disponho de tempo para o serviço de
casa, vocĂȘs duas terĂŁo de cuidar de tudo.
- O
que depender de mim, estou disposta a fazer o que for preciso.
- Ătimo,
Maria LĂșcia. O que vocĂȘ fazia no pensionato?
- Quando
eu era menor sĂł estudava, mas sempre que deixavam eu ajudava no que podia. Mas
a madre preferia que além da escola eu fizesse os cursos que havia lå.
- Que
cursos vocĂȘ fez?
- De
primeiros socorros, ajudante de enfermagem, digitação. Além disso, como eu
ficava lĂĄ o tempo todo, onde precisasse, eu ia como ajudante. Eu adorava ajudar
no berçårio e contar histórias para as crianças do pré.
Geni interveio:
- VocĂȘ
aprendeu muitas coisas, mas nĂŁo aprendeu a cuidar de uma casa.
- Aprendi,
sim. Sei fazer uma boa faxina, lavar e passar roupas. E nĂŁo tenho medo de
trabalho. Com boa vontade sei que posso aprender a fazer tudo.
Mais tarde, quando Aristides chegou do trabalho, passava
das 23 horas e Geni esperava-o
sentada na sala.
- Estava
sem sono?
- Temos
de conversar.
- Estou
cansado. Deixe para amanhĂŁ.
- NĂŁo.
Jacira trouxe a mocinha para morar aqui. Estou preocupada.
- Por
quĂȘ? Ela foi bem recomendada e criada em um pensionato de freiras. Deixe de
histĂłrias.
- NĂŁo
são histórias. Ela é muito nova, não sabe fazer nada. Além disso, por causa
dela Jacira recolheu toda roupa dos meninos e vai doar.
- Ela
estĂĄ certa. Para que guardar o que nĂŁo nos serve para nada?
- VocĂȘ
também? Elas são tudo quanto nos resta dos nossos filhos. Como pode ser tão
frio?
-
Por mim jĂĄ as teria doado
faz tempo. Esperar para quĂȘ? Eles nos esqueceram.
Geni disse com voz
lamentosa:
- Eu sou mĂŁe, amo meus
filhos! Sinto saudades! Aristides fixou-a sério:
- Quando eles estavam aqui
vocĂȘ vivia se lamentando, dizendo que eles nĂŁo sabiam fazer nada. Principalmente
o Jair. Ăs vezes penso que eles foram embora para ficarem livres de suas
lamentaçÔes.
- VocĂȘ estĂĄ sendo injusto.
Eles nĂŁo foram embora por minha causa. Jair estava iludido, achava que um dia
ficaria rico. A esta altura jĂĄ deve ter percebido que pobre nĂŁo tem vez.
- E se aconteceu o contrĂĄrio
e ele estiver bem de vida?
- Se ele estivesse bem, teria
voltado para nos provar que tinha razĂŁo.
Aristides meneou a cabeça negativamente:
- VocĂȘ continua sempre julgando as pessoas. Eles
estĂŁo seguindo sua vida e nĂŁo pensam mais em nĂłs. Chega de conversa.
Estou com sono e quero descansar.
O marido subiu e Geni foi atrĂĄs. Ele se preparou para
dormir e deitou-se em seguida. Geni sentou-se na beira da cama:
- Essa histĂłria dessa menina
morar aqui não vai dar certo. Daqui a pouco ela vai começar a pÎr as manguinhas
de fora, fazer amizades, querer trazer pessoas aqui. Pode até arranjar
namorado.
- Deixe de ser maldosa.
Apague logo essa luz, eu quero dormir.
Ela foi apagar a luz, mas ainda disse:
- Depois nĂŁo diga que nĂŁo avisei! Aristides virou-se
para o lado e logo adormeceu.
Geni deitou-se também, mas seus pensamentos tumultuados não a
deixavam em paz.
No dia seguinte, Jacira acordou cedo, desceu e jĂĄ
encontrou Maria LĂșcia na cozinha. Ela jĂĄ havia arrumado a mesa para o cafĂ©.
- A senhora quer que eu esquente o pĂŁo que sobrou de
ontem Ă tarde ou prefere que eu vĂĄ comprar outro?
- Vamos esquentar este mesmo.
- Posso passar o café?
- Pode.
Depois de colocar na mesa
a garrafa térmica com o café, ela ficou parada esperando.
- Sente-se,
Maria LĂșcia, vamos ver como
estå esse café.
Enquanto elas se serviam,
Jacira perguntou:
- VocĂȘ dormiu bem?
Maria LĂșcia nĂŁo respondeu
logo.
- Pode falar. Estranhou a
cama?
- NĂŁo. Essa cama Ă© melhor do
que a que eu dormia no pensionato. Acontece que...
Ela parou e Jacira
perguntou:
- O que foi? Fale, Maria
LĂșcia.
- Ă que eu tive um pesadelo
e acordei assustada.
- VocĂȘ ficou nervosa com a
mudança. Ă normal. Quero que sejamos amigas e nĂŁo haja segredos entre nĂłs. VocĂȘ
nĂŁo precisa ter medo. Desejo que seja muito feliz em nossa casa. Se alguma
coisa a estiver preocupando, eu quero saber.
- Foi sĂł um pesadelo.
Acontece de vez em quando.
- Conte como foi.
- Eu sonhei que estava em um
lugar escuro e um homem que eu nĂŁo vi o rosto queria me pegar. Eu me escondia e
ele me achava.
EntĂŁo, acordei e nĂŁo quis dormir mais para nĂŁo encontrĂĄ-lo.
- VocĂȘ reza antes de dormir?
- Sempre. Minha mĂŁe me
ensinou.
- Vou pedir a LĂdia para nos
orientar.
- Ela nos ajudou muito.
Quando minha mĂŁe estava doente, ela nos visitava, mandava-me sair e ficavam conversando. Depois que ela saĂa,
mamĂŁe ficava mais calma, melhor.
Aristides apareceu na cozinha
e Geni o acompanhava mais atrĂĄs.
- Bom dia! O cheirinho do café me fez levantar.
- Bom dia. Sente-se, papai. Esta Ă© a Maria LĂșcia. Ela levantou-se.
Ele olhou-a
respondeu:
- Seja
bem-vinda, minha filha. Sente-se, continue tomando seu café.
Ela obedeceu enquanto Geni jĂĄ havia se acomodado e
estava se servindo.
- Por
que se levantou tĂŁo cedo? - indagou Jacira.
- Acordei,
senti o cheiro do café e tive fome. Assim que comer, voltarei para a cama. Hoje
sĂł vou para o bar ao meio-dia.
Eles terminaram de comer, Aristides subiu novamente e, depois
que Maria LĂșcia tirou a mesa, Jacira apanhou um bloco e pediu que as duas se
sentassem novamente.
- Agora
nĂłs vamos organizar o trabalho da casa. Primeiro, vamos anotar de maneira geral
o que deverĂĄ ser feito para que tudo fique em ordem. Depois, vamos repartir as
tarefas entre as duas.
- Nada
disso é preciso. O serviço da casa é sempre o mesmo.
- Sim.
Mas eu quero discutir com cada uma quem faz o quĂȘ, para facilitar e tambĂ©m para
que nĂŁo haja nenhuma dĂșvida. Eu tenho meia hora para fazer isso. HĂĄ muito
trabalho me esperando no ateliĂȘ.
Jacira
anotou detalhadamente todo o serviço doméstico, depois que todas estavam de
acordo, dividiu as tarefas. Ficou para Geni cozinhar e lavar toda roupa da casa. Geni protestou.
- Eu
quero sĂł cozinhar. Lavar roupa Ă© muito cansativo. Eu sou uma pessoa doente!
- Separar
as roupas e colocĂĄ-las na mĂĄquina nĂŁo Ă© serviço pesado, vocĂȘ pode muito bem
fazer. Ou serĂĄ que em vez de lavar vocĂȘ prefere passar?
- NĂŁo.
Odeio passar roupas! Eu lavo!
- Combinado.
O restante fica para Maria LĂșcia. NĂŁo Ă© muita coisa para vocĂȘ?
- NĂŁo.
Do jeito que a senhora dividiu as tarefas, ficou fĂĄcil. Vou dar conta.
- EntĂŁo
estå combinado. Eu quero que copie as duas relaçÔes. A que eu fiz ficarå com
mamĂŁe e a outra com vocĂȘ. Assim nĂŁo vĂŁo confundir e cada uma saberĂĄ o que
compete a outra.
- Isto
aqui parece um quartel - resmungou Geni.
- O
que disse, mĂŁe?
- Nada.
Agora as coisas aqui em casa se inverteram. Em vez de a mĂŁe administrar tudo,
Ă© a filha que faz isso.
- Estou
fazendo isso para facilitar. Procure cumprir o que prometeu e descobrirĂĄ como a
organização favorece o trabalho.
Maria
LĂșcia olhou para Geni e
tornou:
- Eu
estou acostumada. No pensionato
Ă© tudo muito organizado.
Elas dizem que Ă© preciso fazer tudo bem feito
para se ganhar tempo. Ao fazermos de qualquer jeito, sem capricho, acabamos
tendo de fazer de novo e trabalhamos mais.
Jacira
sorriu satisfeita:
- Agora
preciso ir. Vou deixar algum dinheiro. Se precisar de alguma coisa, Maria LĂșcia
poderĂĄ comprar no mercadinho.
Jacira
apanhou a bolsa e saiu. Ela sabia que assim que virasse as costas, Geni ia tentar sabotar o que
combinaram e torcia para que Maria LĂșcia se mantivesse firme.
Na
véspera, ela havia lhe pedido para que não cedesse às artimanhas de Geni. Não queria que ela voltasse
Ă vida sedentĂĄria.
Sentia-se
satisfeita por poder contar com Maria LĂșcia, aliviando a mĂŁe do peso dos
trabalhos domésticos e, ao mesmo tempo, abrigar uma órfã por quem jå sentia um
carinho especial.
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