A segunda-feira amanheceu chuvosa e Jacira apressou-se. O ônibus estava cheio, ela viajou em pé, o cheiro úmido em razão da chuva, que caíra durante toda a noite, e da falta de higiene, era desagradável. Mas Jacira não se importou. Nem a fisionomia fechada das pessoas foi capaz de deixá-la para baixo.
Não
via hora de chegar à oficina e pedir a conta. Na véspera, ela e Margarida
tinham refeito as contas e tomado a decisão definitiva.
Aquele seria o último
dia em que trabalhariam naquela oficina.
O
serviço acumulado que tinham pegado nos fins de semana, garantia-lhes mais do
que o minguado salário que ambas recebiam no emprego durante o mês inteiro.
Na
noite anterior, Nelson tinha ido buscá-la na casa de Margarida. Por causa do
trabalho, ela não fora encontrar-se com ele no sábado, como de costume. Apesar
de explicar-lhe suas razões, Nelson não se deu por satisfeito.
Não
entendia como Jacira podia trocar um encontro com ele para trabalhar.
- Não
gostei de passar esse fim de semana sozinho. Não fui na casa de mamãe ver minha
filha só para sair com você. Estou gostando de você de verdade. Gostaria que
me dissesse com sinceridade. Está querendo me dar o fora?
Jacira
olhou-o surpreendida. Ela gostava de sair com ele. Sentia-se mais mulher. Era
uma experiência nova, excitante, agradável.
Como ele podia pensar uma coisa
dessas?
- Você não está entendendo. Eu
nunca tive uma oportunidade como estou tendo agora. Estou mudando minha vida,
montando um negócio próprio. Para que dê certo, tenho que me dedicar. Amanhã
vou pedir demissão da oficina.
Nelson
meneou a
cabeça pensativo:
- Pensou bem? Você, na sua
idade, nunca trabalhou por conta própria. Em minha profissão tenho visto
muitas pessoas que fazem isso e acabam sem emprego e sem dinheiro. Não seria
melhor continuar na oficina? Pelo menos tem a garantia do salário no fim do
mês.
Jacira
olhou-o como se o estivesse vendo pela primeira vez. Nunca Nelson lhe parecera
tão insignificante. Tentou dissimular a decepção. Respondeu apenas:
- Estou
disposta a tentar. Garanto que vou me dedicar ao máximo, trabalhar muito, fazer
o meu melhor. É bom você saber que talvez daqui para a frente, pelo menos no
início, não terei muito tempo livre.
- Não
está querendo se livrar de mim? Jacira parou, olhou-o nos olhos e respondeu:
- Se
eu não quisesse mais sair com você, pode estar certo de que lhe diria. Estou
sendo sincera.
Durante
o trajeto, pensou nas palavras de Nelson. Ela tinha imaginado que ele fosse
louvar sua ousadia, desejar-lhe sucesso. As palavras dele a fizeram lembrar-se
de Geni.
Por
um momento sentiu uma ponta de medo. Mas depois se lembrou das palavras de
Ernesto, do entusiasmo com que ele as auxiliara a estudar o projeto.
"Tenho de acreditar
que eu posso! Ernesto é um cornem instruído, sabe o que diz. Não me estimularia
se nós não tivéssemos condições de sermos bem sucedidas."
Deu de ombros e decidiu:
"Não vou dar ouvidos
aos que me querem pôr para baixo".
O ônibus estava chegando ao ponto e ela desceu sentindo o
entusiasmo voltar. Margarida a esperava na porta da oficina.
- E então? Decidida?
- Decidida. Vamos falar com seu Noel agora mesmo.
Elas entraram e foram à
pequena sala onde o patrão estava sentado atrás de uma velha escrivaninha, em
meio a alguns papéis. Vendo-as
entrar,
ele levantou os olhos.
Elas disseram um bom-dia,
que ele nem se dignou a responder.
Disse apenas:
- O que vocês querem?
- Nós viemos aqui para pedir demissão - disse Margarida.
Ele levantou-se, olhando-as admirado:
- Aconteceu alguma coisa?
- Não. Nós decidimos deixar
a oficina. Temos outro negócio - informou Margarida.
