O dia estava clareando quando Jacira se levantou e arrumou-se para Ir trabalhar. Foi até a cozinha, estava coando o café quando Geni apareceu:
- Você
se levantou cedo!
- Estamos
com muito serviço.
- Por
quê? Vocês contrataram as auxiliares,
elas não ajudam? Vai ver estão gastando dinheiro à toa. Elas não estão
servindo para nada. A cada dia você trabalha mais!
- Elas
estão fazendo o que podem. É que nossa clientela está aumentando a cada dia.
Nós temos um casamento neste fim de semana, precisamos entregar tudo até depois
de amanhã.
- Quando
você estava na oficina não precisava trabalhar tanto.
- Mas
também não ganhava o que estou ganhando agora.
Geni alisou o penhoar cor-de-rosa que vestia e concordou:
- É verdade. Mas agora você
gasta muito mais Não guarda nada.
- Ainda
não dá. Nós estávamos precisando de tudo. Pelo menos agora podemos nos olhar no
espelho com prazer.
- Eu
ainda acho que você deveria usar vestidos mais compridos e não tão agarrados no
corpo.
Jacira
deu de ombros:
- É
assim que eu gosto e vou continuar usando. Vai me dizer que não gostou daquele
conjunto que lhe dei na semana passada?
- Gostei,
mas ele não é tão curto. Depois, eu nunca saio de casa, não tenho como usar.
- Por
que não convida papai para sair, ir ao cinema?
- Ele
não se importa comigo. Não sai daquele bar.
- Ele
tem uma noite de folga. Decerto pensa que você prefere ficar em casa. Vive
dizendo que está cansada, não gosta de nada...
- Mas
eu sou gente. Gostaria muito de sair, passear.
- Nesse
caso, trate de mudar. Ninguém convida uma pessoa que está cansada para sair.
Jacira,
que tinha terminado o café, levantou-se:
- Preciso
ir. Estou com pressa. Se nós não terminarmos todo trabalho hoje e ficar muito
tarde, vou dormir na casa de Margarida. Assim ganharei tempo.
- De
novo? Parece até que você não gosta de vir para casa. Enche a boca para dizer
que vai dormir lá.
- Você
sabe que não é isso. Ela tem vindo aqui, você disse que gosta dela, mas está
sempre reclamando. Eu não vou passear. Estou trabalhando! Voltarei se
terminar cedo. Não me espere.
Jacira
apanhou a bolsa e saiu. Fazia seis meses que elas tinham recusado a proposta de
Ester para montar o ateliê na casa de Renato. Mas Ester continuava insistindo,
dizendo que a casa continuava vazia, o que era uma pena.
Durante esse perÃodo, elas
tinham progredido. O número de clientes aumentara e as duas mocinhas que
contrataram faziam todo trabalho de acabamento nas roupas.
As duas estreitaram a amizade
com LÃdia e a filha. Ela lhes indicara um professor seu amigo para dar aulas a
Jacira. Fazia quatro meses que Dorival ia todos os sábados à casa de Margarida,
ensinar Jacira, orientá-la nos negócios, tirar suas dúvidas.
Dorival era formado em
administração de empresas, ministrava aulas em uma faculdade. Tinha quarenta
e seis anos, viúvo, uma filha de doze anos, Marta. Sua esposa, quando adoeceu,
procurou LÃdia para pedir-lhe
ajuda
espiritual. Ela os apoiou, auxiliando-os a atravessar essa fase difÃcil.
Depois que ela morreu, Marta apegou-se
a
Estela e tornaram-se inseparáveis.
Quando Jacira lhe disse
que queria ter aulas de finanças, LÃdia lembrou-se
de
Dorival e apresentou-o a Jacira. Conversaram. Ele
prontificou-se a ajudá-la. Ficou contente
por poder atender a um pedido de LÃdia e fazer alguma coisa em favor de Jacira
e Margarida. Não quis lhes cobrar nada pelas aulas.
Todos os sábados, Dorival
conferia todas as contas, ensinava-as
a
organizar os pagamentos etc.
Tirava
todas as dúvidas, enquanto Marta se divertia contando histórias a Marinho.
