quinta-feira, 31 de agosto de 2017

CapĂ­tulo 21 

Passava das dez quando Jacira chegou em casa. 

Encontrou Geni na sala e notou logo que ela estava com a fisionomia preocupada.


-   VocĂȘ nĂŁo me parece bem. Aconteceu alguma coisa?


-   Nada demais. É que de repente me deu uma tristeza... NĂŁo sei por quĂȘ.


-   Cuidado com a recaĂ­da. Quer voltar a ser como antes?


-   NĂŁo tenho nenhum motivo para reclamar nem para me sentir triste. 


-   Mas vocĂȘ nĂŁo se esquece do Neto nem do Jair.


-   SĂŁo meus filhos. Sinto saudades. NĂŁo dĂĄ para esquecĂȘ-los. Se vocĂȘ tivesse filhos saberia o que estou sentindo.

Jacira colocou a mão no braço dela e respondeu com voz suave:

- Eu entendo. Tenho me esforçado para descobrir o paradeiro deles, mas não consegui nada.

- Faz dois meses que estamos indo Ă s sessĂ”es na casa de LĂ­dia. Maria LĂșcia tem estado bem.

-  LĂ­dia nos disse que a mĂŁe dela foi socorrida e levada para onde deve ficar.

-  Estela tem recebido mensagens dos mentores que nos ensinam a ficar no bem. Garantem que tudo que a vida faz Ă© para o melhor. Mas para mim estĂĄ di­fĂ­cil aceitar isso - tornou Geni.
-  Por quĂȘ?

-  Tenho rezado, procurado fazer o meu melhor, mas nĂŁo tenho conseguido nada.

-  NĂŁo diga isso. Deus tem sido generoso com todos nĂłs. Temos saĂșde, trabalho, vivemos com con­forto, nada nos falta.

-  Apesar de tudo isso que vocĂȘ diz, eu tenho me perguntado: Por que estou sendo tĂŁo castigada? Por que nĂŁo posso ter notĂ­cias dos meus filhos? O que eu fiz para que eles me abandonassem e esquecessem?

Jacira abraçou-a com carinho e respondeu:

- A pergunta certa seria: O que a vida quer me ensinar com isso? 

Qual é a lição que preciso aprender para que eles voltem a meu convívio?

Geni fixou-a admirada e respondeu:

-  Essa situação nĂŁo me ensina nada. SĂł me deixa triste e magoada.

-  É vocĂȘ que se magoa com a atitude deles. Cul­tivar a mĂĄgoa e a revolta nĂŁo vai trazĂȘ-los de volta. Por que vocĂȘ nĂŁo tenta pensar neles com amor e de­sejar que eles, onde estiverem, fiquem bem?

- Como toda mĂŁe, eu os quero aqui, ao meu lado. Jacira ficou pensativa por alguns instantes, de­pois respondeu:

-  VocĂȘ nĂŁo precisa ser como "toda mĂŁe". Talvez seja esse o motivo de eles terem ido embora.

-  Como assim?

- Eu sei que vocĂȘ os ama, mas ao entrar no "papel" de mĂŁe, acreditou que deveria fazer tudo para eles. Pelo que me lembro, vocĂȘ era muito apegada, controlava atĂ© o que eles pensavam.

- Eu queria o bem deles. Tinha que cuidar para que nĂŁo se desviassem do caminho certo.

-   VocĂȘ controlou tanto que eles acabaram indo embora.

-   VocĂȘ estĂĄ exagerando.

-   VocĂȘ fazia isso comigo tambĂ©m. Muitas vezes tive vontade de ir embora.

-   VocĂȘ nĂŁo faria isso! VocĂȘ nĂŁo!

-   A pressĂŁo que vocĂȘ fazia sobre mim era muito grande. Foi por esse motivo que eles se foram.
 
-   VocĂȘ estĂĄ me culpando pela ingratidĂŁo deles?


-   NĂŁo a estou culpando. VocĂȘ queria saber por que eles nos deixaram.

-   EstĂĄ justificando a atitude deles. Acha certo nĂŁo darem notĂ­cias?

-   NĂŁo. Eu gostaria muito que tudo fosse diferente. Mas entendo que se eles nĂŁo nos procuraram mais foi porque nĂŁo criamos com eles um vĂ­nculo de amizade.

