quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capítulo 14 
Conforme combinado, Ester voltou a procurá-las. 

Estava muito elegante, olhos brilhantes irradiando ale­gria. Depois dos cumprimentos, Margarida brincou:

-  Você remoçou! O amor está lhe fazendo bem!

-  Você nem imagina quanto! Já me mudei para a casa de Renato. 

Estamos muito felizes!

-  Dá para notar! Parabéns! - tornou Jacira sorrindo.

-  Vim levá-las para conhecerem Renato e a casa de que lhes falei.

Estou com o carro na porta e ansiosa para decidirmos tudo.

As duas entreolharam-se indecisas e Ester não lhes deu tempo para responder:

-  Vamos logo. Renato está nos esperando. Não vamos demorar.

-  Está bem. Vamos? - indagou Margarida olhando Para a amiga.


-  Vamos.


As duas se arrumaram rapidamente e acompa­nharam Ester:

- Este é Jorge, nosso motorista. As duas olharam o carro elegante, o motorista
bem-arrumado e sentiram-se acanhadas. Ester não lhes deu tempo de dizer nada. Fê-las entrar no carro e sentou-se também:

- Pode ir, Jorge.

Jacira sentia-se emocionada. O carro macio e o perfume gostoso que vinha de Ester fê-la lembrar-se das palavras da mãe:

Quem nasce pobre, morre pobre. Não adianta fazer nada".

Isso era mentira. O mundo estava cheio de pes­soas que pensavam diferente, esforçaram-se, acredi­taram que mereciam uma vida melhor e conseguiram. Lá estava ela, em um carro de luxo, ao lado de uma grande amiga e de uma mulher que estava interes­sada em ajudá-las. Mesmo que aquele negócio não desse certo, dava para acreditar que quando você faz o seu melhor, tudo pode mudar.

Lembrou-se das aulas que assistira do dr. Ernesto onde ele ensinava tudo isso e afirmava categórico:

Além de fazer a sua parte melhorando seus conhecimentos para crescer e progredir, você precisa cultivar a generosidade, a honestidade. As bênçãos que a vida dá a alguém devem ser compartilhadas. A ganância, a mesquinhez, o egoísmo limitam a con­quista da felicidade. Alguns até podem progredir finan­ceiramente, mas a infelicidade vai acompanhá-los".

Ester conversava animadamente com Marga­rida, Jacira seguia em silêncio pensando que se a vida lhe desse a oportunidade de melhorar, saberia aproveitar, ajudar sua família e quem mais apare­cesse em seu caminho.

Ela sempre vira a mãe como uma mulher pregui­çosa, implicante, mal-humorada, ignorante. Mas aquela tarde que fora às compras com ela, percebeu o quanto ela se colocara à margem da vida. 

Mergulhada na de­sesperança, cultivando pensamentos depressivos, Geni perdera o gosto pela vida. Suas reclamações constantes eram uma forma ainda que inconsciente de pedir so­corro, de dizer o quanto estava triste. Pela primeira vez, Jacira entendeu por que ela se apegara tanto às fotonovelas. Foi a forma que Geni encontrou de sentir alguma emoção, de viver as histórias dos outros e es­quecer a própria vida.

O carro parou e Ester disse alegre:

- A conversa estava tão boa que nem vi o tempo passar. Chegamos!

O carro tinha passado pelo grande portão, cir­culado pelo belo jardim e todos se encontravam na entrada da casa. O motorista abriu as portas e elas desceram. A casa era antiga, mas muito bem cuidada conservando toda sua beleza.

As duas estavam um tanto acanhadas, e Ester brincou:

- Vamos entrar! Fale alguma coisa, Jacira! Nós falamos tanto e você veio tão calada!
 
-  Estava admirando a beleza do lugar!


-  É uma casa maravilhosa! - comentou Margarida.

- Eu também acho. Mas quem mora dentro dela, vale mais do que tudo isso. Eu casaria com ele mesmo que não tivesse nada. Ele é meu tesouro!

- Ela está apaixonada! - tornou Margarida sorrindo.