- Já sei. O Michel lhes
ofereceu um salário maior! Não se iludam com ele. Lá vocês não vão ter as regalias
que têm aqui. Ele faz as moças pagarem todas as peças que estão com defeito.
- Não se trata disso. Nós
queremos sair para trabalhar em um negócio nosso.
- Você vai se meter de novo
a ser modista? Não está satisfeita com o prejuízo que teve naquele negócio e
ainda vai arrastar sua colega?
- Desta vez não vai ser
igual. Eu sou uma boa Profissional.
- Vamos fazer assim, vou dar-lhes uma semana Para refletir. Estou certo de que o bom senso vai fazê-las mudar de ideia. - E, fixando Jacira, ele
continuou: - Sua mãe sabe que você vai deixar o emprego?
- Sabe
sim. Estamos decididas, seu Noel. Hoje é nosso último dia de
trabalho.
Ele
olhou-as irritado e tornou:
- Está certo, então vou fazer
as contas. Podem ir. Mas fiquem sabendo que de hoje em diante esta porta está
fechada para vocês duas. Quando tudo der errado, não vai adiantar virem
implorar o emprego de volta.
As duas, caladas, deixaram a sala. O sinal ainda
não tinha tocado e elas sentaram-se à espera. Jacira comentou:
- Por
que será que as pessoas só pensam no mal? Só sabem valorizar o fracasso? Nós
vamos vencer, Margarida. Você vai ver!
- Isso
mesmo. O que ele queria é que nós ficássemos a vida inteira trabalhando para
ele. Nós somos boas funcionárias e ele não quer nos perder.
- É.
Você é quem faz mais peças de roupas por dia, e não entrega nada com defeito!
- E
você é como eu. Ele ficou até vermelho de raiva porque vamos embora.
O sinal tocou e as duas acomodaram-se para
trabalhar.
No fim do expediente, foram chamadas na sala
do patrão, acertaram tudo e saíram.
- Estou
sentindo um friozinho
no peito, mas também o prazer da liberdade - comentou Jacira sorrindo.
- Eu
também. Esse é um momento muito importante em nossa vida.
- Apesar
de tudo, foi um dia difícil. Minha mãe quis impedir a todo custo que eu saísse
da oficina. Sabe que ontem até o Nelson me aconselhou a continuar no emprego e
desistir do nosso negócio?
- É
mesmo? Que seu Noel desejasse nosso fracasso eu até posso entender, mas
sua mãe, o Nelson! Eles deveriam nos animar.
- Eu
fiquei com muita raiva. Mas eles me deram motivos para trabalhar muito mais.
Nós vamos mostrar a eles que somos capazes de vencer!
- Isso
mesmo, Jacira! É por essa razão que eu posto de você!
Juntas, seremos fortes e
ninguém nem nada vai nos derrubar.
- Isso
mesmo. Amanhã bem cedo estarei em sua casa, vamos entrar firme no trabalho. A
primeira coisa a fazer é abrirmos a empresa. Eu tinha pensado que o Nelson
poderia nos ajudar nisso.
Ele é contador formado. Mas depois do que ele me
disse ontem, acho que devemos procurar outra pessoa.
- Por
quê?
- Ele
também não acredita em nós. O dr. Ernesto vai nos ajudar. Nele podemos confiar.
- Está
certo. Combinado. Amanhã cedo espero por você.
De
volta do trabalho, no começo da noite, quando Jacira entrou em casa, encontrou Geni na sala, lendo uma fotonovela, como de costume. Vendo-a
entrar, levantou-se e acompanhou-a até a cozinha.
A
louça empilhada na pia, as panelas sobre o fogão. Sem dizer nada, Jacira começou
a esquentar a comida.
Ela
sabia que Geni estava
com vontade de saber se ela tinha mesmo se demitido, mas continuou calada.
Colocou a comida no prato: arroz, feijão e verdura.
Estava
com fome, apanhou a frigideira,
fritou um ovo enquanto Geni comentou:
- A carne acabou. Seu pai
comeu o último pedaço. Amanhã é dia de ir ao mercadinho fazer a despesa da
semana.
- Não
faz mal - respondeu Jacira resignada. Sentou-se para comer e Geni sentou-se do outro
lado
da mesa. Como Jacira comia em silêncio, ela não se conteve e comentou:
- Naturalmente
você estava brincando quando disse que ia se demitir da oficina. Queria só me
assustar...