-   NĂŁo concordo. NĂłs somos uma famĂ­lia. Eles de­veriam nos respeitar. Nasceram de mim. Eu os criei, perdi noites de sono, fiz o que pude para que cres­cessem com saĂșde. Acho que merecia ser respeitada.

-   Mas as coisas nĂŁo funcionam assim. VocĂȘ se esquece de que nĂłs somos espĂ­ritos encarnados. JĂĄ vivemos outras vidas, trazemos necessidades a serem atendidas e potenciais a serem desenvolvidos que vĂŁo alĂ©m dos costumes e dos modismos da sociedade.

A voz de Jacira estava um pouco diferente, ela falava com suavidade e ao mesmo tempo com fir­meza. Geni nĂŁo percebeu que o espĂ­rito de Marina, falava atravĂ©s dela. Sentia-se mexida, emocionada. Jacira continuou:

- Quando Deus reĂșne espĂ­ritos na Terra formando uma famĂ­lia, o faz visando o bem de todos. Alguns vĂȘm para vencer assuntos mal resolvidos de outras vidas, mas todos, sem distinção, reencarnam para desenvolver o autoconhecimento e aprender como a vida funciona.

- Quer dizer que todos nĂłs jĂĄ vivemos outras vidas antes dessa?

- VocĂȘ jĂĄ sabe que Ă© assim.

-  Sei, mas como poderia saber o que eles preci­savam? Fiz o que pensei ser melhor. EstĂĄ me culpando por tĂȘ-los amado demais?

-  Eu nĂŁo disse isso. Acontece que ao nascer, cada pessoa traz um plano de vida que, se for cumprido, vai fazĂȘ-la dar um passo Ă  frente, ser mais feliz. O pro­blema Ă© que vocĂȘ, como a maioria dos pais, tendo es­quecido o que aconteceu em outras vidas, deixou-se envolver pelas convençÔes do mundo e confundiu as coisas. Achou que sabia o que era melhor para eles sem respeitar a vocação que trouxeram e acabou difi­cultando o progresso que eles vieram buscar.

Geni ficou pensativa. Ela nunca tinha pensado nisso. Lembrou-se de que muitas vezes se forçava para ser durona com eles acreditando que seria para o bem. Começava a pensar que estava errada.

-  Acho que fiz tudo errado...

-  NĂŁo se condene. VocĂȘ fez sĂł o que pensou ser o melhor naquela Ă©poca. Mas agora vocĂȘ jĂĄ sabe mais e poderĂĄ agir de maneira diferente.

-  Do que vai adiantar? Eles nĂŁo vĂŁo voltar mesmo...

- Pense no que conversamos. Jogue fora suas mågoas. Sinta o amor que mora em seu coração e quando se lembrar deles, abrace-os com carinho, como se estivessem aqui. Vai se sentir muito bem. Onde eles estiverem sentirão o seu amor.

As lĂĄgrimas desciam pelas faces de Geni que nĂŁo conseguia controlĂĄ-las.

Jacira abraçou-a dizendo com carinho: 

- Deus a abençoe.


Permaneceram abraçadas enquanto Geni solu­Ă§ava compulsivamente. Jacira sentiu que fora o es­pĂ­rito de Marina quem estivera conversando atravĂ©s dela e, emocionada, agradeceu em pensamento.

Geni se acalmou e disse sem jeito:

-   NĂŁo sei o que me deu. NĂŁo pude controlar-me.

-   É bom desabafar de vez em quando.

-   Estou envergonhada.

Jacira sorriu e disse:

- Deveria sentir vergonha do tempo em que se fazia de vĂ­tima. Hoje vocĂȘ expressou um sentimento verdadeiro e merece respeito.

Geni suspirou, apanhou um lenço de papel, en­xugou o rosto um tanto corado pela emoção e disse:

-   O que eu mais quero neste mundo Ă© que os meninos voltem para casa. É sĂł o que falta para que sejamos completamente felizes.

-   NĂŁo podemos perder as esperanças. LĂ­dia ga­rante que eles ainda vĂŁo dar notĂ­cias.

-   Espero que ela esteja certa.

-   Eu confio no que ela diz. Estou cansada. Vou subir, tomar um banho e dormir.