- Estou mesmo. Venham, vamos entrar. Subiram os degraus da varanda e entraram. Ester
levou-as até a sala e antes que se acomodassem, um homem de estatura mediana, rosto claro, cabelos cas­tanhos, muito elegante, aproximou-se, abraçou Ester beijando-a na face. Depois, fixou seus olhos pene­trantes e vivos nas duas visitantes.

- Então estas são suas melhores amigas! - ex­clamou ele. Sua voz era agradável, mas firme.

Depois das apresentações, elas se sentaram e ele disse sério:

-   Ester disse que vocês são empreendedoras. Têm um negócio próprio.

-   É verdade - respondeu Margarida. - Por en­quanto ainda é pequeno. Mas pensamos que temos tudo para crescer e prosperar.

- É um ateliê de costura. Margarida é muito boa profissional, eu estou aprendendo, mas estamos nos esforçando para melhorar.
-  Há quanto tempo estão trabalhando?

-  Há cerca de seis meses. Tempos atrás eu montei um ateliê, mas apesar de ter muitas clientes, fracassei.

-  A que você atribui o fracasso?

-  Bem, eu não valorizava o trabalho. Tinha ver­gonha de cobrar. Não queria parecer gananciosa.

-  Pensando desse jeito jamais iria prosperar. O trabalho bem feito merece o preço justo. Nem mais nem menos.

-  É o que eu penso - interveio Jacira.

Renato falava olhando dentro dos olhos delas e as duas sentiam-se fascinadas porque ele conversava com naturalidade, fazendo-as sentir-se à vontade, apesar de elas não estarem habituadas àquele am­biente. Parecia-lhes conhecê-lo há muito tempo.

As duas contaram como se conheceram e Jacira relatou suas experiências com as aulas do dr. Ernesto.

-  Eu o conheço muito e admiro. Além de um pro­fissional gabaritado, é um homem excepcional. Vocês ainda estão indo às suas aulas?

-  Margarida nunca foi e eu por enquanto parei por conta do trabalho. Mas adoro ir lá e algum dia ainda voltarei para aprender mais. Foi depois de conhecê-lo que comecei a olhar a vida de maneira diferente.

Renato ficou pensativo por alguns instantes e Ja­cira notou nos olhos dele um brilho de tristeza. Foi apenas um segundo, porém ela sentiu que ele devia ter vivido alguma experiência muito dolorosa em al­guma época de sua vida.

Os olhos dele voltaram a brilhar com alegria e Jacira ficou em dúvida se o que ela tinha sentido era verdadeiro.


Continuaram conversando até que Renato tocou no assunto que as interessava. Falou da casa vazia, das dificuldades que tivera com inquilinos, e que fora aconselhado pelos advogados a vendê-la e aplicar o dinheiro em um negócio mais rentável. Ele explicou:

- Eu não quis. É uma casa que pessoas muito queridas da minha família construíram, moraram e foram muito felizes. Na verdade, sou um sentimental. Ester sugeriu que a emprestasse a vocês e eu achei a ideia muito boa.

As duas iam responder, mas ele pediu:

- Não digam nada agora. Vamos até lá e depois conversaremos.
A casa era antiga, mas estava bem conservada.

- Eu mandei restaurar há pouco tempo e deixei-a igual a quando foi construída. Depois de verem tudo, Ester perguntou:
- E então? Não é linda?

-   É... - respondeu Margarida. - Mas é muito grande... Nosso negócio é pequeno... Não vai dar...

-   Bem que eu gostaria - aduziu Jacira -, mas não temos capital para começar. Este é um bairro de luxo. Nós estamos instaladas em uma casa simples, em um bairro pobre.

-   Mas apesar disso, vocês conseguiram ter uma clientela de nível elevado. Já encontrei lá mulheres de muita classe - opinou Ester.

-   Para nos instalarmos aqui, teríamos de fazer um ateliê melhor, de acordo com o lugar. Precisa­ríamos de dinheiro. Depois que deixamos a oficina para trabalharmos por conta própria, nossa situação financeira melhorou, mas ainda não deu para for­marmos um capital.

-   Você fez algum curso de administração empre­sarial? - indagou Renato.

-   Não. Eu fiz o ensino fundamental I. Não foi pos­sível cursar uma faculdade.

