quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Capítulo 15 

O dia estava clareando quando Jacira se levantou e arrumou-se para Ir trabalhar. Foi até a cozinha, es­tava coando o café quando Geni apareceu:


-  Você se levantou cedo!


-  Estamos com muito serviço.


- Por quê? Vocês contrataram as auxiliares, elas não ajudam? Vai ver estão gastando dinheiro à toa. Elas não estão servindo para nada. A cada dia você trabalha mais!


-  Elas estão fazendo o que podem. É que nossa clientela está aumentando a cada dia. Nós temos um casamento neste fim de semana, precisamos entregar tudo até depois de amanhã.


-  Quando você estava na oficina não precisava trabalhar tanto.
 

- Mas também não ganhava o que estou ga­nhando agora.


Geni alisou o penhoar cor-de-rosa que vestia e concordou:


- É verdade. Mas agora você gasta muito mais Não guarda nada.


-   Ainda não dá. Nós estávamos precisando de tudo. Pelo menos agora podemos nos olhar no espelho com prazer.


-   Eu ainda acho que você deveria usar vestidos mais compridos e não tão agarrados no corpo.


Jacira deu de ombros:


-   É assim que eu gosto e vou continuar usando. Vai me dizer que não gostou daquele conjunto que lhe dei na semana passada?


-   Gostei, mas ele não é tão curto. Depois, eu nunca saio de casa, não tenho como usar.


-   Por que não convida papai para sair, ir ao ci­nema?


-   Ele não se importa comigo. Não sai daquele bar.


-   Ele tem uma noite de folga. Decerto pensa que você prefere ficar em casa. Vive dizendo que está can­sada, não gosta de nada...


-   Mas eu sou gente. Gostaria muito de sair, passear.


-   Nesse caso, trate de mudar. Ninguém convida uma pessoa que está cansada para sair.


Jacira, que tinha terminado o café, levantou-se:


-   Preciso ir. Estou com pressa. Se nós não ter­minarmos todo trabalho hoje e ficar muito tarde, vou dormir na casa de Margarida. Assim ganharei tempo.


-   De novo? Parece até que você não gosta de vir para casa. Enche a boca para dizer que vai dormir lá.

-   Você sabe que não é isso. Ela tem vindo aqui, você disse que gosta dela, mas está sempre recla­mando. Eu não vou passear. Estou trabalhando! Vol­tarei se terminar cedo. Não me espere.

Jacira apanhou a bolsa e saiu. Fazia seis meses que elas tinham recusado a proposta de Ester para montar o ateliê na casa de Renato. Mas Ester conti­nuava insistindo, dizendo que a casa continuava vazia, o que era uma pena.

Durante esse período, elas tinham progredido. O número de clientes aumentara e as duas mocinhas que contrataram faziam todo trabalho de acabamento nas roupas.

As duas estreitaram a amizade com Lídia e a filha. Ela lhes indicara um professor seu amigo para dar aulas a Jacira. Fazia quatro meses que Dorival ia todos os sábados à casa de Margarida, ensinar Jacira, orientá-la nos negócios, tirar suas dúvidas.

Dorival era formado em administração de em­presas, ministrava aulas em uma faculdade. Tinha qua­renta e seis anos, viúvo, uma filha de doze anos, Marta. Sua esposa, quando adoeceu, procurou Lídia para pedir-lhe ajuda espiritual. Ela os apoiou, auxiliando-os a atra­vessar essa fase difícil. Depois que ela morreu, Marta apegou-se a Estela e tornaram-se inseparáveis.

Quando Jacira lhe disse que queria ter aulas de finanças, Lídia lembrou-se de Dorival e apresentou-o a Jacira. Conversaram. Ele prontificou-se a ajudá-la. Ficou contente por poder atender a um pedido de Lídia e fazer alguma coisa em favor de Jacira e Margarida. Não quis lhes cobrar nada pelas aulas.

Todos os sábados, Dorival conferia todas as contas, ensinava-as a organizar os pagamentos etc. Tirava todas as dúvidas, enquanto Marta se divertia contando histórias a Marinho.