-   Seu pai ainda estĂĄ vendo televisĂŁo, mas eu vou para o quarto rezar e pedir para que Deus os traga de volta.

-   Deus sabe o que precisamos e atenderĂĄ na hora certa. Pense neles, sinta o quanto os ama e imagine que os estĂĄ abraçando. Eles receberĂŁo suas energias onde estiverem.

Quando Jacira deitou-se, lembrando-se das pala­vras de Marina, mentalizou os irmĂŁos. Primeiro ima­ginou que estava abraçando Neto e lhe mandando vibraçÔes de carinho e alegria, depois abraçou Jair enviando-lhe pensamentos de carinho, pedindo-lhe que desse notĂ­cias.

Quando terminou, ouviu perfeitamente a voz de Marina dizendo:

- Faça isso todas as noites enquanto espera. Jacira agradeceu a ajuda que recebera e deitou-se.

Em alguns minutos adormeceu tranquilamente.

Quinze dias depois, quando Jacira chegou ao ateliĂȘ, encontrou Margarida a sua espera:

-   Ainda bem que chegou. NĂŁo aguentava mais esperar.

-   Cheguei no mesmo horĂĄrio de sempre. Acon­teceu alguma coisa?
Margarida segurou-a pelo braço e fĂȘ-la sentar-se ao seu lado no sofĂĄ:

-   Aconteceu, sim. Ontem Ă  noite, depois que todos saĂ­ram, o Dorival apareceu de surpresa. Veio falar comigo.

-   SerĂĄ que Ă© o que estou pensando? Finalmente ele se declarou?
-   Como assim? VocĂȘ percebeu?

-   O brilho dos olhos dele quando a via, os elo­gios...

-   De fato. HĂĄ algum tempo eu percebia que ele estava interessado, mas eu nĂŁo queria me iludir. Uma vez na vida foi o bastante.

-   Mas vocĂȘ tambĂ©m estĂĄ interessada nele.

-   NĂŁo sei atĂ© que ponto. Quando ele estĂĄ aqui, fico tensa, sinto muito a sua presença. Tenho procu­rado resistir, mas quando ele chega, fico eufĂłrica.

Jacira riu bem-humorada:

-   Confesse que vocĂȘ estĂĄ apaixonada!

-   NĂŁo. Eu nĂŁo quero.

-   Mas seu coração diz o contrĂĄrio.

-   HĂĄ momentos em que fica difĂ­cil de resistir. NĂŁo quero me iludir e sofrer de novo.

-   Ele a pediu em namoro?

- Ele quer se casar comigo. Jacira bateu palmas com alegria:

- Casamento? Que maravilha! Naturalmente vocĂȘ aceitou.

- Ainda nĂŁo lhe dei a resposta. Tenho medo.

- De quĂȘ? Dorival Ă© um homem maduro, inteligente, instruĂ­do, bom pai, carinhoso, honesto, alĂ©m disso, viĂșvo. VocĂȘ estima Marta como uma filha, ela e Marinho se adoram. O que estĂĄ esperando para dizer sim?

- VocĂȘ acha mesmo?

- Acho. Se vocĂȘ gosta mesmo dele, nĂŁo hĂĄ razĂŁo nenhuma para recusar. Penso que serĂŁo muito felizes juntos.

Margarida abraçou-a radiante:

- Prezo muito sua opiniĂŁo. VocĂȘ Ă© minha melhor amiga. Depois que nos conhecemos minha vida se trans­formou. Nunca poderei retribuir o que fez por mim.

-   Na verdade, vocĂȘ fez muito mais por mim do que eu por vocĂȘ. Somos mais do que irmĂŁs.

Ester chegou, elas lhe contaram a novidade e ela considerou:

-   Eu sabia que ele nĂŁo ia demorar a se declarar. Finalmente! Agora sĂł resta correr os papĂ©is e marcar a data.

-   E eu que pensava que estava sendo discreta... Que vocĂȘs nĂŁo haviam notado nada...

As duas abraçaram Margarida ao mesmo tempo com carinho e alegria.

Quando Marinho chegou do colĂ©gio, Margarida con­versou com ele sobre o pedido de casamento e finalizou:

-   Sua opiniĂŁo Ă© muito importante para mim. Acha que devemos aceitar?

