Na manhã seguinte, na casa de Margarida, Jacira desabafou:
- Vou
acabar meu namoro com Nelson.
Margarida olhou-a surpreendida:
- Por
que, aconteceu alguma coisa?
- Ele está irritado porque não tenho tido tempo para
sair. Quer que eu deixe de trabalhar e vá morar com ele. Veio com uma conversa
de que ele pode me sustentar, dar-me conforto, mas eu quero muito mais. Eu
quero ser independente e ele quer me pôr na coleira, mandar em mim.
- Por
esse motivo é que eu não quis me casar de novo. Mas eu já experimentei o amor,
tenho meu filho e me sinto bem assim. Mas você está começando sua vida amorosa.
Se acabar o namoro, não vai se arrepender?
- Sabe
que não? Tem dia que me sinto bem em conversar com ele, mas há outros que
quando estamos juntos não vejo a hora de ir embora.
- Nesse
caso, é melhor terminar mesmo. Você não o ama.
-Pode ser. Mas eu estou descobrindo que posso
ter uma vida melhor. Pela primeira vez sinto prazer em trabalhar, adoro ouvir
nossas freguesas elogiarem nossos vestidos. Sinto-me útil, realizada.
Gosto de
manusear esses tecidos tão lindos, aprender a olhar a moda, sentir que estou
viva.
Margarida sorriu e respondeu:
- É o que eu sinto também. Que
bom que você me entende! O prazer de fazer, de criar coisas bonitas me fascina.
Você está certa de que é isso mesmo que quer?
Jacira
suspirou pensativa:
- Só
não sei como dizer a ele. Parece que o estou rejeitando, sendo ingrata, cruel.
Ele foi o primeiro homem que gostou de mim. Eu tenho me esforçado para gostar
dele. Mas ontem, quando ele me beijou, eu queria sair correndo.
Margarida
colocou a mão sobre o braço da amiga e tornou:
- No
amor não há como fingir. Quando você ama, quer ficar junto.
Se em vez disso,
não tolera a intimidade, o melhor mesmo é sair fora. Dizer que não está
preparada. Ele vai sofrer, mas respeitar sua atitude. Seria cruel fingir um
amor que não sente.
- Você
está certa.
- Aquela
mulher que você conheceu no ônibus, acertou.
- Como
assim?
- Ela
disse que sua vida ia mudar até no lado afetivo. Isso significa que você vai
gostar de outro.
- Será?
Duvido. Nelson foi o único que me viu como mulher.
- Isso
foi no tempo em que você era triste, deprimida. Hoje você está muito
diferente. Vai aparecer outro, sim.
Jacira
sorriu, pegou a bolsa, apanhou o cartão da mulher que conhecera no ônibus e
leu:
- Lídia
Martini. Ela
disse que mora perto daqui e convidou-me para ir a sua casa a fim de
conversarmos. Estou com vontade de ir até lá. O que você acha?
- Se
você for, eu vou junto para ver o que ela pode dizer sobre minha vida. Se ela
for como o seu Norberto, pode nos ajudar e aconselhar.
Margarida
olhou o cartão e continuou:
- Essa
rua fica aqui perto, podemos ir a pé. Seria bom irmos antes de o Marinho voltar
da escola.
- E o
vestido de d. Odete? Ela
ficou de vir experimentar amanhã.
- Está
bem adiantado. Estou morrendo de curiosidade.
- Está
bem. Vamos.
As
duas saíram e em dez minutos estavam tocando a campainha da casa. Enquanto
esperavam no pequeno portão de ferro, contemplavam encantadas o jardim onde um
belo pé de primavera, cheio de flores, subia ao lado da varanda.
Uma
mocinha abriu a porta e vendo-as aproximou-se:
- Meu
nome é Jacira, e esta é minha amiga Margarida. Gostaríamos de conversar com d.
Lídia. Ela está?
- Está
sim. Um momento, vou avisá-la.
Ela
entrou novamente na casa e alguns segundos depois, voltou acompanhada por Lídia
que, vendo-as, sorriu, abriu o portão e convidou-as a entrar.
- Eu
sabia que viria.
- Esta
é minha sócia, Margarida.
Lídia
olhou-a firme nos olhos dela e disse:
- É um
prazer recebê-las em minha casa.
- Adorei
seu jardim. O que faz para que as flores sejam tantas e tão bonitas? -
perguntou Margarida.