Dorival e a filha adoravam esses encontros. Mar­garida sempre fazia algum bolo ou salgadinho para servir com café.

Quando Jacira chegou na casa de Margarida, ela já estava trabalhando.

- Você começou cedo! Ainda não são oito horas!

- Eu estava preocupada com um detalhe do vestido da noiva. Achei que ia faltar renda. Mas deu tudo certo!

- Ainda bem.

Arlete e Joana chegaram e logo se entregaram ao trabalho. As horas passaram rapidamente. No fim da tarde, elas tinham adiantado bastante o serviço e estavam tomando café quando a campainha tocou. Arlete foi abrir e voltou em seguida acompa­nhada de Ester e Renato. Depois dos cumprimentos Renato tornou:

-  Viemos aqui conversar com vocês, em particular.


-  Nesse caso, vamos até a sala.

Uma vez acomodados, Ester foi a primeira a falar:

- Renato tem uma proposta a lhes fazer.

As duas olharam para ele esperando, em silêncio.

- Na verdade, sou um grande admirador de vocês duas. Meses atrás, quando Ester me falou de vocês, concordei em oferecer-lhes aquela casa, só para ter alguém que cuidasse bem dela. Como sabem, tenho amor à propriedade, onde estão todas as boas lembranças de minha família. Mas o tempo foi passando, e eu comecei a conhecê-las melhor. Apesar da pouca experiência, agiram com bom senso, de maneira correta, procurando se apri­morar, tiveram a humildade de estudar, dedicar-se e estão obtendo sucesso.

Ele fez ligeira pausa e, vendo que elas o ouviam atentamente, continuou:

- Vocês não precisam de ajuda. Estou certo de que esse negócio vai crescer muito. Mas observando o entusiasmo de Ester, o bom gosto e o prazer que ela sente em estar com vocês, tive uma ideia: vocês acei­tariam Ester como sócia para montar uma confecção de roupas femininas?

As duas, coradas de emoção, não conseguiam dizer nada. Por fim, Margarida tornou:

-   Seria maravilhoso! Esse sempre foi o meu sonho!

-   De fato, sonhamos com isso, mas por enquanto é só um sonho! - aduziu Jacira.

-   Estou disposto a investir nesse negócio. Acho que vocês estão prontas para esse desafio.

-   Não sei, dr. Renato... - considerou Margarida pensativa. - Nós progredimos, mas ainda não temos capital.

-   Vocês têm o mais difícil, que é o senso pro­fissional, a ética no trato do negócio, a vontade de progredir. Quanto ao capital, estou disposto a bancar. Então, o que acham? Aceitam?

-   Precisamos pensar... - tornou Margarida.

-   É um passo muito grande! Será que daremos conta do recado? -

perguntou Jacira.

- Eu tenho experiência, sei que vocês estão prontas. Claro que com o tempo poderão deslanchar mais. Estou certo disso.

Ester interveio:

- Eu sempre gostei de trabalhar. Depois que nos casamos, queríamos viajar, deixei o emprego. Mas Re­nato é muito ocupado e eu tenho todo tempo livre. Vou adorar me dedicar ao nosso negócio. 

Isto é, se vocês me aceitarem como sócia.

Margarida levantou-se e abraçou-a com carinho:

-        Será uma honra trabalharmos juntas. Sempre admirei seu bom gosto, sua classe!

Jacira juntou-se a elas:
 
-   Vai ser um sucesso. Eu estou aprendendo a co­nhecer o mundo da moda. Você tem muito a nos ensinar!


-   Isso quer dizer que aceitam! - tornou Renato sorrindo. - Vamos combinar tudo. Temos muito tra­balho pela frente. Vocês precisam escolher o nome da empresa e eu farei o contrato social. Já tenho uma ideia do quanto vou investir de capital.

-   Nós precisamos saber o prazo que teremos para pagar seu investimento, os juros que vai cobrar e a participação dos lucros de cada uma - pediu Jacira.

-   Não se preocupe, serei razoável. Estou torcendo para que vocês tenham sucesso. Os lucros serão divi­didos em três partes iguais - esclareceu Renato.