-   Sua forma de pensar prova que você sabe o que é preciso para iniciar um negócio. Quer dizer que se vocês tivessem capital para instalar-se aqui, aceita­riam nossa proposta?

Os olhos de Jacira brilharam quando ela res­pondeu:

-  Seria maravilhoso! Mas no momento não temos como dar esse passo.

-  Não tenha pressa. Vocês têm todo tempo para estudar o assunto, pensar. Não vou mesmo alugar a casa para ninguém. - Ele fez ligeira pausa, depois per­guntou: - Vamos imaginar que vocês tivessem esse dinheiro. Como montariam um ateliê aqui?

As duas se entusiasmaram e começaram a pla­nejar onde montariam cada seção. Os dois observavam admirados. Apesar das duas serem pessoas simples revelaram bom gosto e certo conhecimento.

Margarida tivera clientes abastadas e fora atendê-las em casa e com isso adquirira certo refinamento. Já Ja­cira, o único lugar de classe que tinha 
conhecido, fora o espaço de Ernesto e lá percebera a beleza de um lugar harmonioso, cheio de coisas bonitas.


Ester lembrou que seria bom elas morarem na casa. Porquanto, além de ser muito prático e econô­mico, faria o trabalho render mais.

- Isso para mim seria maravilhoso - considerou Jacira -, mas não posso deixar meus pais. Eles de­pendem de mim.

- Eles são doentes? - indagou Renato.

- Não. Meu pai passou dos sessenta e minha mãe está quase lá.

- Ele trabalhava em quê?

- Foi operário qualificado em uma fábrica durante mais de vinte anos. Despedido quando passou dos cin­quenta anos, ele nunca se conformou. Quis trabalhar, mas não conseguiu trabalho. Durante anos vivemos só com o dinheiro que eu recebia na oficina e sua apo­sentadoria. Quando deixei a oficina eles ficaram com medo que eu não conseguisse ganhar o suficiente.

- Você foi corajosa - comentou Renato.

- Eu estava cansada da miséria em que vivia e re solvi virar a mesa. Margarida me incentivou e propôs sociedade. Só deixamos a oficina quando percebemos que estávamos ganhando mais do que o salário. 

Foi a melhor coisa que fizemos. Jacira sorriu e continuou:

-  Sabem o que aconteceu? Papai encontrou um ex-colega de trabalho, que foi mais previdente do que ele. Quando foi demitido, com a indenização, montou um bar onde ele e a esposa trabalham.

Eles preci­savam de um garçom e o contrataram.

-  Deve ter sido ótimo para ele! O trabalho faz bem ao espírito. Eu não gostaria de ficar em casa sem fazer nada. Seria horrível! - declarou Renato.

-  De fato. Ele remoçou, às vezes chega cansado, mas muito feliz.

Fez novos amigos, está mais falante, conta coisas que acontecem no bar.

-  Sua mãe deve estar feliz! - tornou Renato.

-  Ela não está. Reclama o tempo todo que está sozinha, abandonada. Eu saio muito cedo e chego bem tarde. Ela não se conforma de ter de cuidar da casa sozinha. Estou pensando em pagar alguém para ajudá-la no trabalho doméstico. Mas por enquanto ainda não posso.

Eles conversaram durante mais algum tempo, já havia escurecido e Jacira levantou-se dizendo:

-  Já é noite! Acho que estamos abusando de sua paciência. O senhor é um homem ocupado.

-  Eu reservei todo tempo de hoje ao nosso encontro. Vamos voltar para casa e vocês jantam conosco.

Elas protestaram, mas Ester insistiu e, apesar de acanhadas, elas ficaram. No momento de se despedir, Renato disse:

- Eu gostaria de conhecer o ateliê de vocês. Ester adora ir lá.

- Teremos muito gosto em recebê-lo, doutor. Elas se despediram e Renato mandou o motorista
levá-las em casa. Primeiro ele deixou Margarida, depois foi levar Jacira. Ela disse que não precisava, mas ele in­sistiu. Era uma ordem do patrão e ele tinha de obedecer.


Passava das nove quando Jacira desceu do carro diante de sua casa. Ela observou que uma vizinha saiu na porta para olhar. Mas não se incomodou, disse um boa-noite e entrou.