Dorival e a filha adoravam
esses encontros. Margarida sempre fazia algum bolo ou salgadinho para servir
com café.
Quando Jacira chegou na casa de Margarida, ela já
estava trabalhando.
- Você começou cedo! Ainda não são oito horas!
- Eu estava preocupada com um detalhe do vestido da
noiva. Achei que ia faltar renda. Mas deu tudo certo!
- Ainda bem.
Arlete e Joana chegaram e
logo se entregaram ao trabalho. As horas passaram rapidamente. No fim da tarde,
elas tinham adiantado bastante o serviço e estavam tomando café quando a
campainha tocou. Arlete foi abrir e voltou em seguida acompanhada de Ester e
Renato. Depois dos cumprimentos Renato tornou:
- Viemos aqui conversar com
vocês, em particular.
- Nesse caso, vamos até a
sala.
Uma vez acomodados, Ester foi a primeira a falar:
- Renato tem uma proposta a lhes fazer.
As duas olharam para ele esperando, em silêncio.
- Na verdade, sou um grande admirador de vocês duas.
Meses atrás, quando Ester me falou de vocês, concordei em oferecer-lhes
aquela casa, só para ter alguém
que cuidasse bem dela. Como sabem, tenho amor à propriedade, onde estão todas
as boas lembranças de minha famÃlia. Mas o tempo foi passando, e eu comecei a
conhecê-las melhor. Apesar da pouca experiência, agiram com bom senso, de
maneira correta, procurando se aprimorar, tiveram a humildade de estudar, dedicar-se
e estão obtendo sucesso.
Ele fez ligeira pausa e,
vendo que elas o ouviam atentamente, continuou:
- Vocês não precisam de ajuda. Estou certo de que
esse negócio vai crescer muito. Mas observando o entusiasmo de Ester, o bom
gosto e o prazer que ela sente em estar com vocês, tive uma ideia: vocês aceitariam
Ester como sócia para montar uma confecção de roupas femininas?
As duas, coradas de
emoção, não conseguiam dizer nada. Por fim, Margarida tornou:
- Seria maravilhoso! Esse
sempre foi o meu sonho!
- De fato, sonhamos com
isso, mas por enquanto é só um sonho! - aduziu Jacira.
- Estou disposto a investir
nesse negócio. Acho que vocês estão prontas para esse desafio.
- Não sei, dr. Renato... - considerou Margarida pensativa. - Nós progredimos, mas ainda não temos capital.
- Vocês têm o mais difÃcil,
que é o senso profissional, a ética no trato do negócio, a vontade de progredir. Quanto ao capital, estou disposto a
bancar. Então, o que acham? Aceitam?
- Precisamos
pensar... - tornou Margarida.
- É um
passo muito grande! Será que daremos conta do recado? -
perguntou Jacira.
- Eu
tenho experiência, sei que vocês estão prontas. Claro que com o tempo poderão
deslanchar mais. Estou certo disso.
Ester
interveio:
- Eu
sempre gostei de trabalhar. Depois que nos casamos, querÃamos viajar, deixei o
emprego. Mas Renato é muito ocupado e eu tenho todo tempo livre. Vou adorar me
dedicar ao nosso negócio.
Isto é, se vocês me aceitarem como sócia.
Margarida
levantou-se e abraçou-a com carinho:
- Será uma honra trabalharmos
juntas. Sempre admirei seu bom gosto, sua classe!
Jacira
juntou-se a elas:
- Vai
ser um sucesso. Eu estou aprendendo a conhecer o mundo da moda. Você tem muito
a nos ensinar!
- Isso
quer dizer que aceitam! - tornou Renato sorrindo. - Vamos combinar tudo. Temos
muito trabalho pela frente. Vocês precisam escolher o nome da empresa e eu
farei o contrato social. Já tenho uma ideia do quanto vou investir de capital.
- Nós precisamos
saber o prazo que teremos para pagar seu investimento, os juros que vai cobrar
e a participação dos lucros de cada uma - pediu Jacira.
- Não
se preocupe, serei razoável. Estou torcendo para que vocês tenham sucesso. Os
lucros serão divididos em três partes iguais - esclareceu Renato.