-   O senhor está nos dando um presente! - disse Margarida.

-   Não penso assim. Sou um homem de negócios. Não colocaria meu dinheiro em um negócio no qual não confiasse. Estou certo de que também vou ter lucro.

Elas sentaram-se ao redor da mesa, Margarida apanhou dois blocos e começaram a fazer planos. Pas­sava das nove quando Ester e o marido se despediram, ficando de voltarem na noite seguinte para continuarem o assunto.

Depois que eles se foram. Margarida abraçou Ja­cira dizendo emocionada:

- Agora não temos como voltar atrás!

-  Dá um friozinho nas costas só em pensar em tudo!

-  Gostaria de conversar com Lídia, mas hoje não dá. Se sairmos o serviço ficará parado - lembrou Margarida.

-  Não podemos deixar a noiva na mão. Vamos voltar ao trabalho. Já avisei mamãe que vou dormir aqui. Estou disposta a recuperar o atraso.

-  Ótimo. Eu também. Vou ver um lanche rápido para nós e voltaremos ao trabalho.

Apesar de estarem atentas ao trabalho, as duas não conseguiam esquecer a proposta de Renato. De vez em quando uma lembrava algum detalhe e a con­versa girava em torno dos novos projetos.

Passava das três horas da madrugada quando finalmente reconheceram que estavam cansadas e foram dormir.

Marinho cedia sua cama para Jacira e ficava feliz porque adorava dormir com a mãe.

Ela lavou-se rapidamente, e, apesar de cansada, lembrou-se da proposta recebida e agradeceu a Deus, porém pensou no espírito de Marina e pediu sua pro­teção para os novos projetos.

Adormeceu em seguida. Pouco depois, viu-se em um jardim florido, cujo perfume delicado a fez re­cordar-se de que já havia estado naquele lugar.

Olhou em volta e viu Marina se aproximando. Não conteve a emoção. Abraçou-a dizendo:

-   Que bom vê-la! Adoro estar com você neste lugar maravilhoso. Gostaria de poder ficar aqui para sempre!


-   Ainda não é hora de voltar. Venha, temos de conversar.

Sentaram-se em um banco, Jacira aspirava o ar com prazer, desejando não perder nem um segundo desse encontro, esperou que Marina falasse.

-  Sua vida vai mudar. Novos acontecimentos, novas pessoas vão fazer parte de sua vida. Você terá toda chance de conseguir realizar o que foi buscar nessa sua encarnação, mas tudo vai depender de como você vai agir nessa nova fase.

-  Estou disposta a fazer tudo o que for possível para conseguir. Sinto que preciso vencer alguma coisa importante, mas não sei o que é.

-  Você esqueceu o passado. Foi preciso para que pudesse suportar os desafios do caminho. Mas eu pedi aos nossos superiores que me permitissem auxiliá-la nessa trajetória.

-  Que bom! Há momentos em que me sinto inse­gura, não sei o que fazer...

-  Não deveria. Apesar dos desafios que têm tido em sua vida, você já possui conquistas que lhe permitem ser mais consciente sobre as verdades da vida espiritual.

-  Recebemos a proposta do dr. Renato para um negócio e não sei se fizemos bem a aceitando.

- É você quem deve decidir o rumo que deseja dar a sua vida. A responsabilidade é só sua. Vou au­xiliá-la, mas não vou dizer o que deve fazer. É você quem escolhe.

-  Eu esperava que me mostrasse o que fazer. Mas então, como pode me ajudar?

- Inspirando-lhe pensamentos bons, oferecendo energias de paz, bem-estar, e na medida em que você for se esforçando em ser uma pessoa verdadeira, ficar no bem, procurar fazer o seu melhor, eu terei aber­tura para esclarecer alguma dúvida, inspirar algumas ideias construtivas. É só o que eu posso fazer.

-  Entendo. Já é muito. Às vezes me sinto can­sada, principalmente quando minha mãe faz tudo para me deixar para baixo.

-  Geni é um espírito sofrido que, para esquecer a dor, bloqueou os próprios sentimentos.

