quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capítulo 10 
A segunda-feira amanheceu chuvosa e Jacira apressou-se. O ônibus estava cheio, ela viajou em pé, o cheiro úmido em razão da chuva, que caíra durante toda a noite, e da falta de higiene, era desagradável. Mas Jacira não se importou. Nem a fisionomia fechada das pessoas foi capaz de deixá-la para baixo.


Não via hora de chegar à oficina e pedir a conta. Na véspera, ela e Margarida tinham refeito as contas e tomado a decisão definitiva.

Aquele seria o último dia em que trabalhariam naquela oficina.


O serviço acumulado que tinham pegado nos fins de semana, garantia-lhes mais do que o minguado salário que ambas recebiam no emprego durante o mês inteiro.


Na noite anterior, Nelson tinha ido buscá-la na casa de Margarida. Por causa do trabalho, ela não fora encontrar-se com ele no sábado, como de costume. Apesar de explicar-lhe suas razões, Nelson não se deu por satisfeito.


Não entendia como Jacira podia trocar um en­contro com ele para trabalhar.


- Não gostei de passar esse fim de semana so­zinho. Não fui na casa de mamãe ver minha filha só para sair com você. Estou gostando de você de ver­dade. Gostaria que me dissesse com sinceridade. Está querendo me dar o fora?


Jacira olhou-o surpreendida. Ela gostava de sair com ele. Sentia-se mais mulher. Era uma experiência nova, excitante, agradável. 

Como ele podia pensar uma coisa dessas?


- Você não está entendendo. Eu nunca tive uma oportunidade como estou tendo agora. Estou mudando minha vida, montando um negócio próprio. Para que dê certo, tenho que me dedicar. Amanhã vou pedir demissão da oficina.


Nelson meneou a cabeça pensativo:


- Pensou bem? Você, na sua idade, nunca traba­lhou por conta própria. Em minha profissão tenho visto muitas pessoas que fazem isso e acabam sem emprego e sem dinheiro. Não seria melhor continuar na oficina? Pelo menos tem a garantia do salário no fim do mês.


Jacira olhou-o como se o estivesse vendo pela pri­meira vez. Nunca Nelson lhe parecera tão insignificante. Tentou dissimular a decepção. Respondeu apenas:


- Estou disposta a tentar. Garanto que vou me dedicar ao máximo, trabalhar muito, fazer o meu me­lhor. É bom você saber que talvez daqui para a frente, pelo menos no início, não terei muito tempo livre.

- Não está querendo se livrar de mim? Jacira parou, olhou-o nos olhos e respondeu:

- Se eu não quisesse mais sair com você, pode estar certo de que lhe diria. Estou sendo sincera.

Durante o trajeto, pensou nas palavras de Nelson. Ela tinha imaginado que ele fosse louvar sua ousadia, desejar-lhe sucesso. As palavras dele a fizeram lem­brar-se de Geni.

Por um momento sentiu uma ponta de medo. Mas depois se lembrou das palavras de Ernesto, do entu­siasmo com que ele as auxiliara a estudar o projeto.

"Tenho de acreditar que eu posso! Ernesto é um cornem instruído, sabe o que diz. Não me estimularia se nós não tivéssemos condições de sermos bem sucedidas."

Deu de ombros e decidiu:

"Não vou dar ouvidos aos que me querem pôr para baixo".

O ônibus estava chegando ao ponto e ela desceu sentindo o entusiasmo voltar. Margarida a esperava na porta da oficina.

- E então? Decidida?

- Decidida. Vamos falar com seu Noel agora mesmo.

Elas entraram e foram à pequena sala onde o pa­trão estava sentado atrás de uma velha escrivaninha, em meio a alguns papéis. Vendo-as entrar, ele levantou os olhos.

Elas disseram um bom-dia, que ele nem se dignou a responder. 

Disse apenas:

- O que vocês querem?

- Nós viemos aqui para pedir demissão - disse Margarida.

Ele levantou-se, olhando-as admirado:
- Aconteceu alguma coisa?

-  Não. Nós decidimos deixar a oficina. Temos outro negócio - informou Margarida.

-  Já sei. O Michel lhes ofereceu um salário maior! Não se iludam com ele. Lá vocês não vão ter as rega­lias que têm aqui. Ele faz as moças pagarem todas as peças que estão com defeito.