- O
senhor está nos dando um presente! - disse Margarida.
- Não
penso assim. Sou um homem de negócios. Não colocaria meu dinheiro em um negócio
no qual não confiasse. Estou certo de que também vou ter lucro.
Elas
sentaram-se ao redor da mesa, Margarida apanhou dois blocos e começaram a fazer
planos. Passava das nove quando Ester e o marido se despediram, ficando de voltarem na
noite seguinte para continuarem o assunto.
Depois que eles se foram. Margarida abraçou Jacira dizendo
emocionada:
- Agora não temos como voltar atrás!
- Dá um friozinho nas costas
só em pensar em tudo!
- Gostaria de conversar com
LÃdia, mas hoje não dá. Se sairmos o serviço ficará parado - lembrou Margarida.
- Não podemos deixar a noiva
na mão. Vamos voltar ao trabalho. Já avisei mamãe que vou dormir aqui. Estou
disposta a recuperar o atraso.
- Ótimo.
Eu também. Vou ver um lanche
rápido para nós e voltaremos ao trabalho.
Apesar de estarem atentas
ao trabalho, as duas não conseguiam esquecer a proposta de Renato. De vez em
quando uma lembrava algum detalhe e a conversa girava em torno dos novos projetos.
Passava das três horas da
madrugada quando finalmente reconheceram que estavam cansadas e foram dormir.
Marinho cedia sua cama
para Jacira e ficava feliz porque adorava dormir com a mãe.
Ela lavou-se rapidamente, e, apesar de cansada, lembrou-se da proposta recebida e agradeceu a Deus, porém
pensou no espÃrito de Marina e pediu sua proteção para os novos projetos.
Adormeceu em seguida.
Pouco depois, viu-se em um jardim florido, cujo
perfume delicado a fez recordar-se
de que
já havia estado naquele lugar.
Olhou em volta e viu
Marina se aproximando. Não conteve a emoção. Abraçou-a dizendo:
- Que bom vê-la! Adoro estar
com você neste lugar maravilhoso. Gostaria de poder ficar aqui para sempre!
- Ainda não é hora de
voltar. Venha, temos de conversar.
Sentaram-se
em um banco, Jacira aspirava o
ar com prazer, desejando não perder nem um segundo
desse encontro, esperou que Marina falasse.
- Sua
vida vai mudar. Novos acontecimentos, novas pessoas vão fazer parte de sua
vida. Você terá toda chance de conseguir realizar o que foi buscar nessa sua encarnação, mas tudo vai depender de
como você vai agir nessa nova fase.
- Estou
disposta a fazer tudo o que for possÃvel para conseguir. Sinto que preciso
vencer alguma coisa importante, mas não sei o que é.
- Você
esqueceu o passado. Foi preciso para que pudesse suportar os desafios do
caminho. Mas eu pedi aos nossos superiores que me permitissem auxiliá-la nessa
trajetória.
- Que
bom! Há momentos em que me sinto insegura, não sei o que fazer...
- Não
deveria. Apesar dos desafios que têm tido em sua vida, você já possui
conquistas que lhe permitem ser mais consciente sobre as verdades da vida
espiritual.
- Recebemos
a proposta do dr. Renato para um negócio e não sei se fizemos bem a aceitando.
- É
você quem deve decidir o rumo que deseja dar a sua vida. A responsabilidade é
só sua. Vou auxiliá-la, mas não vou dizer o que deve fazer. É você quem
escolhe.
- Eu
esperava que me mostrasse o que fazer. Mas então, como pode me ajudar?
- Inspirando-lhe pensamentos bons, oferecendo energias
de paz, bem-estar, e na medida em que você for se esforçando em ser uma pessoa
verdadeira, ficar no bem, procurar fazer o seu melhor, eu terei abertura para
esclarecer alguma dúvida, inspirar algumas ideias construtivas. É só o que eu
posso fazer.
- Entendo.
Já é muito. Às vezes me sinto cansada, principalmente quando minha mãe faz
tudo para me deixar para baixo.