- Elas
gostam de ficar aqui porque sabem que são muito amadas. Eu adoro este jardim e
elas retribuem.
Entraram
na sala e Lídia, aproximando-se da mocinha que as recebera, disse:
- Esta
é minha filha Estela.
É ela quem cuida do nosso jardim.
- Está
muito bonito. - Disse Margarida, continuando: - Desculpe termos vindo fora de
hora, é que mais tarde meu filho chega da escola e eu não poderia mais sair. Eu
desejava muito conhecê-la.
- Fizeram
bem. Sentem-se, vamos conversar. Depois de vê-las acomodadas no sofá, Lídia,
vol
tando-se
para Jacira, tornou:
- Você
veio porque as coisas que eu disse começaram a acontecer.
- É.
De fato. Há algum tempo minha vida vem mudando. Tenho tomado decisões. Algumas,
eu sei que foram acertadas, mas...
- Há
uma que você sabe que deve tomar, mas fica dividida pelo receio de decepcionar
uma pessoa para a qual é muito grata.
- Isso
mesmo. Meu namorado quer que eu vá morar com ele e deixe de trabalhar. Isso eu
não vou fazer.
- Vocês
estão trabalhando por conta própria e adoram o que estão fazendo. Eu sinto que
terão mais sucesso do que esperavam.
Lídia
fechou os olhos durante alguns segundos, depois disse:
- A
amizade de vocês vem de outras vidas, quando pertenceram a mesma família. Têm
grande afinidade espiritual. Você, Margarida, sempre lutou para conseguir
melhorar de vida, mas nada dava certo. Teve algumas decepções que a fizeram
sofrer, mas nunca se entregou à depressão. Sempre lutou com coragem e alegria.
Ao reencontrar Jacira, que também não era feliz, você sentiu vontade de
ajudá-la. Unidas, encontraram motivação para mudar e progredir.
A
voz de Lídia estava um pouco modificada e ela falava com firmeza e doçura. As
duas ouviam comovidas, percebendo que havia alguma coisa diferente no ar.
Parecia-lhes que de repente o ar se tornara mais leve e um sentimento de
alegria as envolvia.
Depois
de alguns segundos em silêncio, Lídia perguntou:
- Quem
é Hélio? Margarida estremeceu, mas não respondeu, Lídia
continuou:
- É um
homem alto, moreno, rosto cheio, cabelos lisos penteados para trás, veste uma
camisa azul, está
mostrando
um anel de ouro, de formatura com uma pedra vermelha.
- Meu
Deus, é o pai do Marinho!
- É
esse mesmo. Ele pede para eu lhe dizer que está muito arrependido do que fez,
deseja que o perdoe.
Margarida,
trêmula, não conseguia conter as lágrimas:
- Eu
não tenho raiva dele. Também tive culpa pelo que aconteceu.
- Diz
que você deveria ter lhe contado sobre Marinho. Ele os teria amparado e você
não teria sofrido tanto. Nunca se conformou com seu desaparecimento e só
agora, depois que ele morreu, foi que descobriu tudo.
Margarida
chorava, enquanto Jacira segurava a mão dela tentando dar-lhe coragem.
- Não
sabia que ele tinha morrido! Como foi isso?
- Foi
de repente, do coração. Faz mais de um ano.
- Eu
nunca soube! - murmurou Margarida enquanto as lágrimas continuavam a
banhar-lhe o rosto emocionado.
- Ele
precisa ir embora, melhorar. Quando puder, voltará para protegê-la e ao menino.
Admira sua coragem e a mulher que você é.
Entendeu que você desapareceu da
vida dele para não criar problemas com sua esposa e seus outros filhos. Lamenta
não tê-la ajudado quando mais precisava.
Lídia
calou-se. Respirou profundamente, abriu os olhos e disse:
- Vamos mentalizar uma luz azul-clara e
envolvê-lo com amor, desejando que ele se recupere logo.
Ela
fez uma oração que as duas acompanharam em pensamento. Depois,
abriu os olhos, levantou-se e voltou em seguida trazendo uma bandeja com copos
e uma jarra de água, colocando-a sobre a mesa. Encheu os copos e deu-os às
duas, servindo-se também.
Tomaram
a água. Quando se sentiu mais calma Margarida quebrou o silêncio comentando:
- Estou
triste, não sabia da morte dele.
