Na manhã seguinte, Jacira levantou-se cedo, vestiu-se, arrumou o quarto, foi à cozinha, fez café, esquentou o pão, tomou café, lavou a xÃcara, enxugou e guardou. Apanhou a bolsa e saiu.
Eram
sete horas e seus pais ainda dormiam. O dia estava bonito e ela sentiu-se
alegre, feliz. Ia iniciar uma vida nova. Sentiu-se livre, mais dona de si,
disposta a dar o máximo na realização do novo trabalho.
Era gratificante sentir-se
dona do próprio destino, decidir como queria viver dali para a frente. Em seus
olhos havia um brilho novo, um entusiasmo que nunca sentira antes.
Tomou
o ônibus sem se importar de viajar em pé, apertada entre uma senhora gorda
carregada de pacotes e um jovem de ombros largos que tomava todo espaço fazendo
com que ela se apertasse entre os dois.
No
centro da cidade todos desceram e ela respirou aliviada. Encaminhou-se para o
ponto do ônibus que a levaria até a casa de Margarida. Não tinha fila. Logo o
ônibus chegou, lotado, mas todos desceram e ela subiu e acomodou-se satisfeita.
Algumas
pessoas subiram e uma mulher morena pediu licença e sentou-se ao lado dela.
Estava bem-vestida e um delicado perfume vinha dela.
O
ônibus partiu e depois de alguns minutos de viagem, a mulher disse de repente:
- Continue
assim que você vai conseguir tudo o que deseja.
Surpreendida,
Jacira não entendeu bem:
- O
que disse?
- Você está mudando sua vida.
Pode ir em frente que vai dar certo, apesar daqueles que não desejam seu
sucesso.
- Como
é que a senhora sabe? Em vez de responder a pergunta ela disse:
- Meu
nome é LÃdia Martini
e o seu?
-Jacira
da Silva. Estou mesmo mudando de vida. Como a senhora sabe?
LÃdia
sorriu e respondeu:
- Às
vezes eu sei o que as pessoas estão pensando. Senti que você deixou o emprego
e está começando a trabalhar por conta própria.
- É
verdade. E o que mais a senhora sabe?
- Na
verdade, desde criança vejo espÃritos e converso com eles, que me orientam.
Jacira
sentiu um arrepio e tornou:
- A
senhora não tem medo? LÃdia sorriu, seus olhos brilharam quando respondeu:
- Não.
Eles trouxeram luz a minha vida. Com eles tenho aprendido a lidar com minhas
emoções e encontrado respostas para minhas dúvidas. Perdi o medo da morte
porque eles me mostraram que só existe vida e que nosso espÃrito é eterno.
- A
senhora fala como um amigo meu que muito tem me ajudado.
- Não
me chame de senhora. Faz-me sentir velha.
- Não
tive a intenção...
- Eu
sei. Mas sinto que podemos ser amigas. - Ela tirou um cartão da bolsa,
entregou-o a Jacira e continuou: - Vou descer daqui a pouco. Vá a minha casa
qualquer dia destes. Alguém está me dizendo que sua vida vai mudar não só no
aspecto profissional, mas também no afetivo. Vai conhecer uma pessoa que fará
a diferença.
- Eu já conheci. Tenho um namorado. LÃdia abanou a
cabeça negativamente:
- Não
se trata dele. Você vai conhecer quando estiver pronta.
- Como
vou saber?
- Você
saberá. É só o que posso dizer por agora. Mas vá a minha casa e conversaremos.
Vou descer no próximo ponto. Foi um prazer conhecê-la. Sucesso para você.
-Obrigada.
Eu irei sim.
LÃdia
desceu e Jacira, intrigada, seguiu-a com os olhos até perdê-la de vista. Cinco
minutos depois, chegou sua vez de descer, mas a conversa que tivera não lhe
saÃa da cabeça.
Foi
a primeira coisa que disse para Margarida assim que chegou:
- Hoje
me aconteceu uma coisa estranha. Contou tudo quanto tinham conversado e ao terminar
Margarida tornou:
- Ela é médium. Igual ao seu Norberto que tinha um Centro EspÃrita
e recebia o pai José. Quando precisava, minha mãe ia conversar com ele, pedir
conselhos e sempre teve bons resultados. Ele ajudou muito nossa famÃlia.
