quinta-feira, 31 de agosto de 2017

CapĂ­tulo 18

Na tarde do dia seguinte, quando Jacira foi buscar Maria LĂșcia, ela jĂĄ estava pronta. Havia se despedido de todos e esperava sentada no saguĂŁo, ao lado da pequena sacola onde guardara seus pertences.


Antes de elas saĂ­rem, Jacira foi avisada de que a madre superiora a esperava em sua sala. Maria LĂșcia sentou-se novamente enquanto Jacira acompanhava a freira.


Entrou na sala da madre que, depois dos cumpri­mentos, pediu-lhe que se sentasse:


- Ontem, quando conversamos, eu estava em dĂșvida se deveria colocĂĄ-la a par de alguns detalhes sobre os pais de Maria LĂșcia. Orei pedindo a Deus ins­piração e senti que seria melhor falar.


Jacira concordou e ela prosseguiu:


- Na verdade, o pai de Maria LĂșcia nĂŁo morreu. Quando Rosalina chegou aqui, grĂĄvida de seis meses, estava desesperada, sem ter para onde ir. Havia pas­sado por momentos difĂ­ceis no Rio de Janeiro, precisando de tratamento mĂ©dico e ajuda emocional. Sua famĂ­lia morava no interior de Minas Gerais e era muito pobre Ela decidiu ir para o Rio de Janeiro na esperança de ar­ranjar um emprego, melhorar de vida. Começou a tra­balhar em casa de famĂ­lia, e, depois de algum tempo foi trabalhar em um hotel como camareira ganhando um pouco mais.


A madre fez uma pausa e, notando o interesse de Jacira, continuou:


- Foi lĂĄ que conheceu um garçom e se apaixonou. Ele se interessou por ela e o namoro começou. A cada dia estavam mais apaixonados, atĂ© que foram morar juntos. Tudo ia bem atĂ© que no hotel hospedou-se uma moça que se interessou por ele, que correspondeu. Ela era bonita, classe mĂ©dia alta, alegre, falava bem e teve o bom senso de nĂŁo se entregar a ele. Ela queria se casar. Ele acabou fazendo o pedido aos pais dela e fi­caram noivos. Rosalina, chocada com a situação, foi procurĂĄ-la, contou-lhe que esperava um filho dele. A moça respondeu-lhe que os dois se amavam e ela de­veria conformar-se porque logo eles estariam casados.

"O resultado foi que Vicente, muito irritado, foi embora de casa. 

Diante do desespero dela, prometeu dar-lhe algum dinheiro quando a criança

nascesse. Pouco depois, Vicente aceitou um emprego que o pai de Guilhermina ofereceu e viajou para o Sul, onde a famĂ­lia dela morava.

"Sem condiçÔes de sustentar a despesa do pe­queno apartamento, nĂŁo sabia o que fazer da vida, atĂ© que uma vizinha, de quem se tornara amiga, vendo seu sofrimento, aconselhou-a que procurasse o nosso pensionato. Foi essa senhora que lhe deu dinheiro para a passagem e o endereço para que chegasse aqui, e uma carta para mim contando o caso dela. Rosalina era uma moça boa, prestativa, logo se deu bem com todos. Apesar do seu estado, esforçava-se para ajudar onde pudesse. Depois que Maria LĂșcia nasceu, oferecemos-lhe um emprego e ela ficou. Sentimos muito sua morte."

- Deve ter sido difĂ­cil para Maria LĂșcia. Rosalina nunca quis voltar para a sua famĂ­lia?

-  Ela procurou notĂ­cias deles, descobriu que ti­nham se mudado sem deixar endereço. Quando ela morreu, por causa de Maria LĂșcia, nĂłs tambĂ©m ten­tamos por meio da parĂłquia da cidade dela, mas nĂŁo descobrimos nada.

A madre fez ligeira pausa, depois prosseguiu:

-  Rosalina nunca contou a verdade para a filha. Ela soube que Vicente se casou, e nĂŁo quis que ela tivesse uma imagem ruim do prĂłprio pai. Maria LĂșcia pensa que o pai morreu.

-  Rosalina avisou ao pai que ela nasceu?

-  VĂĄrias vezes sugeri a ela que o fizesse. Mas ela foi irredutĂ­vel. 

Nunca o perdoou por tĂȘ-las aban­donado. Costumava dizer: "- Ele nos desprezou, nĂŁo merece conhecĂȘ-la".

-  A senhora nĂŁo acha que ele poderia cuidar dela agora que estĂĄ sozinha no mundo?

-  Talvez. Mas nĂŁo dĂĄ para confiar em um homem capaz de abandonar uma moça grĂĄvida.