- A
morte faz parte da vida. Todos nós teremos que passar por essa viagem. Mas como
vocês viram ela não é o fim de tudo. É apenas uma mudança de estado e de lugar,
nós continuaremos vivendo em outras dimensões.
- Eu
tenho um amigo que muito me ajudou, chama-se Ernesto Vilares. Trata-se de um
homem muito instruído, que estuda os fenômenos da vida e tem me falado sobre
todas essas coisas.
- Já
tive oportunidade de fazer alguns cursos com ele e considero-o um mestre no
assunto. Fico feliz que vocês o conheçam. Se puderem, frequentem o Instituto dele -
respondeu Lídia com alegria.
- Eu
já assisti a algumas aulas. Ele deu-me uma bolsa e eu aproveitei. Suas palavras
mudaram a minha vida.
Jacira
contou como o conhecera e as experiências que tivera quando dormira e conhecera
uma mulher chamada Marina, que disse ser sua protetora, e finalizou:
- Eu
estava me sentindo tão bem, tão feliz, que quando acordei reclamei. Preferia
continuar dormindo.
- Eu a
conheço. No dia em que se sentou ao meu lado naquele ônibus, eu a vi perto de
você. Foi ela quem pediu que lhe desse meu endereço.
- É
incrível! - comentou Margarida. - Sempre ouvi falar de espíritos, algumas vezes
cheguei a ir a um Centro Espírita, mas tive medo de voltar lá. Minha mãe dizia
que é um lugar perigoso.
- As
pessoas têm medo do que não conhecem e não podem controlar. Mas os espíritos
são pessoas comuns, que viveram aqui e continuam como eram do outro lado da
vida, tendo qualidades e pontos fracos. De um modo geral, não podem nos fazer
mal. Só conseguem nos envolver de forma negativa quando não valorizamos a
vida, depreciamo-nos, ficamos no mal-São nossas fraquezas que lhes abre a porta
da nossa intimidade. Quando estamos no mal não atraímos só espíritos
perturbados, mas também pessoas que podem nos prejudicar.
- O
que aconteceu hoje abriu minha cabeça, desde que Jacira falou de você, senti
muita vontade de conhecê-la. Mas pensei que fosse para saber se nosso negócio
ia dar certo. O que aconteceu aqui foi uma prova muito grande de que a vida
continua depois da morte. E isso, para mim, é mais importante que tudo.
- De
fato. A prova de que somos eternos nos comove e amplia nossos horizontes. Saber
dessa realidade é uma benção que devemos agradecer à bondade divina -
comentou Lídia com os olhos brilhantes de alegria.
- Gostaria
de saber mais sobre esse assunto -tornou Margarida.
- Voltem
aqui sempre que desejarem. Terei prazer em conversar com vocês. Tenho muitos
livros de pessoas que estudaram o assunto e posso emprestar-lhes. São
pesquisas que comprovam que a vida continua.
Jacira
interveio:
- Você
falou que estou sem coragem de tomar uma decisão. Devo acabar com esse namoro?
- Essa
resposta está dentro do seu coração. Só você pode decidir.
Pense no assunto,
analise seus sentimentos e decida de acordo com sua verdade. Seja qual for sua
decisão, seja sincera. Não tenha receio de ser verdadeira.
- Eu
já pensei e sei o que fazer.
Lídia foi até a estante de livros, apanhou
alguns, e mostrou-os para elas dizendo:
- Dois
destes são romances espiritualistas ditados Por espíritos aos médiuns. São mais
simples e fáceis de entender. Os outros são estudos feitos por cientistas
sobre os fenômenos da mediunidade. Eu gosto muito deste - continuou Lídia
apanhando um deles: -
Chama-se Fatos espíritas e
foi escrito por Sir William
Crocks, um cientista inglês. Trata-se de um caso de materialização que ele
pesquisou. Ele provou que a vida continua depois da morte do corpo físico. Tem
fotos do espírito materializado.
- Como foi isso? - indagou Jacira admirada.
- É melhor você levar e ler. É muito interessante - disse Lídia.
Jacira segurou o livro, folheou-o, e disse admirada:
- É incrível! Todas as pessoas deveriam ler isso!
- Nem todos estão preparados
para essa realidade. Cada coisa acontece no tempo certo.
- Agora é o meu tempo. Pode
me emprestar? -indagou Jacira.
- Sim.
- Eu adoro romances - disse Margarida.