- Ela
não me pareceu uma pessoa religiosa. Era uma mulher muito elegante,
bem-vestida, fina, amável. Gostei dela.
- Ela
deve mesmo receber espÃritos. Como ia saber tudo sobre você?
- Ela
disse que tinha amigos espirituais que lhe contavam as coisas.
- Igual seu Norberto, que tinha o pai
José. Ele também era um espÃrito.
- Seja como for, assim que
tiver um tempinho vou fazer uma visita a ela.
- Eu vou com você. Não vou
perder essa. Ultima mente tenho me preocupado muito com o futuro do Marinho.
Não sei se fiz bem em não querer que o pai dele soubesse que tivemos um filho.
- Você nunca falou sobre
isso.
- É uma coisa que eu não
gosto nem de lembrar. Mas eu era muito nova, apaixonei-me.
- Quando você engravidou ele foi embora? Margarida hesitou um pouco, depois
disse:
- Eu lhe disse isso, mas não foi bem assim. Nós
nunca moramos juntos. Ele era casado, tinha dois filhos. Eu não quis prejudicar
a famÃlia dele. Quando fiquei grávida, entendi que deveria assumir sozinha as
consequências dos meus atos. Eles moravam perto da minha casa, eu não queria
que ninguém soubesse que ele era o pai do meu filho.
- Você foi corajosa.
- Minha mãe brigou muito comigo. Exigia que eu
dissesse o nome do responsável. Mas eu nunca disse. Meu pai ficou furioso, mandou-me
embora de casa. Arrasada, mas
digna, fui morar em um pensionato das freiras no bairro do Ipiranga.
Lá eles recolhiam as mães
solteiras, até o nascimento do bebê, e caso elas não pudessem ou não quisessem assumir
a criança, arranjavam pais para fazer a adoção da criança.
- Você sofreu muito!
- As freiras foram muito boas comigo. Logo de inÃcio
eu lhes disse que assumiria o bebê. Minha famÃlia nunca me procurou e eu fui levando.
Ajudava as freiras fazendo o que podia e foi lá que aprendi corte e costura.
Arranjei emprego em uma casa de famÃlia e deixava Marinho na creche com as
freiras para trabalhar. Sou muito grata a elas pelo que fizeram por mim.
Economizei, comprei uma máquina de costura, comecei a costurar, e o resto você
já sabe.
- A cada dia eu a admiro mais.
Qualquer outra iria atrás do pai do menino, pedir dinheiro, brigar na justiça.
Você foi muito digna.
- E
não me arrependo. Acho até que o Hélio gostava muito de mim. Soube que me
procurou muito. Eu custei a esquecer o amor que sentia por ele. Mas de que me
adiantaria lhe contar a verdade?
Ele estava casado, tinha dois filhos. Não acho
que iria separar-se da famÃlia por minha causa. Mas se ele quisesse fazer isso,
eu ia me sentir muito mal por ter sido a causa da dissolução de uma famÃlia.
Afinal, eu me apaixonei, vivi momentos de muito amor e não me arrependo. Tenho
um filho que é tudo para mim. Foi melhor assim.
Ele que seja feliz com os seus.
Eu vou procurar viver minha vida em paz.
- Qualquer
hora você vai encontrar alguém e refazer sua vida.
- Não
sei se quero. Estou vivendo em paz, sem ninguém para mandar em mim e depois, eu
não suportaria colocar em casa um homem que viesse a mandar em meu filho. É
por esse motivo que desejo muito que nosso ateliê dê certo. Quero ganhar
dinheiro, fazer meu filho estudar, ter uma carreira, ser bem encaminhado na
vida.
- Vai
dar certo. Vamos trabalhar muito, ganhar bastante dinheiro.
Quero provar para
minha mãe que eu posso, que sou capaz, e inclusive dar a nossa famÃlia uma
vida melhor.