Geni a tinha visto chegar e esperava nervosa:

-  O que você anda fazendo até uma hora dessas? De quem é esse carro que a trouxe?

-  É de uma das nossas clientes. Ela mandou o motorista me trazer.

- Que luxo! A troco de quê?

-  De gentileza, mãe. As pessoas de classe são gentis e amáveis.
-  O que os outros vão pensar vendo você chegar uma hora dessas em um carro de luxo?

-  Não tenho tempo para me incomodar com a maldade dos outros. Seria muito bom se você também não se preocupasse.

Jacira estava emocionada pelo encontro, pela possibilidade de aumentar seu negócio e ansiosa para contar tudo aos pais. Mas olhando o ar crítico de Geni achou melhor ficar calada. Ela certamente faria objeções, encontraria dificuldades.

- Deixei comida no forno, mas lave sua louça. Trabalhei o dia inteiro, estou exausta e hoje não quero lavar mais nada.

- Não se preocupe. Eu já jantei.

Ela subiu para o quarto e Geni foi atrás:

- Esse carro não parece ser de uma cliente. Não creio que vocês tenham clientes desse nível. Por que não fala a verdade? Arranjou outro namorado?

Jacira parou na porta do quarto, olhou-a séria e respondeu:

- Acredite no que quiser. Não direi mais nada. Eu também estou cansada. Boa noite.

Entrou rapidamente no quarto e fechou a porta, não dando tempo para que sua mãe dissesse algo. Res­pirou fundo tentando conter a irritação. Precisava con­servar a calma para analisar a proposta de Renato.

Tomou um banho procurando refazer as energias, depois se estendeu na cama, pensando no que fazer. Reconhecia que era uma oportunidade excelente. Mas antes de dar esse passo, precisaria melhorar seus co­nhecimentos na área administrativa.

Desde que deixara a oficina e se juntara a Marga­rida, ela sentia a necessidade de aprender mais sobre como cuidar melhor da parte financeira.

Margarida não gostava dessa parte, não tinha fa­cilidade de fazer contas e deixava tudo sob a respon­sabilidade de Jacira. Ela agia com cuidado, procurando fazer o melhor, mas quando tinha alguma dúvida, não sabia como se informar.

Pensando na proposta que receberam, ela achava que ainda não estavam preparadas para crescer tanto. Depois de muito pensar, decidiu não aceitar a proposta de Renato, mas procurar algum curso onde pudesse melhorar seus conhecimentos e sentir-se mais segura para dar esse passo.


Por sua mente passavam muitas ideias, planos e indagações. Custou a adormecer.

No dia seguinte, quando chegou à casa de Marga­rida encontrou-a também preocupada com a proposta que tinham recebido.

- Quase não dormi esta noite - disse Margarida -, aquela casa deu voltas em minha cabeça. Fiquei ima­ginando como faria o ateliê, a sala onde as freguesas seriam recebidas, o lugar das provas, a oficina de cos­tura! Desde ontem não consigo pensar em outra coisa.
- Eu também.

-  Tive algumas ideias muito boas. Você reparou que no andar superior há três suítes e que se nós duas mudássemos para lá, eu ficaria em uma, você em outra e Marinho na menor. Há ainda duas salas, você ficaria com uma, eu com outra. Iríamos morar com muito conforto e ainda teríamos espaço no térreo para um ateliê completo e muito chique.

-  Sonhar é bom, mas ainda é cedo para darmos esse passo. Não temos estrutura nem dinheiro. De­pois, eu não posso deixar minha família.

Margarida suspirou, pensou um pouco, depois disse:

- Eu pensei tudo isso, mas sei que não temos como "aceitar" essa oferta. Ester disse que temos tempo para pensar no assunto. Mas você está certa. Não quero meter os pés pelas mãos e de novo ficar cheia de dívidas.

-  Ainda bem que você entende. Mas isso não quer dizer que estamos desistindo. Estou pensando em ar­ranjar tempo para fazer um curso prático de adminis­tração, enquanto isso vamos economizar o quanto pu­dermos. Quando estivermos em condições, se essa casa ainda estiver disponível, poderemos seguir adiante.

-  Isso vai demorar e o dr. Renato não vai deixar a casa vazia para sempre.