- Talvez ela seja assim por causa dos meus ir mãos que sumiram no mundo.

-  Antes de nascer, eles prometeram ajudá-la, ma quando chegou a hora se acovardaram.

-  Nós nunca mais tivemos notícias deles. Chegue a pensar que tivessem morrido.

-  Mesmo assim você pode ajudá-los.

-  Como? Eles se foram há tantos anos! Nem se onde estão.

-  Quando pensar neles, faça uma prece, peça Deus por eles. Será de grande ajuda.
 
-  Essa é a causa do sofrimento de mamãe?


- Ela aceitou nascer com vocês, porque todo prometeram ajudá-la a refazer seu caminho. A mago dela vem de outra vida, mas quando eles se foram ela se desanimou. Perdeu a pouca esperança que tinha d conquistar uma vida melhor.

-   Eu não sabia disso. Por esse motivo ela vive re clamando de tudo. Só enxerga o lado pior.

-   A depressão é uma doença que a alma carreg e que nem sempre se resolve apenas em uma encar nação. O espírito precisa abrir o entendimento, aprende a olhar a vida pelo lado melhor, reagir, recuperar a pró pria força que jogou fora. Isso pode levar tempo.

- Minha mãe não vai mudar nesta encarnação.

- Procure não julgar. Você não sabe o que va dentro do coração dela. Quando chegar a hora, a vida tem seus próprios meios de ensiná-la. O que não pode é perder a esperança e jogar sobre ela sua falta de fé.

- Eu não faria isso!

-   É o que está fazendo quando diz que ela va demorar para mudar.

-   Eu gostaria muito que ela melhorasse. Tenho ten­tado despertar seu interesse pela vida. Mas está difícil.

-   Ao contrário. Você está no caminho certo. Ela está começando a ver-se como mulher, embora esteja viciada a olhar sempre o lado negativo. Vamos dar uma volta para refazer suas energias. Quando acordar vai sentir-se muito bem.

Marina levantou-se, passou o braço pelo de Jacira e ambas foram deslizando pelo jardim florido e perfumado. Jacira respirava sentindo imenso prazer. Quando atingiram a cidade o dia estava clareando e os primeiros raios de sol se derramavam sobre a Terra.

Em poucos minutos entraram no quarto onde o corpo de Jacira estava adormecido e ela sentiu que não queria separar-se de Marina.

- Tenho que ir. Mas lembre-se de que uma fa­mília, mesmo separada por desentendimentos, faz parte de um plano divino que lhes oferece a chance de solucionar problemas mal resolvidos do passado. Eles são causa de muitas lutas, provocam dor, mas fugir de enfrentá-los apenas os transfere para mais adiante, até que seus membros se decidam a optar pelo perdão e entendimento. Seus irmãos fugiram, mas um dia a vida vai reuni-los novamente para uma nova tentativa. Só o perdão consegue trazer a libertação. Lembre-se disso. Deus a abençoe.

Marina segurou a mão de Jacira e acomodou-a no corpo adormecido, enquanto ela se virava para o lado. Marina acariciou sua testa e saiu.

Jacira remexeu-se na cama, abriu os olhos, em seus ouvidos ainda soavam as últimas palavras de Marina:

"- Só o perdão consegue trazer a libertação".

Jacira olhou o relógio, eram seis horas. Levantou-se. Apesar de ter dormido poucas horas, sentia-se descan­sada e bem-disposta. 

Sentou-se na cama tentando re­cordar-se de tudo quanto Marina lhe dissera.


O bloco que usara na reunião estava sobre a mesa de cabeceira. Apanhou o lápis e rapidamente anotou o que se lembrava da conversa que tivera com Marina. Ela sabia que se não o fizesse, mais tarde não se lem­braria de nada.

Depois de lavar-se, foi à cozinha. Vendo que Marga­rida ainda não tinha se levantado, fez o café, pôs a mesa e sentou-se pensando em tudo quanto lhe acontecera.