- Isso
mesmo. Vamos ao trabalho.
- Assim
é que se fala.
As duas foram para a sala de costura e dedicaram-se
ao trabalho com entusiasmo. Lidar com coisas bonitas, moda, tecidos coloridos,
era muito agradável e elas adoravam.
A
partir daquele dia, Jacira entrou na rotina. Levantava muito cedo e fazia tudo
como no primeiro dia. Só não tinha horário para voltar. No decorrer dos dias, o
serviço foi aumentando, novas clientes apareceram, ela ia chegando em casa cada
dia mais tarde. Tomava o último ônibus.
Em casa, Geni fizera de tudo para
impressioná-la. Nos primeiros dias deixara louça para lavar, roupas amontoadas,
casa sem limpar, mas como Jacira fazia tudo conforme prometido, e ignorava o
resto, ela fora forçada a ir cuidando da casa. Fingia-se de doente, mas, como a
filha nunca estava, ela não tinha plateia.
Aristides tinha
ido falar com José da oficina mecânica para dizer que aceitava o emprego, mas
ele já havia arranjado outra pessoa.
Como estava mesmo decidido a encontrar
trabalho, todos os dias depois do café saÃa procurando. Depois de quase um mês
finalmente chegou em casa muito alegre. Tinha conseguido um emprego.
Reencontrara um ex-colega de fábrica que ao aposentar-se, com o dinheiro que
recebera da empresa, alugara uma casa e montara um bar.
Ele
andara o dia inteiro na sua busca, entrara no bar para tomar um refrigerante e
viu no caixa seu amigo Euzébio.
Abraçaram-se contentes e ao saber que Aristides desejava trabalhar
disse-lhe:
- Estou
precisando de um garçom. Tenho apenas um menino, que na hora do movimento não
dá conta. É trabalho duro, é salário mÃnimo, mas tem as gorjetas. Outra coisa,
sem carteira assinada.
Não tenho dinheiro para isso.
- Eu
aceito. Quando posso começar?
- Amanhã mesmo. Eu abro às dez
da manhã, mas se tem movimento vou até as onze da noite. O movimento maior é nos fins de semana.
- Eu
estarei aqui amanhã às dez. Quando contou para Geni ela não gostou:
- Um
bar? No meio de pinguços e de mulheres da vida? Você vai ficar viciado depois
de velho?
- Você
faria melhor em não ser tão maldosa. Vou trabalhar, trazer dinheiro para casa,
melhorar a nossa vida. E é isso que você me diz?
Geni desatou a chorar:
- Todos me abandonaram! O que será de mim agora? O que
foi que eu fiz para ser assim tão castigada?
- Você não faz outra coisa a
não ser se queixar. É você quem atrai para esta casa a miséria em que se
transformou nossa vida. De hoje em diante não quero ouvir nem mais uma frase de
queixa. Se quiser ficar na maldade, fique sozinha. Eu tenho sessenta e três
anos, mas me sinto forte, capaz e quero ter uma velhice melhor. Vou trabalhar,
economizar, coisa que nunca fiz. Se tivesse feito, hoje seria um comerciante
como Eu-zébio. Mas não, entreguei-me
Ã
preguiça, ao desânimo, achando que o mundo tinha acabado para mim. Mas Jacira fez-me ver que eu ainda posso mudar, fazer alguma coisa,
ser útil, sentir-me vivo.
- Só eu vou ficar sofrendo!
- Porque quer. Porque tem
uma cabeça viciada na preguiça, na incapacidade. Vive de ilusão lendo essas
revistinhas de fotonovela, sonhando com as mocinhas e com o prÃncipe encantado,
como se a vida fosse só isso. Abra os olhos, mulher, antes que seja tarde.
Cuide de si, da casa, de sua vida. Deixe de se queixar e fingir que está doente.
Se não mudar, qualquer dia destes vai acabar ficando doente de verdade.
Geni soluçava desesperada.