-   Eu sempre quis ter um pai. No colĂ©gio todos os meus amigos tĂȘm pai, eles vĂŁo lĂĄ quando tem festa. Se vocĂȘ se casar, ele vai ser meu pai?

-   Vai. Ele gosta muito de vocĂȘ.

-   Eu tambĂ©m gosto dele.

Marinho beijou a face da mĂŁe e continuou alegre:

- Eu agora tenho um pai! Não sou mais órfão. Os olhos de Margarida marejaram e ela o abraçou
feliz.

- Marta vai ser minha irmĂŁ! Que bom! NĂłs vamos morar juntos na mesma casa?

- Certamente. Seremos uma famĂ­lia completa.

- NĂŁo vejo a hora que esse casamento saia! Margarida ligou para Dorival convidando-o para ir
Ă  noite conversar sobre o pedido:


- Estou ansioso. NĂŁo pode me adiantar o que de­cidiu?

Ela fez uma pausa, depois disse:

-   Estou pensando em aceitar.

-   VocĂȘ nĂŁo sabe como me faz feliz!

-   Precisamos conversar.

- Pode esperar. Uma hora depois, Dorival apareceu no ateliĂȘ, com
Marta e um buquĂȘ de rosas. Vendo-o chegar, Marga­rida, apanhada de surpresa, corou de emoção:

- Eu o esperava Ă  noite!

Ele beijou-a levemente na face, entregou-lhe as flores dizendo:

- NĂŁo aguentei esperar! Ontem ao chegar em casa falei com Marta que ficou muito feliz com a no­tĂ­cia! Queria que vocĂȘ soubesse.

Jacira abraçou os recém-chegados, felicitando-os pelo compromisso, e sugeriu:

-   Por que nĂŁo vĂŁo conversar lĂĄ em cima? VocĂȘs tĂȘm muito que planejar.

-   É verdade. Quero casar o mais breve possĂ­vel. NĂłs nĂŁo somos jovens, temos uma posição definida, nĂŁo hĂĄ por que esperar.

Eles subiram e Jacira acompanhou-os com o olhar. Ela tambĂ©m gostaria de encontrar um amor. Dese­java sentir essa emoção maravilhosa que causa tanto prazer. Seu relacionamento com Nelson nĂŁo lhe pro­porcionara esse sentimento.

Reconhecia que seu aparecimento servira apenas para que ela descobrisse que poderia encontrar alguĂ©m que a amasse de verdade. 

Estava com quarenta e trĂȘs anos e nunca havia amado. Intimamente se pergun­tava se aconteceria um dia.

Uma hora mais tarde, Marta desceu e procurou Jacira, rosto corado, olhos brilhantes, pediu:

- Dona Margarida estĂĄ pedindo para a senhora e d. Ester subirem.
As duas amigas se entreolharam sorrindo, e Ja­cira respondeu:

- NĂłs jĂĄ vamos.

Minutos depois, quando subiram para a sala de Margarida, elas os encontraram diante de uma ban­deja, algumas taças e uma garrafa de champanhe no balde de gelo.

Margarida estendeu a mĂŁo direita, onde no anular havia um anel com um belo brilhante, e disse sorrindo:

- Queremos comunicar que estamos noivos. Abraços, parabéns, votos de felicidade. Em meio às

exclamaçÔes de alegria, Dorival abriu a champanhe e en­cheu as taças pedindo que cada um se servisse. Levantou uma e com os olhos brilhantes de emoção disse:


- Hoje Ă© um dia muito feliz. Houve um tempo em minha vida muito triste. Cheguei a pensar que nunca mais sentiria alegria, prazer de viver. NĂŁo me julgava capaz de amar de novo. Para mim, a vida havia acabado.

Fez ligeira pausa e, notando que todos o ouviam atentamente, continuou:

- Ao me tornar viĂșvo mergulhei no papel de vĂ­­tima, olhando a vida de forma pessimista. VocĂȘs me ensinaram que os desafios da vida fazem parte do nosso amadurecimento. Que cada um tem um deter­minado tempo para viver aqui e terĂĄ que partir quando chegar a hora. Com a nossa convivĂȘncia, tenho apren­dido muito.