Jacira
depositou o garfo no prato e respondeu calmamente:
- Eu
disse a verdade. Hoje foi o meu último dia de trabalho lá.
Geni levantou-se nervosa:
- Então você se demitiu
mesmo? Não pode ser! que será de nós? Amanhã mesmo você vai voltar lá dizer ao seu Noel que se arrependeu.
- Amanhã vou começar a
trabalhar em outr lugar. É melhor você se acostumar. Ficarei trabalhando até
mais tarde. É bom você não deixar mais a louça do dia sem lavar.
- Isso não é justo! Eu sou
uma pessoa doente, nã posso fazer muito esforço. Como vai deixar todo o ser
viço por minha conta? Já é difícil fazer a comida toda!
Jacira levantou-se, colocou o prato na pia, e respondeu:
- Você se habituou a deixar
o serviço da casa para mim. Mas isso não vai mais continuar assim. Daqui em
diante, como já lhe disse, vou trabalhar por conta própria. Não terei horário e
se tiver serviço é do meu interesse ficar até mais tarde. Portanto, não conte
comigo para o serviço da casa.
- Isso não é direito. Você é
nova e eu tive muito trabalho para criar os filhos. É justo que agora eu desfrute
de mais conforto. Quer que além de cozinhar para você ainda limpe seu quarto,
cuide de sua roupa? Você não é mais criança.
Se um dia eu puder, pagarei uma pessoa para ajudá-la. Mas, por enquanto, terão
de cooperar fazendo a sua parte. Hoje ainda vou lavar a louça e deixar no
escorredor
- para você guardar. Mas
amanhã nem sei se virei para jantar. Portanto, não me espere.
Notando que Jacira estava
determinada, Geni foi ter com Aristides, que assistia ao noticiário na televisão.
Aproximou-se triste, sentou-se ao seu lado, e começou a chorar.
Surpreendido, ele
perguntou:
- O que foi, mulher, aconteceu alguma coisa?
- Jacira está desempregada!
O que faremos agora? O assunto era sério e Aristides olhou-a preocupado.
- Ela teve coragem?
- Teve. Pediu demissão da oficina. Você precisa
fazer alguma coisa!
Eu tentei, mas ela disse que não vai voltar atrás. Está de
cabeça virada. Acha que vai ganhar muito dinheiro. Está iludida. Prometeu até
que um dia vai pagar alguém para ajudar no serviço da casa.
Aristides levantou-se. Precisava saberá verdade. Foi à cozinha e encontrou
Jacira lavando a louça. Aproximou-se:
- Jacira, sua mãe me disse que você está desempregada.
Sem parar o que estava
fazendo ela respondeu:
- Deixei a oficina, mas não estou desempregada. Só
não tenho patrão.
Ele meneou a cabeça
preocupado:
- Como assim? Não estou
entendendo.
- É simples, pai. Vou abrir
um negócio próprio com uma amiga.
- Então é verdade? Você
deixou um emprego com carteira assinada e todas as garantias para ir atrás da
conversa de uma amiga?
- Sei o que estou fazendo,
pai. Nós começamos esse negócio faz alguns meses. Trabalhando juntas vamos
ganhar muito mais do que ganhávamos na oficina. Já fizemos todas as contas.
Vamos abrir uma empresa.
Aristides, assustado, passou a mão nos cabelos e
argumentou:
- Até agora você só trabalhou com a orientação do patrão. Não tem profissão
liberal. Não acha que está iludida? Você tem muita chance de fracassar. Eu tive
dois colegas da fábrica que ao se aposentarem decidiram abrir um comércio e
foi um horror. Perderam tudo!
Ficaram até sem ter o que comer. Não fosse a
ajuda dos parentes eles teriam morrido de fome.
Jacira respirou fundo e
respondeu:
- Nós não somos eles, pai. Margarida tem profissão,
é uma boa profissional, eu estou aprendendo com
ela. Vamos ganhar dinheiro, sim. Temos boas clientes que pagam pelo nosso
trabalho. Está na hora de melhorarmos nossa vida.
- Mesmo
a custa do sacrifício de sua mãe? Você vai deixar todo serviço da casa para
ela. Acha que vale a pena?
Jacira
sentiu brotar dentro de si uma onda de indignação. Olhou firme nos olhos dele e
disse com voz firme:
nossa,
minha e sua que sempre fizemos tudo para poupá-la. Se continuarmos assim, ela
vai acabar entrevada
em uma cama, sem forças para nada. É isso o que quer?
Ele
ia responder, mas Jacira não lhe deu tempo:
- Limpar
uma casa, lavar uma roupa, uma louça, faz movimentar o corpo e melhora a
cabeça. Enquanto a indolência amolece o corpo, debilita a saúde, favorece a depressão.
Para dizer a verdade, não sei como você aguenta viver sem trabalhar, ficar sem fazer nada. Não é só
pelo dinheiro, mas o trabalho, qualquer que seja, dá dignidade, faz com que a
pessoa se sinta viva e útil.
Aristides baixou os olhos impressionado com as palavras dela.
Jacira nunca fora tão firme, embora surpreendido ele reconhecia que ela estava
falando a verdade.
Recordou-se de como se sentia orgulhoso
quando trabalhava na fábrica. Naquele tempo sentia-se mais alegre, mais feliz.
Recordou-se também, que antes Geni era mais caprichosa, arrumava-se melhor, era até
mais cheirosa. Nos últimos tempos, tornara-se mais lamuriosa, menos asseada. Seus cabelos tinham perdido
o brilho, e seus olhos se tornado apagados.
Todos
esses pensamentos passaram rapidamente pela sua mente e ele tentou
justificar-se:
- Eu
não estou desempregado porque quero. Não sou preguiçoso. Você sabe muito bem o
que aconteceu.
- Não
o estou criticando. Mas sinto que se nós não mudarmos, nossa vida vai ficando
cada vez pior.
Jacira
enxugou a mão e colocou-a no braço do pai dizendo:
- Pai,
venha, sente-se, vamos conversar. Ele obedeceu e ela continuou:
- Eu
tenho quase trinta e nove anos e minha vida tem sido só trabalhar e viver
contando as moedas. Um dia conheci um professor que me convidou para assistir
suas aulas. Sabendo que não poderia pagar, ele me deu uma bolsa. Recebeu-me no
meio de pessoas muito finas, de classe, que são seus alunos. Foi ele quem me
fez entender que todos temos dentro de nós condições de mudar nossa vida para
melhor. Mas para isso temos que acreditar que somos capazes.
- Foi
isso que fez você mudar! Parece que ficou mais nova, mais bonita!
- Ele
me ensinou que quando não estamos felizes, temos que perceber que tipo de
crenças temos. Como nos vemos. Ele diz que conforme pensamos, fazemos as
escolhas e, de acordo com elas, colhemos os resultados. Quem acredita que não
tem capacidade, que nunca vai ter chance de melhorar, só pensa no mal, só vai
atrair o mal.
- Será?
Nesse caso sua mãe nunca conseguirá nada!
- Enquanto
ela continuar assim. Mas se ela mudar sua maneira de enxergar, acreditar que
merece ser mais feliz, começará a atrair coisas boas.
Aristides meneou a cabeça negativamente dizendo:
- É
tão fácil assim? Não pode ser. Tudo de bom nesta vida só se consegue com muita
luta e sacrifício. Nada vem de graça neste mundo.
- Nada
vem de graça mesmo. Cada um terá de fazer a sua parte, esforçar-se para
melhorar seus pensamentos, acreditar no bem. Esse é o preço que a vida exige e teremos de pagar
para conquistar progresso. E eu, pai, acredito nisso. Vou progredir, ganhar
mais, ter uma vida melhor. Estou me esforçando para melhorar nossa vida.
Entende?
Os olhos de Aristides brilharam emocionados quando
respondeu:
- Você está certa. Amanhã mesmo vou procurar o seu José da oficina e ver se ele ainda precisa de um ajudante. Também quero
fazer alguma coisa para melhorar nossa vida.
Jacira levantou-se e deu um beijo no rosto do pai:
- Faça isso, pai. Obrigada por ter me apoiado. Estou
certa de que vamos conseguir.
Geni ficara escondida atrás da porta escutando a
conversa. Sentia-se assustada. Jacira teria
alguma chance de conseguir uma vida melhor? Ela falava com tanta segurança!
Naquele momento pareceu-lhe ouvir uma voz que indagava:
- E se ela estiver errada? Como uma mulher sem
profissão, sem muita instrução, pode se tornar uma empresária?
Torceu as mãos angustiada.
Os tempos tinham mudado. O mundo estava cheio de perigos e armadilhas. Jacira
estava sendo ingênua, ignorante, iludindo-se.
Algumas lágrimas
apareceram. Ela tinha horror de ficar na miséria.
Sua vida sempre fora difícil.
Mesmo quando era mais jovem.
Aristides ganhava bem, mas a família era grande e
ele não pensou em economizar para o futuro.
A aposentadoria dele era
insuficiente para sustentar as despesas.
Geni sempre se preocupara com a
velhice, temia ficar doente. A qualquer indisposição ia para a cama assustada.
O salário de Jacira era
uma garantia de que não lhe faltaria o necessário. Por esse motivo, desde que
ela era pequena evitara que tivesse amigas. Desde a adolescência dela, exigira
que se vestisse, se comportasse de maneira a não chamar a atenção dos rapazes.
Quando tudo parecia estar
do jeito que ela queria, eis que Jacira se juntara com essa colega, ficara
vaidosa, passara a usar vestidos mais curtos e agarrados, até usava pintura e
mudara o corte dos cabelos.
Geni enxugou os olhos e
pensou:
"Preciso reagir.
Jacira tem que mudar de ideia. Amanhã cedo não vou me levantar. Ficarei na cama
para mostrar que estou doente. Ela vai se arrepender de me desobedecer."
Vendo que o marido tinha
encerrado a conversa com Jacira, correu e sentou-se no sofá da sala. Aristides chegou segundos depois e
acomodou-se ao lado dela.
- Você viu que desgraça? - começou ela com voz triste.
- Pare com isso, Geni.
Jacira não é criança. Ela quer melhorar nossa vida. Vamos torcer para que dê
certo.
- Você acredita nisso? Acha
que uma moça pobre e sem experiência de vida como ela pode se tornar uma
empresária? Onde está com a cabeça?
Aristides fixou-a irritado e respondeu:
- Pare com isso, mulher!
Você só sabe acreditar em desgraças. Pois eu senti que ela sabe o que quer e
tem muita chance de conseguir.
- De onde você tirou isso?
Está na cara que não vai dar certo.
- Guarde sua opinião para
si. Você só pensa no mal. Estou começando a notar que essa sua maneira de
pensar é que tem atrapalhado nossa vida. Eu vou apoiar Jacira e quero também
fazer alguma coisa para melhorar.
- Ela disse que de amanhã em
diante não vai mais fazer o serviço da casa. Vai deixar tudo para mim. Se você
quer mesmo fazer alguma coisa, então assuma o trabalho da casa. Eu estou
cansada, doente, e com mais este golpe posso ficar pior.
Ele olhou-a admirado, depois respondeu:
- Nada disso. Essa será a sua parte. Se o seu José ainda precisar de um ajudante, vou aceitar. Senão, vou
sair em busca de algo para fazer. Chega de ficar dia todo parado, sem fazer
nada. Geni levantou-se
nervosa:
- Você agora ficou do lado
dela, contra mim Nunca pensei que depois de tantos anos juntos, d criar três
filhos com dedicação e carinho, fosse acaba minha vida sozinha, abandonada,
tendo que arca com o peso de todo serviço desta casa. Vocês também moram aqui.
Precisam ajudar. Não podem tirar o corpo e sair por aí.
Aristides olhou-a
sério. Franziu o cenho e
respondeu:
- Você
faria melhor se cooperasse. Não está tão velha, nem doente e pode cuidar da
casa, sim. Estamos todos juntos aqui, mas tanto eu quanto Jacira, vamos
arranjar dinheiro para dar mais conforto para você também. E chega de reclamar.
Vou assistir à televisão em paz e não quero ouvir nem mais um piu.
Geni percebeu
que ele estava falando sério. H' muito
tempo ele não assumia essa atitude de comando. Sentiu que o melhor seria não
insistir. Iria deitar-se e pensar em um jeito de reverter a situação.
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