Nunca Aristides tinha sido tão duro com ela. Ele sempre a tratara com suavidade,
desde o namoro, como se ela fosse uma boneca delicada. Por que estava sendo tão
duro? Ela chorava de medo. Além dos filhos, corria o risco de perder também o
marido? E se ele, desgostoso com ela, fosse embora de vez? O que seria dela?
Sem dizer mais nada, correu para o quarto, deitou-se e continuou chorando. Sentia que ele estava cansado
de suas artimanhas para se poupar e obrigar os outros a fazer tudo do jeito que
ela queria.
Mas no dia seguinte, assim
que o marido e a filha saÃram para o trabalho, ela, olhando a pia cheia de
louças e a mesa posta, achou melhor arrumar tudo. Sentia-se solitária, abandonada.
Quando terminou, foi para
o quarto pensando em deitar-se
mais um
pouco. Mas ao passar pelo corredor sentiu um cheiro desagradável vindo do
banheiro.
Aristides tomara banho
antes de sair e deixara toalhas espalhadas pelo chão. Irritada foi colocá-las
no cesto de roupas sujas. Ele estava cheio. Lágrimas vieram-lhe aos olhos e ela não sabia se eram de raiva ou de
repugnância por precisar fazer aquele serviço.
Jacira costumava cuidar de
tudo antes de ir trabalhar. Lembrou-se
de que
fazia alguns dias que ela não mexia no cesto. O cheiro de mofo vinha dele. Deixando
as lágrimas correrem livremente, sustendo a respiração, Geni tirou toda a roupa
e levou-a para o tanque. Resignada, colocou-as de molho em água e sabão enquanto a máquina de
lavar enchia. Depois as colocou para lavar, foi para sala, apanhou uma revista,
foi para o quarto e estendeu-se
na cama
mergulhando prazerosamente na leitura.
Mais tarde, sentiu fome.
Desde que começara a trabalhar, Aristides comia no emprego.
- Nós servimos refeições aqui. Não tem cabimento
você ir almoçar em casa - dissera Euzébio desde o primeiro dia.
A princÃpio Geni achara
bom não ter de fazer almoço. Comia qualquer coisa, pão, banana, ovo frito, o
que tivesse na hora. Mas depois de alguns dias começou a sentir vontade de
comer um bom prato de arroz com feijão, um bife acebolado do qual ela gostava
tanto.
Levantou-se
e foi para a cozinha. Decidiu
fazer um almoço de verdade. Colocou feijão na panela de pressão, refogou o
arroz e aspirou o cheiro do tempero com prazer.
Enquanto cozinhava ela
pensava:
"Todos foram embora.
Ninguém liga para mim. Eles querem me ver acabada, chorando, implorando que me
ajudem. Mas eu não vou lhes dar esse gosto. Vou me tratar bem. Fazer do jeito
que eu gosto. Colocar aquela pimenta vermelha que eu adoro e o Tide não
gosta."
Fez
tudo no capricho e em vez de estender o pano de prato para comer, como de
costume, foi buscar uma toalha, arrumou a mesa, com copo, guardanapo de papel e tudo. Depois se
sentou satisfeita e almoçou, saboreando a comida que havia preparado, que nunca
lhe pareceu tão gostosa.
aproveitar
o sol. Quando acabou, apanhou uma revista e sentou-se na poltrona da sala para
ler.
Naquela
noite, Jacira trabalhou até muito tarde. Elas desejavam entregar dois vestidos
para uma cliente que iria viajar para o exterior na noite seguinte e ela só se
deu por satisfeita quando os viu prontos.
- É
melhor você ir logo para não perder o ônibus. Pode deixar que eu guardo tudo.
Jacira
concordou, apanhou a bolsa e saiu apressada. Ao chegar no portão encontrou com
Nelson e disse:
- Eu
não sabia que estava aqui!
- Esqueceu?
Você me prometeu que iria sair mais cedo. Estou esperando desde as nove e já
são quase meia-noite.
- Eu
sinto muito. Mas nós tÃnhamos de acabar dois vestidos para entregar amanhã.
- Vamos andando, senão
perderemos o ônibus.