Lídia indicou um deles. Ao
se despedirem, Margarida agradeceu muito a atenção e abraçando-a disse:
- Sinto que encontrei uma amiga. Gostaria de
convidá-la para ir conhecer minha casa. Leve sua filha. Terei o maior prazer em
mostrar-lhe nosso
trabalho.
- Domingo de manhã tenho um compromisso, mas à tarde
passarei lá.
- Nesse caso, eu também estarei a sua espera. Elas despediram-se
e durante o trajeto
de volta,
comentaram com emoção o
encontro.
Recordando que Lídia
dissera que seriam bem-sucedidas no trabalho, elas retomaram as atividades com entusiasmo.
Naquela noite, para
compensar, Jacira deixou a casa da amiga uma hora mais tarde do que o habitual.
Apesar disso, estava satisfeita, porquanto tinham adiantado bem a tarefa.
Assim que fechou o pequeno
portão do jardim e ganhou a rua, viu Nelson na esquina se aproximando.
Pela sua fisionomia
percebeu logo que ele não estava bem.
- Faz mais de uma hora que a estou esperando. Tive
vontade de tocar a campainha da casa para chamá-la.
- Você sabe que eu não gosto que faça isso.
-Não
é possível que vocês tenham tanto trabalho assim. Acho mais é que vocês ficam
conversando. Parece que o fato de saber que eu a estou esperando não importa.
Jacira
parou de caminhar, olhou bem nos olhos dele e respondeu:
- Tanto
importa que tomei uma decisão.
- Você
vai deixar o trabalho e se mudar para minha casa?
- Não.
Eu não gosto de pensar que você está me esperando. Eu decidi que não quero ir
morar com você.
- Não
estou entendendo. Nesse caso...
- Nesse
caso o melhor é acabar com o nosso namoro. Eu não estou preparada para fazer o
que você quer. Eu quero melhorar minha vida, dedicar-me de corpo e alma ao
trabalho. Esse é meu objetivo agora. Por esse motivo, é melhor não nos vermos
mais.
Ele
olhou-a admirado e respondeu nervoso:
- Depois
de tudo que eu fiz por você, não esperava que me dispensasse como se eu nunca
tivesse sido nada em sua vida.
A
atitude dele indignou Jacira que colocou as mãos na cintura e retrucou
irritada:
- O
que você fez por mim, além de reclamar porque sou uma mulher que trabalha e
luta por uma vida melhor?
- Você
está iludida. Acreditou nas bobagens daquele professor. Mas vai cair do
cavalo. A realidade é bem outra. Você não fica rica só porque quer. Quem nasce
pobre, morre pobre.
- Você
é um conformado, sem ambições. Há anos curte esse emprego, fazendo tudo sempre
igual. Eu não quero isso para mim.
Vou aprender coisas, melhorar de vida, dar
conforto a minha família.
- Sua
família tem vivido pendurada em você e vai continuar assim. Estou arrependido
pelo tempo que Perdi com você!
- Pois
vá com Deus e me deixe em
paz. Nunca mais quero vê-lo.
Jacira saiu pisando duro, apertando o livro
que segurava e a alça da bolsa. Caminhou rapidamente tentando se acalmar.
Chegou no ponto do ônibus que já estava encostando e subiu apressadamente.
Sentou-se ao lado da janela e quando o ônibus saiu ela ainda viu Nelson olhando
com raiva para ela.
Aos
poucos, Jacira foi se acalmando e alguns minutos depois, recordando-se da cena
de momentos antes, começou a rir. Como pudera pensar que gostava do Nelson? Ela
que tivera receio de magoá-lo, agora percebia que ele não era nada do que
imaginara.
Era um homem possessivo, autoritário, que desejava manipulá-la e
impedir que ela continuasse progredindo. Se aceitasse o que ele queria, iria se
transformar em uma mulher apagada, infeliz e derrotada.
Ela
descobrira o prazer de tomar decisões que tinham transformado sua vida para
melhor. Não queria de forma alguma voltar atrás.
Sentia-se mais dona de si,
mais forte. Esse caminho não tinha volta. Ao contrário, ela só aceitaria ir
para a frente.
As
palavras de Lídia confirmaram o que ela sentia. Lembrou-se do espírito de
Marina. Ela colocara Lídia em seu caminho. Sentia que podia confiar na amizade
dela.
Era
prazeroso fazer amigos. Encontrara pessoas que valorizavam sua amizade.