- Geni é um espÃrito sofrido que, para esquecer a dor, bloqueou
os próprios sentimentos.
- Talvez ela seja assim
por causa dos meus ir mãos que sumiram no mundo.
- Antes de nascer, eles
prometeram ajudá-la, ma quando chegou a hora se acovardaram.
- Nós nunca mais tivemos
notÃcias deles. Chegue a pensar que tivessem morrido.
- Mesmo assim você pode
ajudá-los.
- Como? Eles se foram há
tantos anos! Nem se onde estão.
- Quando pensar neles, faça
uma prece, peça Deus por eles. Será de grande ajuda.
- Essa é a causa do
sofrimento de mamãe?
- Ela aceitou nascer com
vocês, porque todo prometeram ajudá-la a refazer seu caminho. A mago dela vem
de outra vida, mas quando eles se foram ela se desanimou. Perdeu a pouca
esperança que tinha d conquistar uma vida melhor.
- Eu não sabia disso. Por
esse motivo ela vive re clamando de tudo. Só enxerga o lado pior.
- A depressão é uma doença
que a alma carreg e que nem sempre se resolve apenas em uma encar nação. O
espÃrito precisa abrir o entendimento, aprende a olhar a vida pelo lado melhor,
reagir, recuperar a pró pria força que jogou fora. Isso pode levar tempo.
- Minha mãe não vai mudar nesta encarnação.
- Procure não julgar. Você não sabe o que va dentro do coração dela. Quando
chegar a hora, a vida tem seus próprios meios de ensiná-la. O que não pode é
perder a esperança e jogar sobre ela sua falta de fé.
- Eu não faria isso!
- É o que está fazendo
quando diz que ela va demorar para mudar.
- Eu gostaria muito que ela
melhorasse. Tenho tentado despertar seu interesse pela vida. Mas está difÃcil.
- Ao contrário. Você está no
caminho certo. Ela está começando a ver-se como mulher, embora esteja viciada a
olhar sempre o lado negativo. Vamos dar uma volta para refazer suas energias.
Quando acordar vai sentir-se
muito
bem.
Marina levantou-se, passou o braço pelo de Jacira e ambas foram
deslizando pelo jardim florido e perfumado. Jacira respirava sentindo imenso
prazer. Quando atingiram a cidade o dia estava clareando e os primeiros raios
de sol se derramavam sobre a Terra.
Em poucos minutos entraram
no quarto onde o corpo de Jacira estava adormecido e ela sentiu que não queria separar-se de Marina.
- Tenho que ir. Mas lembre-se
de que uma famÃlia, mesmo
separada por desentendimentos, faz parte de um plano divino que lhes oferece a
chance de solucionar problemas mal resolvidos do passado. Eles são causa de
muitas lutas, provocam dor, mas fugir de enfrentá-los apenas os transfere para
mais adiante, até que seus membros se decidam a optar pelo perdão e
entendimento. Seus irmãos fugiram, mas um dia a vida vai reuni-los novamente
para uma nova tentativa. Só o perdão consegue trazer a libertação. Lembre-se
disso. Deus a abençoe.
Marina segurou a mão de
Jacira e acomodou-a no corpo adormecido,
enquanto ela se virava para o lado. Marina acariciou sua testa e saiu.
Jacira remexeu-se na cama, abriu os olhos, em seus ouvidos ainda
soavam as últimas palavras de Marina:
"-
Só o perdão consegue trazer a
libertação".
Jacira olhou o relógio,
eram seis horas. Levantou-se. Apesar de ter dormido
poucas horas, sentia-se descansada e
bem-disposta.
Sentou-se na cama tentando recordar-se de tudo quanto Marina lhe dissera.
O bloco que usara na
reunião estava sobre a mesa de cabeceira. Apanhou o lápis e rapidamente anotou
o que se lembrava da conversa que tivera com Marina. Ela sabia que se não o
fizesse, mais tarde não se lembraria de nada.
Depois de lavar-se, foi à cozinha. Vendo que Margarida ainda não tinha
se levantado, fez o café, pôs a mesa e sentou-se
pensando
em tudo quanto lhe acontecera.