Durante
todo o trajeto de volta, Nelson ficou calado. Jacira notou que ele estava
irritado e sentiu-se culpada por ter combinado de sair mais cedo. Tentou
conversar, mas ele respondia por monossÃlabos e ela também ficou calada.
Ao chegarem perto da casa dela, pararam e ele
disse sério:
- Nós
precisamos conversar. Esta situação não pode continuar.
- Eu
não devia ter marcado tão cedo. Estava tão empenhada em acabar o serviço que só
me dei conta do horário quando Margarida me alertou que eu iria Perder o
ônibus.
- Vamos nos sentar na
praça e conversar.
- É tarde. Deixa para outro
dia?
- Não. Tem de ser hoje.
- Está bem. Mas não vamos demorar. Andaram até a
praça, sentaram-se e Nelson segurou a mão dela dizendo em tom conciliador:
- Jacira, eu gosto muito de você. Depois de tudo que
passei nesta vida, tinha jurado não amar mais nenhuma mulher. Quando a conheci,
gostei porque sendo mais amadurecida, nosso relacionamento seria mais confiável.
Fez ligeira pausa e,
notando que ela o ouvia com atenção, continuou:
- Quando você trabalhava na oficina, tinha horário, tudo ia muito bem. Mas
depois que resolveu trabalhar com Margarida, nosso namoro tem sido prejudicado.
Ela retirou a mão e fez
menção de responder, mas ele pediu:
- Estou abrindo meu coração e peço-lhe
para ouvir tudo quanto tenho a
dizer, sem me interromper.
Vendo que ela concordou,
ele prosseguiu:
de mim como eu pensava. Nunca me liga durante o
dia, não se esforça para estar comigo. Para você o trabalho vem antes de mim.
Eu fico sempre em segundo lugar. Isso não é amor.
Ele se calou triste e ela
tentou esclarecer:
- Você está enganado. Você é meu primeiro namorado.
Eu prezo muito sua amizade. Mas, entenda, eu estou tentando melhorar de vida.
Meu trabalho é muito importante e eu quero vencer. Até aqui minha vida tem sido
muito difÃcil. Pela primeira vez estou tendo uma chance de conseguir coisa
melhor. Nosso negócio está indo bem. Estou ganhando mais do que antes. E estou
certa de que vai melhorar muito mais.
- Você já me disse tudo isso. Mas eu tenho uma proposta
para lhe fazer. Estou me sentindo muito sozinho. Quero que venha morar comigo.
Tenho uma casa boa, ganho o suficiente para lhe oferecer uma vida confortável e
você não vai mais precisar trabalhar. Se tudo der certo, mais tarde poderemos
nos casar.
Jacira sentiu como se ele tivesse lhe jogado um balde de água fria.
Teve vontade de responder que não. Mas ele segurou a mão dela novamente:
- Não
responda nada agora. Quero que pense no assunto. É uma forma de demonstrar se
gosta mesmo de mim e se confia no meu amor.
Jacira
respirou fundo e respondeu:
- Está
bem. Prometo que vou pensar. Mas agora preciso ir. É muito tarde. Amanhã
preciso me levantar cedo.
Ela
levantou-se, ele abraçou-a com força e beijou-a nos lábios longamente. Depois
disse:
- Pense
bem. Eu quero muito você. Não vejo a hora de podermos estar juntos para sempre.
Jacira
sentiu uma sensação desagradável, uma inquietação e vontade de ir embora.
Na
porta de casa, despediu-se rapidamente e entrou sentindo-se aliviada.
A
casa estava às escuras e ela foi direto para o quarto. Havia jantado muito cedo
com Margarida, mas apesar do adiantado da hora estava sem fome. Aquela conversa
com Nelson a irritara muito. Tomou um banho e estendeu-se na cama recordando
suas palavras.
Para ela, o trabalho significava sua
libertação. A figura de Geni apareceu
em sua mente. A proposta dele iria transformar sua vida e torná-la uma cópia de
sua mãe. Agora que estava tendo a chance de tornar-se independente, não
permitiria que ninguém a impedisse.
Tendo
decidido recusar a proposta dele, deitou-se e, sem pensar em mais nada,
adormeceu.
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