Ela nunca sentira saudades dos irmãos. Neto era dois anos mais velho do que ela e não parava muito em casa. Só falava com ela para pedir alguma coisa, nunca se detivera para conversar. Ele tinha vinte e seis anos quando um dia disse que estava cansado da vida de pobre e ia tentar a vida no Rio de Janeiro. Junto suas coisas e foi se embora. Escrevera algumas vezes para a mãe, dizendo que trabalhava em um hotel. Fazia alguns anos que não dava notícias.

O outro, Jair, era dois anos mais novo do que ela e muito diferente do irmão. Irritava-se com as ideias do pai que impunha o que queria e se recusava a ouvir o que eles pensavam. Criticava Jacira por ela ser sempre burro de carga do resto da família, dizia que ela precisava se revoltar, brigar, exigir que os demais a respeitassem.

Mas era com a mãe que ele mais implicava. Não gostava da comida que ela fazia, dos conselhos que ela dava, das frases que costumava dizer sempre olhando a vida pelo lado pior, e dizia:

"- Vocês estão conformados com essa vida mi­serável. Eu, não. Um dia vou ser rico, muito rico. Vocês vão ver."

Geni protestava, brigava. Em casa ele era criti­cado, mas fora tinha muitos amigos, estava sempre rodeado de dois ou três. A mãe implicava com todos. Se estavam estudando, ela dizia que era perda de tempo porque tinha muitas pessoas estudadas le­vando vida de pobre. Se jogavam bola na rua, ou se divertiam com alguma brincadeira, ela os repreendia dizendo que estavam perdendo tempo com coisas sem importância.

O pai tentara empregá-lo na fábrica, mas Jair não quis. Aristides lhe arranjava emprego e o obrigava a ir. Mas tornava-se violento quando ele se recusava. Para evitar brigas, ele cedia, mas como não se interessava pelo serviço, logo era demitido.

Isso provocava uma briga maior. Ele tinha de ouvir o pai falar dos anos que ele estava trabalhando na mesma empresa e que ele era vagabundo.

Os melhores amigos de Jair eram de famílias mais abastadas e Geni ficava irritada dizendo que o filho queria ser mais do que era e que nunca teria nada na vida.

Jacira não achava que Jair fosse vagabundo. Ele gostava muito de ler, estudava além do que a escola pedia. Sabia conversar com as pessoas e, 
apesar de usar roupas simples e até sem graça, elas estavam sempre impecáveis e ele bem-arrumado.


Aos dezesseis anos arranjou emprego em um es­critório, conseguindo comprar roupas melhores. Ele, porém, recusava-se a dar seu salário ao pai, o que provocava várias brigas.

Jacira sabia que ele estava juntando dinheiro para conseguir continuar estudando. Sonhava ir para a univer­sidade. Mas os pais achavam que ele não seria capaz.

Quando Neto saiu de casa, Jair estava com vinte e dois anos e pouco depois ele também resolveu tentar a vida, escolheu o Rio Grande do Sul. Teve uma oferta de um emprego melhor na cidade de Porto Alegre e foi embora.

Os pais brigaram, dizendo que ele era um in­grato, que não amava a família, mas ele argumentou que não ia perder essa chance. 

Arrumou as coisas e foi embora.

Nos primeiros anos, mandou algumas notícias. Mas como os pais não responderam suas cartas, não escreveu mais.

Ao recordar o passado, Jacira começou a se per­guntar por que ela deixara o tempo passar e nunca tentara saber dos irmãos. Teve de admitir que antes ela vivia fora da realidade, insatisfeita, triste, acredi­tando nas ideias erradas que seus pais puseram em sua cabeça.

Onde estariam seus irmãos? Marina dissera que um dia a vida os colocaria frente a frente para um en­tendimento. Talvez isso não acontecesse nesta vida, mas se um dia eles voltassem a se encontrar, ela agiria diferente. Procuraria conhecê-los melhor, tentaria re­cuperar o tempo perdido.

Pensando assim, sentiu uma grande sensação de bem-estar.

Margarida apareceu na cozinha e elas voltaram a conversar sobre trabalho. Depois do café, apres­saram-se para recomeçar as tarefas do dia.


 

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