Ele fez silĂȘncio por alguns segundos, olhou em volta, e prosseguiu:

- Desde o começo, o sorriso amigo de Marga­rida, sua alegria, fez-me aproximar mais dela. Co-nhecendo-a melhor, descobri nela todas as qualidades que admiro em uma mulher. Estou feliz por ela ter me aceitado. Juntos, nĂłs quatro, formaremos uma famĂ­lia, onde haverĂĄ respeito, entendimento e muito amor. Esses sĂŁo os meus votos!

- E de todos nĂłs! - tornou Jacira.

- Que sejam felizes para sempre! - desejou Ester.

Margarida tinha permitido que Marinho e Marta também brindassem com champanhe e eles estavam felizes sentindo-se mais adultos.

Marta, que estava ao lado do pai olhando Marinho ao lado da mĂŁe, disse alegre:

- NĂłs agora somos irmĂŁos. Como eu sou a mais velha, vocĂȘ terĂĄ de me obedecer. Ele nĂŁo se deu por achado e respondeu:

-  Nada disso. Depois do meu pai, eu serei o homem da casa, e Ă© vocĂȘ quem terĂĄ de me obedecer!

-  NinguĂ©m vai mandar em ninguĂ©m - interveio Margarida. - Cada um vai respeitar o outro e todos vĂŁo agir no bem. Dessa forma, estaremos sempre ale­gres e em paz.

-  JĂĄ marcaram a data do casamento? - indagou Ester.

-  Dentro de dois meses - esclareceu Dorival. - Eu queria antes, mas Margarida acha que precisarĂĄ de mais tempo para arrumar tudo.

-  Eu vou programar essa festa! - exclamou Ester.

-  SerĂĄ uma festa simples - tornou Margarida. -Dorival sĂł tem um irmĂŁo que mora no interior e eu, sĂł tenho alguns amigos.

-  NĂŁo importa o nĂșmero de pessoas. NĂłs vamos fazer uma festa bem linda! - assegurou Ester.

-  Isso mesmo. O acontecimento merece! - com­pletou Jacira. - Tenho um compromisso agora. Um fornecedor chegou e estĂĄ me esperando.

-  Eu tambĂ©m jĂĄ vou descer - atalhou Margarida. 

-  Nada disso. Hoje Ă© um dia especial. VocĂȘs pre­cisam decidir todas as coisas. Eu e Jacira daremos conta de tudo. Eu atĂ© jĂĄ aprendi a lidar com as moças da oficina! - disse Ester com orgulho.


-  Isso mesmo - concordou Jacira. - Margarida tem o resto do dia de folga. NĂłs daremos conta de tudo.

Elas desceram comentando o acontecimento. As duas acreditavam que aquele casamento seria muito feliz.

- SĂł falta vocĂȘ!

Jacira pensou um pouco e depois respondeu:

- NĂŁo creio que vai acontecer comigo. Acho que nĂŁo fui feita para o casamento.

Ester lançou-lhe um olhar malicioso quando respondeu:

- NĂŁo acredito! Toda mulher deseja viver essa experiĂȘncia! VocĂȘ nĂŁo Ă© diferente!

- O fato de eu ter lutado muito para abrir ca­minho na vida e libertar-me do domĂ­nio de minha mĂŁe, tornou-me muito independente. NĂŁo vou aceitar nin­guĂ©m querer mandar em mim, dizer-me o que devo ou nĂŁo devo fazer.

-   VocĂȘ estĂĄ se lembrando do Nelson. Nunca chegou a amĂĄ-lo.
-   NĂŁo mesmo. Nunca conheci o amor.

Ester sorriu, colocou a mĂŁo no braço dela, e res­pondeu:

- Sua hora ainda vai chegar. VocĂȘ Ă© uma mulher forte, ardente, bonita. Um dia aparecerĂĄ alguĂ©m que vai se encantar com vocĂȘ e saberĂĄ lhe despertar o verdadeiro amor.

Jacira balançou a cabeça pensativa e disse de­vagar:

- Pode ser, mas eu duvido muito.

O fornecedor jĂĄ estava esperando hĂĄ alguns mi­nutos, Jacira foi atendĂȘ-lo e logo esqueceu esse pen­samento, dedicando-se ao trabalho.


 

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