-  Não se trata disso. Nós queremos sair para tra­balhar em um negócio nosso.

-  Você vai se meter de novo a ser modista? Não está satisfeita com o prejuízo que teve naquele ne­gócio e ainda vai arrastar sua colega?

-  Desta vez não vai ser igual. Eu sou uma boa Profissional.
 
-  Vamos fazer assim, vou dar-lhes uma semana Para refletir. Estou certo de que o bom senso vai fazê-las mudar de ideia. - E, fixando Jacira, ele continuou: - Sua mãe sabe que você vai deixar o emprego?


- Sabe sim. Estamos decididas, seu Noel. Hoje é nosso último dia de trabalho.

Ele olhou-as irritado e tornou:

- Está certo, então vou fazer as contas. Podem ir. Mas fiquem sabendo que de hoje em diante esta porta está fechada para vocês duas. Quando tudo der errado, não vai adiantar virem implorar o emprego de volta.

As duas, caladas, deixaram a sala. O sinal ainda não tinha tocado e elas sentaram-se à espera. Jacira comentou:

-   Por que será que as pessoas só pensam no mal? Só sabem valorizar o fracasso? Nós vamos vencer, Margarida. Você vai ver!

-   Isso mesmo. O que ele queria é que nós ficás­semos a vida inteira trabalhando para ele. Nós somos boas funcionárias e ele não quer nos perder.

-   É. Você é quem faz mais peças de roupas por dia, e não entrega nada com defeito!

-   E você é como eu. Ele ficou até vermelho de raiva porque vamos embora.

O sinal tocou e as duas acomodaram-se para trabalhar.

No fim do expediente, foram chamadas na sala do patrão, acertaram tudo e saíram.

-   Estou sentindo um friozinho no peito, mas também o prazer da liberdade - comentou Jacira sorrindo.

-   Eu também. Esse é um momento muito impor­tante em nossa vida.

-   Apesar de tudo, foi um dia difícil. Minha mãe quis impedir a todo custo que eu saísse da oficina. Sabe que ontem até o Nelson me aconselhou a conti­nuar no emprego e desistir do nosso negócio?

-   É mesmo? Que seu Noel desejasse nosso fra­casso eu até posso entender, mas sua mãe, o Nelson! Eles deveriam nos animar.

- Eu fiquei com muita raiva. Mas eles me deram motivos para trabalhar muito mais. Nós vamos mos­trar a eles que somos capazes de vencer!

-   Isso mesmo, Jacira! É por essa razão que eu posto de você! 

Juntas, seremos fortes e ninguém nem nada vai nos derrubar.

-   Isso mesmo. Amanhã bem cedo estarei em sua casa, vamos entrar firme no trabalho. A primeira coisa a fazer é abrirmos a empresa. Eu tinha pensado que o Nelson poderia nos ajudar nisso. 

Ele é contador for­mado. Mas depois do que ele me disse ontem, acho que devemos procurar outra pessoa.

-   Por quê?

-   Ele também não acredita em nós. O dr. Ernesto vai nos ajudar. Nele podemos confiar.

-   Está certo. Combinado. Amanhã cedo espero por você.

De volta do trabalho, no começo da noite, quando Jacira entrou em casa, encontrou Geni na sala, lendo uma fotonovela, como de costume. Vendo-a entrar, le­vantou-se e acompanhou-a até a cozinha.


A louça empilhada na pia, as panelas sobre o fogão. Sem dizer nada, Jacira começou a esquentar a comida.

Ela sabia que Geni estava com vontade de saber se ela tinha mesmo se demitido, mas continuou calada. Colocou a comida no prato: arroz, feijão e verdura.

Estava com fome, apanhou a frigideira, fritou um ovo enquanto Geni comentou:

- A carne acabou. Seu pai comeu o último pe­daço. Amanhã é dia de ir ao mercadinho fazer a des­pesa da semana.

- Não faz mal - respondeu Jacira resignada. Sentou-se para comer e Geni sentou-se do outro
lado da mesa. Como Jacira comia em silêncio, ela não se conteve e comentou:

- Naturalmente você estava brincando quando disse que ia se demitir da oficina. Queria só me assustar...

Jacira depositou o garfo no prato e respondeu calmamente:

- Eu disse a verdade. Hoje foi o meu último dia de  trabalho lá.

Geni levantou-se nervosa:

-  Então você se demitiu mesmo? Não pode ser! que será de nós? Amanhã mesmo você vai voltar lá dizer ao seu Noel que se arrependeu.

-  Amanhã vou começar a trabalhar em outr lugar. É melhor você se acostumar. Ficarei trabalhando até mais tarde. É bom você não deixar mais a louça do dia sem lavar.

-  Isso não é justo! Eu sou uma pessoa doente, nã posso fazer muito esforço. Como vai deixar todo o ser viço por minha conta? Já é difícil fazer a comida toda!

Jacira levantou-se, colocou o prato na pia, e respondeu:

-  Você se habituou a deixar o serviço da casa para mim. Mas isso não vai mais continuar assim. Daqui em diante, como já lhe disse, vou trabalhar por conta própria. Não terei horário e se tiver serviço é do meu interesse ficar até mais tarde. Portanto, não conte co­migo para o serviço da casa.

-  Isso não é direito. Você é nova e eu tive muito trabalho para criar os filhos. É justo que agora eu des­frute de mais conforto. Quer que além de cozinhar para você ainda limpe seu quarto, cuide de sua roupa? Você não é mais criança.

Não mesmo. Não precisa fazer nada para mim. Eu vou limpar meu quarto e cuidar de minhas roupas Mas você tem um marido para cuidar e saúde sufi­ciente para prover a necessidade de ambos. 

Se um dia eu puder, pagarei uma pessoa para ajudá-la. Mas, por enquanto, terão de cooperar fazendo a sua parte. Hoje ainda vou lavar a louça e deixar no escorredor   

-  para você guardar. Mas amanhã nem sei se virei para jantar. Portanto, não me espere.


Notando que Jacira estava determinada, Geni foi ter com Aristides, que assistia ao noticiário na tele­visão. Aproximou-se triste, sentou-se ao seu lado, e começou a chorar.

Surpreendido, ele perguntou:

- O que foi, mulher, aconteceu alguma coisa?

- Jacira está desempregada! O que faremos agora? O assunto era sério e Aristides olhou-a preocupado.

-  Ela teve coragem?

- Teve. Pediu demissão da oficina. Você precisa fazer alguma coisa! 

Eu tentei, mas ela disse que não vai voltar atrás. Está de cabeça virada. Acha que vai ganhar muito dinheiro. Está iludida. Prometeu até que um dia vai pagar alguém para ajudar no serviço da casa.

Aristides levantou-se. Precisava saberá verdade. Foi à cozinha e encontrou Jacira lavando a louça. Aproximou-se:

- Jacira, sua mãe me disse que você está de­sempregada.

Sem parar o que estava fazendo ela respondeu:

- Deixei a oficina, mas não estou desempregada. Só não tenho patrão.

Ele meneou a cabeça preocupado:

-  Como assim? Não estou entendendo.

-  É simples, pai. Vou abrir um negócio próprio com uma amiga.
-  Então é verdade? Você deixou um emprego com carteira assinada e todas as garantias para ir atrás da conversa de uma amiga?

-  Sei o que estou fazendo, pai. Nós começamos esse negócio faz alguns meses. Trabalhando juntas vamos ganhar muito mais do que ganhávamos na oficina. Já fizemos todas as contas. Vamos abrir uma empresa.

Aristides, assustado, passou a mão nos cabelos e argumentou:

- Até agora você só trabalhou com a orientação do patrão. Não tem profissão liberal. Não acha que está iludida? Você tem muita chance de fracassar. Eu tive dois colegas da fábrica que ao se aposentarem de­cidiram abrir um comércio e foi um horror. Perderam tudo! 

Ficaram até sem ter o que comer. Não fosse a ajuda dos parentes eles teriam morrido de fome.

Jacira respirou fundo e respondeu:

- Nós não somos eles, pai. Margarida tem pro­fissão, é uma boa profissional, eu estou aprendendo com ela. Vamos ganhar dinheiro, sim. Temos boas clientes que pagam pelo nosso trabalho. Está na hora de melhorarmos nossa vida.

- Mesmo a custa do sacrifício de sua mãe? Você vai deixar todo serviço da casa para ela. Acha que vale a pena?

Jacira sentiu brotar dentro de si uma onda de indignação. Olhou firme nos olhos dele e disse com voz firme:

- A cada dia que passa mamãe está ficando cada vez mais preguiçosa. Antes era mais disposta. Agora se cansa por qualquer coisa. A culpa é
nossa, minha e sua que sempre fizemos tudo para poupá-la. Se con­tinuarmos assim, ela vai acabar entrevada em uma cama, sem forças para nada. É isso o que quer?

Ele ia responder, mas Jacira não lhe deu tempo:

- Limpar uma casa, lavar uma roupa, uma louça, faz movimentar o corpo e melhora a cabeça. Enquanto a indolência amolece o corpo, debilita a saúde, favo­rece a depressão. Para dizer a verdade, não sei como você aguenta viver sem trabalhar, ficar sem fazer nada. Não é só pelo dinheiro, mas o trabalho, qual­quer que seja, dá dignidade, faz com que a pessoa se sinta viva e útil.

Aristides baixou os olhos impressionado com as palavras dela. Jacira nunca fora tão firme, embora surpreendido ele reconhecia que ela estava falando a verdade.

Recordou-se de como se sentia orgulhoso quando trabalhava na fábrica. Naquele tempo sentia-se mais alegre, mais feliz. Recordou-se também, que antes Geni era mais caprichosa, arrumava-se melhor, era até mais cheirosa. Nos últimos tempos, tornara-se mais lamuriosa, menos asseada. Seus cabelos tinham perdido o brilho, e seus olhos se tornado apagados.

Todos esses pensamentos passaram rapidamente pela sua mente e ele tentou justificar-se:

- Eu não estou desempregado porque quero. Não sou preguiçoso. Você sabe muito bem o que aconteceu.

-   Não o estou criticando. Mas sinto que se nós não mudarmos, nossa vida vai ficando cada vez pior.

Jacira enxugou a mão e colocou-a no braço do pai dizendo:

- Pai, venha, sente-se, vamos conversar. Ele obedeceu e ela continuou:

-   Eu tenho quase trinta e nove anos e minha vida tem sido só trabalhar e viver contando as moedas. Um dia conheci um professor que me convidou para as­sistir suas aulas. Sabendo que não poderia pagar, ele me deu uma bolsa. Recebeu-me no meio de pessoas muito finas, de classe, que são seus alunos. Foi ele quem me fez entender que todos temos dentro de nós condições de mudar nossa vida para melhor. Mas para isso temos que acreditar que somos capazes.

-   Foi isso que fez você mudar! Parece que ficou mais nova, mais bonita!

-   Ele me ensinou que quando não estamos fe­lizes, temos que perceber que tipo de crenças temos. Como nos vemos. Ele diz que conforme pensamos, fa­zemos as escolhas e, de acordo com elas, colhemos os resultados. Quem acredita que não tem capacidade, que nunca vai ter chance de melhorar, só pensa no mal, só vai atrair o mal.

-   Será? Nesse caso sua mãe nunca conseguirá nada!

-   Enquanto ela continuar assim. Mas se ela mudar sua maneira de enxergar, acreditar que merece ser mais feliz, começará a atrair coisas boas.

Aristides meneou a cabeça negativamente di­zendo:


-   É tão fácil assim? Não pode ser. Tudo de bom nesta vida só se consegue com muita luta e sacrifício. Nada vem de graça neste mundo.


-   Nada vem de graça mesmo. Cada um terá de fazer a sua parte, esforçar-se para melhorar seus pen­samentos, acreditar no bem. Esse é o preço que a vida exige e teremos de pagar para conquistar progresso. E eu, pai, acredito nisso. Vou progredir, ganhar mais, ter uma vida melhor. Estou me esforçando para melhorar nossa vida. Entende?

Os olhos de Aristides brilharam emocionados quando respondeu:

- Você está certa. Amanhã mesmo vou procurar o seu José da oficina e ver se ele ainda precisa de um ajudante. Também quero fazer alguma coisa para me­lhorar nossa vida.

Jacira levantou-se e deu um beijo no rosto do pai:

- Faça isso, pai. Obrigada por ter me apoiado. Estou certa de que vamos conseguir.

Geni ficara escondida atrás da porta escutando a conversa. Sentia-se assustada. Jacira teria alguma chance de conseguir uma vida melhor? Ela falava com tanta segurança!

Naquele momento pareceu-lhe ouvir uma voz que indagava:
- E se ela estiver errada? Como uma mulher sem profissão, sem muita instrução, pode se tornar uma empresária?

Torceu as mãos angustiada. Os tempos tinham mu­dado. O mundo estava cheio de perigos e armadilhas. Jacira estava sendo ingênua, ignorante, iludindo-se.

Algumas lágrimas apareceram. Ela tinha horror de ficar na miséria.

 Sua vida sempre fora difícil. Mesmo quando era mais jovem. 

Aristides ganhava bem, mas a família era grande e ele não pensou em economizar para o futuro.

A aposentadoria dele era insuficiente para sus­tentar as despesas. 

Geni sempre se preocupara com a velhice, temia ficar doente. A qualquer indisposição ia para a cama assustada.

O salário de Jacira era uma garantia de que não lhe faltaria o necessário. Por esse motivo, desde que ela era pequena evitara que tivesse amigas. Desde a ado­lescência dela, exigira que se vestisse, se comportasse de maneira a não chamar a atenção dos rapazes.

Quando tudo parecia estar do jeito que ela queria, eis que Jacira se juntara com essa colega, ficara vaidosa, passara a usar vestidos mais curtos e agarrados, até usava pintura e mudara o corte dos cabelos.

Geni enxugou os olhos e pensou:

"Preciso reagir. Jacira tem que mudar de ideia. Amanhã cedo não vou me levantar. Ficarei na cama para mostrar que estou doente. Ela vai se arrepender de me desobedecer."

Vendo que o marido tinha encerrado a conversa com Jacira, correu e sentou-se no sofá da sala. Aristides chegou segundos depois e acomodou-se ao lado dela.

-  Você viu que desgraça? - começou ela com voz triste.


-  Pare com isso, Geni. Jacira não é criança. Ela quer melhorar nossa vida. Vamos torcer para que dê certo.


-  Você acredita nisso? Acha que uma moça pobre e sem experiência de vida como ela pode se tornar uma empresária? Onde está com a cabeça?


Aristides fixou-a irritado e respondeu:


-  Pare com isso, mulher! Você só sabe acreditar em desgraças. Pois eu senti que ela sabe o que quer e tem muita chance de conseguir.


-  De onde você tirou isso? Está na cara que não vai dar certo.


-  Guarde sua opinião para si. Você só pensa no mal. Estou começando a notar que essa sua maneira de pensar é que tem atrapalhado nossa vida. Eu vou apoiar Jacira e quero também fazer alguma coisa para melhorar.


-  Ela disse que de amanhã em diante não vai mais fazer o serviço da casa. Vai deixar tudo para mim. Se você quer mesmo fazer alguma coisa, então assuma o trabalho da casa. Eu estou cansada, doente, e com mais este golpe posso ficar pior.


Ele olhou-a admirado, depois respondeu:


- Nada disso. Essa será a sua parte. Se o seu José ainda precisar de um ajudante, vou aceitar. Senão, vou sair em busca de algo para fazer. Chega de ficar dia todo parado, sem fazer nada. Geni levantou-se nervosa:


- Você agora ficou do lado dela, contra mim Nunca pensei que depois de tantos anos juntos, d criar três filhos com dedicação e carinho, fosse acaba minha vida sozinha, abandonada, tendo que arca com o peso de todo serviço desta casa. Vocês também moram aqui. Precisam ajudar. Não podem tirar o corpo e sair por aí.


Aristides olhou-a sério. Franziu o cenho e respondeu:


- Você faria melhor se cooperasse. Não está tão velha, nem doente e pode cuidar da casa, sim. Estamos todos juntos aqui, mas tanto eu quanto Jacira, vamos arranjar dinheiro para dar mais conforto para você também. E chega de reclamar. Vou assistir à te­levisão em paz e não quero ouvir nem mais um piu.


Geni percebeu que ele estava falando sério. H' muito tempo ele não assumia essa atitude de comando. Sentiu que o melhor seria não insistir. Iria deitar-se e pensar em um jeito de reverter a situação.