Ela nunca sentira saudades
dos irmãos. Neto era dois anos mais velho do que ela e não parava muito em casa. Só
falava com ela para pedir alguma coisa, nunca se detivera para conversar. Ele tinha
vinte e seis anos quando um dia disse que estava cansado da vida de pobre e ia
tentar a vida no Rio de Janeiro. Junto suas coisas e foi se embora. Escrevera
algumas vezes para a mãe, dizendo que trabalhava em um hotel. Fazia alguns anos
que não dava notÃcias.
O outro, Jair, era dois anos mais novo do
que ela e muito diferente do irmão. Irritava-se com as ideias do pai que impunha o que
queria e se recusava a ouvir o que eles pensavam. Criticava Jacira por ela ser
sempre burro de carga do resto da famÃlia, dizia que ela precisava se revoltar,
brigar, exigir que os demais a respeitassem.
Mas era com a mãe que ele mais implicava. Não
gostava da comida que ela fazia, dos conselhos que ela dava, das frases que
costumava dizer sempre olhando a vida pelo lado pior, e dizia:
"- Vocês estão conformados com essa vida
miserável. Eu, não. Um dia vou ser rico, muito rico. Vocês vão ver."
Geni protestava,
brigava. Em casa ele era criticado, mas fora tinha muitos amigos, estava
sempre rodeado de dois ou três. A mãe implicava com todos. Se estavam
estudando, ela dizia que era perda de tempo porque tinha muitas pessoas
estudadas levando vida de pobre. Se jogavam bola na rua, ou se divertiam com
alguma brincadeira, ela os repreendia dizendo que estavam perdendo tempo com
coisas sem importância.
O pai tentara empregá-lo na fábrica, mas Jair não quis. Aristides lhe arranjava emprego e o
obrigava a ir. Mas tornava-se violento quando ele se recusava. Para evitar
brigas, ele cedia, mas como não se interessava pelo serviço, logo era demitido.
Isso
provocava uma briga maior. Ele tinha de ouvir o pai falar dos anos que ele
estava trabalhando na mesma empresa e que ele era vagabundo.
Os
melhores amigos de Jair eram
de famÃlias mais abastadas e Geni ficava irritada dizendo que o filho queria ser mais
do que era e que nunca teria nada na vida.
apesar
de usar roupas simples e até sem graça, elas estavam sempre impecáveis e ele
bem-arrumado.
Aos
dezesseis anos arranjou emprego em um escritório, conseguindo comprar roupas
melhores. Ele, porém, recusava-se a dar seu salário ao pai, o que provocava
várias brigas.
Jacira
sabia que ele estava juntando dinheiro para conseguir continuar estudando.
Sonhava ir para a universidade. Mas os pais achavam que ele não seria capaz.
Quando
Neto saiu de casa, Jair estava
com vinte e dois anos e pouco depois ele também resolveu tentar a vida,
escolheu o Rio Grande do Sul. Teve uma oferta de um emprego melhor na cidade de
Porto Alegre e foi embora.
Os
pais brigaram, dizendo que ele era um ingrato, que não amava a famÃlia, mas
ele argumentou que não ia perder essa chance.
Arrumou as coisas e foi embora.
Nos
primeiros anos, mandou algumas notÃcias. Mas como os pais não responderam suas
cartas, não escreveu mais.
Ao
recordar o passado, Jacira começou a se perguntar por que ela deixara o tempo
passar e nunca tentara saber dos irmãos. Teve de admitir que antes ela vivia
fora da realidade, insatisfeita, triste, acreditando nas ideias erradas que seus pais
puseram em sua cabeça.
Onde
estariam seus irmãos? Marina dissera que um dia a vida os colocaria frente a
frente para um entendimento. Talvez isso não acontecesse nesta vida, mas se um
dia eles voltassem a se encontrar, ela agiria diferente. Procuraria conhecê-los
melhor, tentaria recuperar o tempo perdido.
Pensando assim, sentiu uma
grande sensação de bem-estar.
Margarida apareceu na cozinha e elas voltaram a
conversar sobre trabalho. Depois do café, apressaram-se para recomeçar as tarefas do dia.
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