-  Se ela não estiver vaga, encontraremos outra. O importante é nos prepararmos bem para fazer nosso negócio crescer de maneira segura.

- Isso mesmo. Vamos trabalhar. Temos muito serviço para entregar.

Apesar de terem decidido não aceitar, elas conti­nuaram imaginando como seria se montassem o ateliê. Margarida insistia com Jacira:

-  Não tem cabimento você ter de ir todos os dias de sua casa até o ateliê. Além de ser longe, você per­deria muito tempo. Ester tem razão. Você teria de ir morar junto.

-  Você sabe que isso não seria possível. Não posso deixar meus pais.

-  Por quê? Eles se habituariam. Depois, não estou dizendo para você abandoná-los. Até lá, estaríamos ganhando muito dinheiro.

Você daria mais assistência, arranjaria uma pessoa para fazer os serviços da casa.

-  É, não custa sonhar. Seria maravilhoso. Além de o serviço render, eu não teria mais de ficar na fila do ônibus, nem viajar em pé, espremida.

-  Nossa vida seria muito boa. Poderíamos sair, ir ao cinema, já pensou?


-  É tentador. Ainda ficaria livre das queixas de mamãe. Ela adora jogar a gente para baixo.

Margarida ficou calada durante alguns segundos, depois disse:

-   Ela vê a vida de uma maneira trágica, sente-se infeliz.

-   É verdade. Concordo que a nossa vida tem sido difícil. Mas, por outro lado, ela não reage, não faz nada para melhorar. Tenta se conformar com as difi­culdades, mas por dentro fica revoltada. O problema é que ela ainda não percebeu que a queixa, além de não ajudar em nada, ainda a deixa pior. O ambiente em nossa casa é triste, sombrio.

- Seu pai também é assim?

-   Não. Antes meu pai era alegre, conversador. Eu me recordo que quando eu era criança, algumas vezes ele levava amigos em casa, mas mamãe não gostava. Ficava de cara fechada e quando eles iam embora ela reclamava de tudo. Do trabalho por ter de fazer um café, da despesa porque ele gostava de servir alguma coisa mais. 

Ele acabou desistindo. Quando se aposentou, ela ficou mais queixosa e ele tornou-se mais desgostoso.

-   Sua mãe é daquelas pessoas que só vai valo­rizar a família que tem, quando for tarde demais. In­felizmente é assim.

- Faz tempo que você não visita sua família?

- Faz. Desde que eles descobriram que eu estava esperando um filho de um homem casado. Disseram que eu só continuaria morando com eles se abortasse. Então arrumei as minhas coisas, deixei minha cidade e vim para São Paulo. Nunca mais estive com eles.

- Eles não conhecem Marinho?

- Não. Mas, depois que vim para cá, encontrei duas pessoas da minha cidade, que frequentavam a casa deles. Isso faz três anos.

Elas estavam aqui de passagem. Estou certa de que ao chegarem lá, foram lhes contar tudo.

- Mas eles nunca a procuraram?

- Nunca. Meus pais são muito rígidos. Eu tenho uma irmã três anos mais nova e eles disseram que com meu comportamento depravado não poderia mais conviver com ela.

-  Deve ter sido duro para você.

-  Foi. Mas já passou. Eu enfrentei as dificuldades e o amor de meu filho me tornou forte. Não me arrependo de nada. Não tenho medo da vida. Aprendi uma pro­fissão, trabalho, sustento meu filho honestamente. Sei que errei, mas assumi as consequências, enfrentei os desafios e me tornei uma pessoa forte, determinada.

-  Apesar do que você passou, é uma pessoa alegre, amável, não se revoltou.

-  Não mesmo. Eu gosto de viver e de ser dona do meu nariz.

-  Talvez algum dia você encontre alguém que a ame como merece.
-  Não sei se eu quero. Estou tão bem assim!

-  Sei o que você está dizendo. Eu queria muito ter um namorado. Tive. Mas fiquei aliviada quando terminamos.


A conversa foi longe enquanto elas trabalhavam trocando confidências. Jacira não se abria com a mãe e Margarida estava separada de sua família. Elas se apoiavam mutuamente enquanto se esforçavam para construir uma vida melhor.


 

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