Lembrou-se
das palavras de Geni:
"-
Não existe amizade sincera. As pessoas são interesseiras e só
fazem o que lhes convêm.
Eu não tenho amigas. Não confio nelas."
Ela
nunca tivera amigas por que sua mãe pensava dessa maneira. Acreditara em suas
palavras. Reconhecia agora o quanto estava equivocada.
Havia
pessoas boas, capazes de cultivar uma amizade. Margarida era uma prova disso.
Sentia que Lídia também era confiável e iria se tornar uma boa amiga.
Ela
sabia que a mãe pensava daquela forma. Acreditara em tudo que ela lhe dissera.
Ficará só e triste. Não se lembrava de vê-la recebendo alguém em casa.
Já o
pai tinha vários amigos fora de casa, mas nunca os convidava para visitá-los.
Certamente porque Geni não
gostava.
Ela
não queria ser igual a sua mãe. Gostaria de ter amigos para conversar,
compartilhar suas alegrias e tristezas.
Arrependia-se
de ter se deixado influenciar pelas ideias de Geni. Por ela pensar dessa forma nunca convidara
Margarida para ir a sua casa. Era sempre ela quem ia à casa da amiga, mesmo nos
dias em que não tinham de trabalhar.
Talvez
fosse o momento de mudar isso. Ela não desejava passar o resto da vida em uma
casa onde não pudesse receber seus amigos. O que Geni faria se ela levasse
Margarida em sua casa?
Jacira
desejava mudar, sentia prazer em desfrutar da amizade de pessoas das quais
gostava. Era muito agradável trocar ideias com Margarida e agora com Lídia.
várias
delas se aproximavam para conversar. Contudo, ela se afastara com medo de não
ser apreciada.
"-
Quem nasce pobre não tem chance na vida. Dê graças a Deus por encontrar o
emprego na oficina. Senão, estaríamos morrendo de fome."
De
novo as palavras de Geni vinham-lhe
à mente. Ou então:
Não adianta querer ser o que não é. Não
adianta querer se pintar para aparecer. Você nunca será bonita. Seja discreta.
Não deve sair por aí como se fosse uma prostituta".
Essa
era a maneira de pensar de sua mãe. Ela já não pensava mais assim. Sabia que
havia um bom lugar na vida e percebia que poderia ocupá-lo se quisesse.
Sentia-se com coragem para lutar em busca de
uma vida melhor, e o primeiro passo seria livrar-se das crenças que durante a vida
inteira ouvira da mãe, e as quais já não acreditava mais.
Ela conseguira mudar de vida, estava trabalhando por
conta própria, sendo capaz de sustentar melhor sua família. Um homem havia se
interessado por ela beijara-a,
quisera
viver com ela, sustentá-la. Ela ó havia recusado porque não o amava o suficiente, mas
esse acontecimento provara que como mulher tinha condições de encontrar alguém
que a amasse de verdade e com o qual construiria sua família.
Sentia-se livre, capaz, feliz e forte. Tinha toda uma vida
pela frente para construir sua felicidade.
Chegou em casa e encontrou
Geni sentada na sala lendo uma de suas revistas. Vendo-a entrar comentou:
- A cada dia você chega mais tarde. Onde ficou até
esta hora?
Apesar do tom malicioso, Jacira não se incomodou e
respondeu:
- Trabalhando. Temos tido muito serviço. Amanhã vou
receber e no sábado você vai comigo ao supermercado fazer as compras do mês.
- Eu?! Não tenho saúde para essas andanças.
- Você nunca sai de casa.
Está na hora de dar uma volta, respirar um ar.
- Eu sou doente, canso-me com facilidade. Não vou aguentar.
- Vai sim. Andar faz bem à
saúde. Não vai precisar carregar nada.
Eu vou mandar entregar. Depois, estou
pensando em lhe comprar algumas peças de roupa.
Geni arregalou os olhos:
- Para mim?
- Sim. Ganhei um pouco mais e quero que escolha
alguma coisa no bazar.
Os olhos de Geni brilharam
quando ela respondeu:
- Vamos ver se consigo ir.
Jacira sorriu e Geni continuou:
- Deixei comida no forno.
-
Comi com Margarida, vou só tomar um café com leite.
Geni limpara tudo. Sentiu-se feliz. Tomou seu café
com leite e bolachas, depois
foi
para o quarto. Sentia-se calma e com sono. Lavou-se, vestiu a camisola, deitou-se e em poucos
minutos adormeceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário