A partir dessa noite a vida de Jacira mudou radicalmente. Durante o dia trabalhava na oficina com Margarida, nos fins de semana ia para a casa dela costurar, e, dia sim, dia não, encontrava-se com Nelson, às vezes indo ao cinema, outras dando algumas voltas pelas redondezas e sentando-se na praça para conversar.
Fazia
dois meses que ela não ia às aulas de Ernesto Vilares, por causa do trabalho
na casa de Margarida. Sentia falta daqueles encontros agradáveis, das coisas
que aprendia todas às vezes que ia lá. Mas a cada dia mais freguesas apareciam
e elas, entusiasmadas, aceitavam mais encargos.
Em
um sábado, quando Jacira chegou na casa da amiga para trabalhar, ela disse-lhe
contente:
-
Estou pensando em deixar a oficina. A cada dia estamos tendo mais encomendas.
Continuando na oficina, estamos deixando de ganhar muito mais. Se eu trabalhar
aqui o dia inteiro, será mais lucrativo, sem falar do prazer que sinto em ter
novamente um negócio próprio. Não quer fazer o mesmo?
Jacira
assustou-se:
- Deixar
o emprego?
- Nós
duas iremos longe. Você me ajuda nas contas e na costura como até agora.
Jacira
ficou pensativa. Nada
iria lhe dar mais prazer do que deixar aquela oficina. Mas se o fizesse,
ganharia o suficiente para sustentar a família?
- Você
acha que seria vantagem?
- Penso
que sim. Mas você, que é boa nas contas, vai calcular tudo e saberemos.
Jacira sentou-se com o caderno onde desde o
início anotava cada roupa confeccionada, as despesas e o tempo gasto e começou
a calcular o quanto ganharam naqueles meses. Como o dinheiro entrava picado,
Margarida dava-lhe uma parte do lucro. Como era um dinheiro extra, com ele
Jacira comprara coisas pessoais.
Somando o quanto tinha recebido nesse
período, surpreendeu-se. Mesmo trabalhando apenas nos fins de semana, elas
tinham tirado mais do que recebiam na oficina. Quanto ganhariam trabalhando
todos os dias?
Jacira pensou durante alguns minutos, depois
decidiu:
- Hoje
no fim da tarde vamos juntas até a casa do dr. Ernesto. É uma pessoa em quem eu
confio muito. Antes de tomar essa decisão, vamos ouvir o que ele tem a nos
dizer.
- Não
podemos atrasar o serviço. Temos o vestido da d. Alice para entregar daqui a
três dias.
- Não
faz mal. Eu fico até mais tarde.
- Está
bem. Eu também gostaria de conhecer esse seu amigo famoso.
Elas
deixaram Marinho com uma vizinha e saíram. Alguns minutos antes das dezessete
horas, entraram na casa de Ernesto, exatamente quando as pessoas estavam saindo
da sala de cursos.
Algumas
pararam para cumprimentar Jacira e Margarida adorou ser apresentada àquelas
pessoas simpáticas e alegres. Ernesto estava conversando com alguns alunos e
Jacira esperou que ele terminasse e viesse ao seu encontro:
- Como
vai, Jacira? Sentimos sua falta, hoje eu pensei muito em você.
- Eu
também senti falta das aulas. Esta é minha amiga Margarida.
Ernesto
estendeu a mão sorrindo:
- Como vai? Jacira fala muito
em você.
- E no
senhor também. Suas aulas muito a têm ajudado.
- Nós estamos
aqui porque precisamos tomar uma decisão importante e gostaríamos de ouvir a
sua opinião - tornou Jacira.
- Nesse
caso, vamos tomar um café e conversar. Elas, satisfeitas, acompanharam-no e
depois de
ele
explicar para Margarida em breves palavras seus objetivos naquele espaço,
finalizou:
- Agora,
podem falar. No que lhes posso ser útil? Jacira falou dos seus projetos, de
como o volume
de
trabalho estava crescendo, e finalizou:
- Nós
pensamos que está na hora de deixarmos o emprego na oficina e nos dedicarmos
exclusivamente ao nosso negócio.
Margarida
interveio:
- Devo
esclarecer que eu já tive um ateliê antes, mas fracassei porque não sou boa nas
contas. Freguesas nunca faltaram, mas eu não avaliava bem o trabalho, tinha
vergonha de cobrar e fazia tudo barato.
- Se
você pretende abrir novamente seu negócio, o primeiro passo é valorizar seu
trabalho. Quando você não valoriza adequadamente o que faz, acaba cortando seu
sucesso. Para progredir terá de colocar um preço justo, onde você possa ter
dinheiro suficiente para manter uma vida confortável, com tudo o que tem
direito.
As
duas olharam admiradas, e Margarida argumentou:
mercenária.
Queria provar que eu era uma boa pessoa e não ligava para dinheiro.
- O
dinheiro não é culpado pelo mau uso que alguns fazem dele.
Quando bem utilizado
pode proporcionar coisas muito boas. É o caso das grandes fortunas que se
interessam em contribuir para a melhora da sociedade, auxiliando nas pesquisas
que aliviam o sofrimento humano, dando oportunidade de emprego para as
pessoas, possibilitando as grandes conquistas de progresso.
- Olhando
dessa forma... - tornou Margarida admirada.
- A
vida nos dá tudo o que precisamos para desfrutar uma existência útil, rica e
feliz. Saúde, inteligência, oportunidades para nosso desenvolvimento em todas
as áreas, mas os resultados dependem do uso que fazemos, e serão bons se
escolhermos o melhor.
- Eu
queria melhorar, fiz o meu melhor, mas ainda assim não tive sorte.
- Você
fez o que pensou ser o melhor. Mas enganou-se na avaliação. É comum acontecer
isso. Mas não é uma questão de sorte.
- Como
não? - questionou Margarida. - Sou uma pessoa honesta, trabalhadora, não
exploro ninguém, tenho certeza de que sou boa profissional. As pessoas gostam
do meu trabalho. O que me falta?
Ernesto
sorriu, pensou um pouco, e respondeu:
- Você
tem tudo para conseguir sucesso profissional. O que lhe falta é apenas
conhecer como a vida funciona.
- Como
assim?
- A maneira como vemos as
coisas, nossa forma de pensar, é que determinam nossas atitudes e elas é que
movem os fatos em nossa vida.
Margarida
meneou a
cabeça negativamente franzindo o cenho e considerou:
- Não
estou entendendo.
- É
simples - respondeu Ernesto. - Para que as coisas aconteçam do jeito que você
quer, terá de aprender como lidar com as energias de maneira adequada. Você não
vai conseguir ter sucesso em seus negócios tendo vergonha de cobrar pelo seu
trabalho. Você está oferecendo um trabalho bom, que custou seu esforço e merece
obter alguma coisa em
troca. Isso não quer dizer que você esteja sendo mercenária.
A troca é muito justa.
- É verdade,
Margarida - interveio Jacira. - As pessoas gostam do que você faz e estão
sempre querendo mais.
- O
que eu não entendo é como esse fato pode fazer com que meu ateliê tenha
fracassado.
- O
pensamento no qual acreditamos tem muita força. Se ele é verdadeiro, positivo,
leva-nos ao sucesso, se negativo, empurra-nos para o fracasso. Nós somos
responsáveis por tudo quanto nos acontece nesta vida.
- Neste
caso, além de ter boa contabilidade, teremos de aprender a pensar do jeito
certo - tornou Margarida.
- Isso
mesmo. Depois que assisti a algumas aulas aqui, minha vida mudou muito -
considerou Jacira.
- Vocês
podem continuar vindo às aulas aos sábados como minhas convidadas. Eu gostaria
de trocar ideias com
vocês e contribuir de alguma forma com seus projetos. Podem contar comigo.
Agora eu gostaria de saber como pretendem iniciar o empreendimento.
Margarida explicou o que estavam fazendo, os
resultados positivos que alcançaram e a vontade de deixar o emprego e trabalhar
por conta própria.
Depois,
Jacira perguntou:
- Devemos
deixar a oficina ou continuamos mais algum tempo como estamos?
- Vocês
fizeram as contas e não há dúvida de que é melhor começar já.
Jacira
olhou para Margarida e seus olhos brilhavam:
- Então,
vamos deixar a oficina?
- Vamos!
Desta vez tudo vai dar certo.
Ernesto aconselhou-as a procurar um escritório de contabilidade para
abrir uma empresa, colocando-se
à
disposição para auxiliá-las em tudo e acompanhar o desenrolar das atividades.
Depois de combinarem todos os detalhes, as duas
radiantes, deixaram a casa de Ernesto e voltaram para a casa de Margarida bem
animadas.
Para adiantar o serviço, Jacira ficou trabalhando
até mais tarde. Eram mais de onze e meia quando ela entrou em casa.
As luzes estavam apagadas
e ela ficou aliviada. Seus pais deveriam estar dormindo e assim não teria de
suportar as costumeiras reclamações da mãe que não se conformava com suas novas
atitudes.
Sentiu sede e foi à
cozinha. Quando tomava água, Geni apareceu, de camisola, dizendo nervosa:
- Finalmente chegou! Onde esteve até esta hora? Já é
meia-noite! Uma
moça de família não anda na rua até esta hora!
Jacira não se incomodou,
acabou de tomar a água, colocou o copo sobre a pia e respondeu:
- Os tempos mudaram, mamãe.
Tinha muita gente na rua.
- Não me conformo em ver
como você tem se comportado. Nem parece a mesma pessoa que eu eduquei com tanto
carinho. Esquece que tem pais idosos que precisam de atenção e de ajuda?
Jacira deu de ombros:
- Pelo que sei vocês gozam
de boa saúde, não são inválidos e podem cuidar de si mesmos. Não lhes falta
comida, remédios, eu continuo cooperando com os serviços da casa.
- Mas hoje é sábado, dia de
passar a roupa da semana e você desapareceu desde cedo e o cesto está cheio.
- Sei disso. Amanhã cedo eu
passo tudo, mas à tarde vou sair.
- De novo? Vai nos deixar sozinhos?
Jacira olhou nos olhos
dela e disse com voz firme:
- Minha vida está mudando
e vai mudar muito mais. Vou trabalhar muito e você vai precisar cooperar mais.
- Eu? Como assim? Estou
cansada, trabalhei a Vida inteira e mereço descansar.
- Você vai ter de cuidar
mais de vocês. Eu não terei tempo para fazer muitas coisas em casa.
- Não estou entendendo. Que
eu saiba você continua na oficina e sai às cinco e meia da tarde todos os
dias. Dá muito bem para fazer o serviço da casa.
- Vou sair da oficina e
trabalhar por conta própria. Não terei horário.
- Você enlouqueceu? Vai
deixar um emprego fixo, com carteira assinada para fazer o quê? Você não sabe
fazer nada, não tem profissão.
- Sei o que estou fazendo.
Eu e minha amiga Margarida vamos costurar para fora. Está tudo combinado.
- Não é possível que você
seja tão descabeçada. Onde já se viu? Vamos todos morrer de fome.
Jacira olhou-a com raiva e respondeu: Durante toda minha vida você
me colocou para baixo. Não acredita que eu possa ser inteligente, capaz e tenha
qualidades. Por quê? Fez-me
acreditar
que eu era muito feia, insignificante, incapaz, e me fez perder os melhores
anos da minha juventude. Mas agora chega! Você não vai mais me impedir de
seguir em frente, de fazer o que tenho vontade.
Vou progredir, ganhar dinheiro,
ter uma vida melhor! Eu mereço viver sem precisar contar os centavos para
comprar o essencial.
Você tem uma cabeça pobre e por esse motivo nós sempre
temos vivido na miséria! Não importa o quanto eu tenha trabalhado, o dinheiro
nunca nos favoreceu. Você, com suas ideias negativas, impediu-nos de prosperar. Agora que eu estou conseguindo sair
dessa condição em que nos colocou, você ainda tenta me segurar?
- O que está dizendo? Eu sou culpada por seu pai ser apenas um operário,
estar desempregado e você não saber fazer nada para ter um emprego
melhor? Eu? Uma pobre mulher que não teve chance nesta vida,
que se casou mal, foi abandonada pelos filhos e nunca teve sorte?
Geni chorava inconformada com o que ouvira. Jacira
olhava-a séria sem comover-se com suas lágrimas e respondeu:
- Você
se coloca na posição de vítima, o que certamente não é.
Reage muito forte
sempre que se sente ameaçada. Mas é bom saber que de hoje em diante vou cuidar
da minha vida do jeito que acho certo. Se não concordar, posso me mudar, ir
embora de casa.
Geni parou de chorar e olhou-a assustada. Alguma coisa no
tom de Jacira a fez perceber que ela estava falando sério. Decidiu não
facilitar. Enxugou as lágrimas e disse lamentosa:
abandonados?
Só nos restará ir para um asilo, viver da caridade alheia. Isso depois de ter
criado três filhos e feito tudo por eles.
- Pare
de se lamentar. Mesmo que um dia eu saia de casa, não deixarei que lhes falte
nada. Pode parar de querer me impressionar.
Você sabe que não sou egoísta,
sempre gastei com vocês todo dinheiro que ganho na oficina.
- Mas
você mudou! Quem me garante que amanhã também não nos abandonará?
- Chega,
mãe. Estou cansada e vou dormir. Jacira afastou-se, foi para o quarto. Geni abriu o
armário,
apanhou a lata onde guardava as bolachas, pegou duas e começou a comê-las com prazer.
Depois, tomou água e subiu para dormir.
Entrou
no quarto onde Aristides,
deitado de costas, roncava.
Estendeu-se ao lado dele, empurrando-o com
o pé, como sempre fazia, para que ele se virasse e parasse de roncar.
Ele
resmungou algo que ela não entendeu, virou-se e o ronco cessou, ela acomodou-se
pensando no que Jacira lhe dissera. No dia seguinte conversaria com Aristides, exigindo dele uma atitude
mais autoritária com a filha. Afinal, esse era o papel do pai. Depois, virou de
lado e logo adormeceu.
Na
manhã seguinte, Geni acordou
cedo, levantou-se e prestou atenção nos ruídos que vinham da cozinha. Deduziu
que Jacira estava tomando café e deitou-se novamente. Não desejava encontrar-se
com ela. Queria que ela pensasse que ainda estava na cama, triste, sem ânimo,
por causa da conversa da noite anterior.
Ela
dissera que iria deixar o emprego. Seria a maior loucura. Precisava fazer
alguma coisa para impedi-la. Sem emprego, o que seria deles?
Talvez
ela estivesse pensando mesmo em deixá-los, como seus irmãos fizeram. Tinha que
evitar isso a todo custo. Aristides,
ao seu lado, ressonava
tranquilo. Irritada, sacudiu-o chamando:
- Acorda,
Tide. Vamos. O teto está caindo sobre nossa cabeça e você continua placidamente
dormindo.
- Ah!
Ah! - resmungou ele sem abrir os olhos.
- Acorda,
homem. Você precisa fazer alguma coisa. Vamos!
Ele
abriu os olhos fixando-a ainda sem entender o que estava acontecendo.
Ela
continuou sacudindo-o:
- Acorda,
vamos...
- O
que foi, mulher? Aconteceu alguma coisa?
- Não
aconteceu ainda, mas vai acontecer uma desgraça. Você tem de evitar que Jacira
acabe com a nossa vida!
- Jacira?
Como assim? Você deve estar sonhando. Deixe-me dormir.
- Nada
disso. Você precisa fazer alguma coisa. Sabe o que ela disse ontem à noite? -
Sem dar-lhe tempo de responder continuou: - Vai pedir demissão do emprego. Já
imaginou o que vai nos acontecer?
Aristides franziu o cenho, sentou-se
na cama dizendo:
- De onde você tirou essa ideia? Ela não é louca de fazer uma
coisa dessas.
- Foi
o que ela disse que vai fazer. Como eu fui contra ameaçou até ir embora de
casa.
Aristides passou a mão nos cabelos meneando a cabeça negativamente:
- Não
acredito que faça isso. Você vive cutucando ela com vara curta, exigindo isso
ou aquilo. Vai ver ela perdeu a paciência. Foi isso. Falou só para assustá-la.
- Nada
disso. Eu não briguei com ela. Só perguntei onde tinha estado até àquela hora.
Passava da meia-noite. Então ela respondeu que eu precisava me acostumar em
fazer o serviço da casa porque daqui para a frente, só vai fazer o que tem
vontade. Vai deixar a oficina e trabalhar por conta própria.
- Foi
isso? Vai ver que arrumou um emprego melhor.
- Não.
Ela vai encontrar-se com aquela amiga. Sempre fui contra essa amizade. Essa
colega está enchendo a cabeça dela de besteiras. Você tem de falar com ela já.
Aristides deitou-se
de novo dizendo:
- Mais
tarde eu falo. Quero descansar.
- Já é
tarde. Ela disse que ia passar a roupa e sair em seguida.
Aristides bufou
nervoso. Para ele não havia coisa pior do que ter de levantar-se em um domingo
para discutir com a filha. Geni sempre
o obrigava a fazer isso. Ele obedecia mesmo sem vontade, apenas para que ela o
deixasse em paz.
Não
sabia o que era pior, ter de brigar com a filha contra sua vontade ou ouvir as
reclamações de Geni obrigando-o
a fazer coisas desagradáveis.
Fechou
os olhos, tentou dormir, mas Geni levantou-se, abriu a janela. O sol entrou forte e
ele protestou. Ela tornou decidida:
- Vamos,
homem. É melhor agir agora do que chorar depois.
Aristides levantou-se nervoso, sabia que ela ngo o deixaria
mais dormir. Foi ao banheiro, lavou-se
lentamente
querendo de alguma forma provocá-la mas quando voltou ao quarto, Geni, já
vestida, esperava-o decidida.
Ele não teve alternativa
senão fazer-lhe a vontade. Quando os dois desceram as escadas, Jacira estava
passando a última peça de roupa.
Geni aproximou-se, mãos na cintura esperando desafiadora que Aristides
falasse.
Jacira continuava passando
uma toalha calmamente.
- Filha - começou ele sério -, sua mãe me disse que você vai pedir demissão do
emprego. Claro que não acreditei que fosse fazer essa loucura. Mas ela insiste
que é verdade. O que me diz?
- É verdade, sim. Amanhã vou
pedir demissão da oficina.
- Eu não disse? - declarou Geni triunfante.
- E como é que vamos viver
sem o seu salário?
- Vou montar um ateliê
de costura com uma colega. Não
se preocupe. Nada vai lhes faltar. Ao contrário. Vou ganhar muito mais.
Aristides meneou a cabeça negativamente e respondeu:
- Não entre nessa ilusão.
Você não tem profissão. Deveria dar graças a Deus por ter sido aceita naquela
oficina.
- Estou decidida. Vocês não
vão me convencer do contrário. Sei o que estou fazendo.
- Você não pode deixar que
ela faça isso. O que vai ser da nossa vida? Morreremos de fome.
Jacira olhou-os
admirada.
Apesar de saber que reagiriam contra não imaginou que fossem tão veementes.
Não se interessaram em
saber de seus projetos, não perguntaram que tipo
de negócio ela iria fazer, apegavam-se
ao
pequeno salário que recebia, conde-nando-se a viver a vida inteira naquela
penúria.
Os dois lhe pareceram
parados no tempo, sem nenhuma motivação de progresso, acomodados em uma vida
pobre onde viviam contando as moedas.
Jacira dobrou a toalha,
desligou o ferro, e disse calmamente:
- Pronto, mãe. Já passei tudo. Fica a seu cargo
guardar.
Foi saindo e Geni interceptou-lhe os passos.
- Aonde vai? Certamente para a casa daquela amiga que anda enchendo sua
cabeça com todas essas bobagens.
Sem se perturbar Jacira
respondeu:
- O nome dela é Margarida. Uma mulher maravilhosa,
que trabalha muito e como eu deseja melhorar de vida. Vocês deveriam
agradecê-la pela oportunidade que está me oferecendo de conquistar uma vida
melhor.
Jacira afastou-se, apanhou a bolsa e ia sair quando Geni colocou-se na frente da porta dizendo:
- Pelo visto você está de cabeça feita. Mas saiba
que se fizer o que deseja vai destruir nossa vida.
Jacira segurou o braço
dela afastando-a, abriu a porta e saiu sem
dizer mais nada. Geni, revoltada, olhou o marido:
- Você não faz nada? Deixa que ela nos desrespeite
dessa forma? É o fim. Onde foi que eu errei? Por que Deus nos castiga desse
jeito? Filhos malvados e um marido que não lhes dá uma lição?
Aristides, no auge da
irritação, tornou:
- Não jogue a culpa de tudo
em cima de mim. Seus filhos foram embora porque você vivia se indispondo com eles.
Se não tomar cuidado, Jacira vai acabar fazendo o mesmo. Ela quer melhorar de
vida e tem o direito de experimentar.
- Vai me dizer que ela está
certa? Já pensou no que pode nos acontecer?
- Se precisar vou aceitar qualquer emprego, mesmo
que seja para baixar o salário na carteira. E melhor você parar de se lamentar.
Vou tomar um café e você trate logo de cuidar do almoço.
- Agora é você que me culpa de tudo. Que falta de
sorte a minha!
- Poupe-me
de suas lamúrias. Não quero
ouvir mais nada. Depois do café quero ler meu jornal em paz.
Ele foi à cozinha, tomou
uma xícara de café, apanhou o jornal e prazerosamente acomodou-se em sua poltrona favorita. Estava cansado dos
problemas domésticos. Naquele momento não queria pensar no futuro.
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