-  Mas ela veio para cĂĄ e nĂŁo o avisou. Ele pode tĂȘ-la procurado sem encontrar.

-  TambĂ©m pensei nisso. Tenho orado muito pedindo a Deus que me inspire. Tive receio de procurĂĄ-lo. Ele po­deria levĂĄ-la para sua casa e nĂŁo sei se seria bom. Afinal, essa mulher nĂŁo se comoveu com a situação quando Rosalina a procurou. NĂŁo seria uma boa madrasta para Maria LĂșcia. Achei melhor arranjar uma pessoa boa que a acolhesse.

-  Talvez tenha razĂŁo. Espero que ela goste de ficar em nossa casa.

-  Eu tambĂ©m espero. A vida tem muitos caminhos, se algum dia, por alguma razĂŁo, a senhora achar que deve contar-lhe tudo, pode fazĂȘ-lo. Algo me diz que devo confiar no seu bom senso.

Jacira agradeceu, despediu-se. Procurou Maria LĂșcia e foram para casa.

Durante o trajeto, Jacira foi conversando sobre sua famĂ­lia. 

Explicando a rotina da casa, os hĂĄbitos do pai, o que a mĂŁe gostava. 

Ao chegarem na porta de casa, antes de entrar Jacira tornou: 
 

- Hoje começa para vocĂȘ uma vida nova. A prin­cĂ­pio talvez nĂŁo seja fĂĄcil ficar em uma casa estranha no meio de pessoas que nĂŁo conhece.


Vendo que Maria LĂșcia a olhava sĂ©ria, fixou os olhos dela, e disse com voz firme:

- Eu quero muito que vocĂȘ goste de nĂłs e seja muito feliz aqui. 

Desejo ser sua amiga e espero que confie em mim. Quando se sentir triste, ou tiver algum problema, lembre-se de que eu estarei ao seu lado para ajudå-la, aconteça o que acontecer.

Os olhos de Maria LĂșcia marejaram e ela sim­plesmente aproximou-se e deu um beijo na face de Jacira, que sentiu forte emoção. 

Depois de alguns se­gundos, elas entraram.

Geni estava na sala e vendo-as aproximou-se curiosa. Maria LĂșcia encarou-a com naturalidade di­zendo:

- Boa tarde, senhora.

-   Boa tarde. - Respondeu Geni, voltando-se para Jacira: - VocĂȘ demorou!

-   Fiquei conversando com a madre. Ela queria fazer suas recomendaçÔes.

- E o que ela recomendou?

- Votos de felicidades para todos nĂłs. Vamos subir e mostrar o quarto para Maria LĂșcia.

Ao entrar no quarto, Jacira abriu a janela dizendo:

- Este quarto era dos meus dois irmĂŁos. VocĂȘ vai instalar-se aqui. 

Ficou fechado e sem uso desde que eles foram embora. NĂŁo estĂĄ muito bonito, mas pretendo arrumĂĄ-lo melhor. A roupa das camas estĂĄ limpa, e o banheiro fica ao lado. As roupas que eles deixaram ainda estĂŁo dentro do armĂĄrio.

Voltando-se para Geni, que observava parada na porta, ela prosseguiu:

- Precisamos dar um jeito nessas roupas. Geni aproximou-se nervosa:

-  O que vocĂȘ quer fazer com elas?

- Doar. As que estĂŁo melhores ainda poderĂŁo ser aproveitadas por quem precisa. As outras jogamos fora.

-  VocĂȘ nĂŁo pode fazer isso. SĂŁo as lembranças que nos restam deles. Precisam estar aqui quando eles voltarem.

-  Eles nos esqueceram. NĂŁo vĂŁo voltar mais. Mas mesmo se voltarem, nĂŁo vĂŁo querĂȘ-las de volta. Vou buscar uma caixa, separĂĄ-las, e resolver logo.

Jacira saiu e Geni acompanhou-a, rosto contraĂ­do, aflita.

-  MĂŁe, tente entender, temos que tocar nossa vida para a frente. 

Essas roupas nĂŁo tĂȘm utilidade para nĂłs e podem servir para alguĂ©m que esteja precisando.
-  Quando precisamos ninguĂ©m veio nos dar nada. Por que nĂłs temos de fazer isso para os outros?

-  Porque na vida tudo circula e se movimenta. As coisas inĂșteis que juntamos ocupam lugar e impedem que as coisas novas entrem. Se vocĂȘ deseja prosperar, deve entender isso. 

Jacira apanhou uma caixa e voltou ao quarto, abriu o guarda-roupas e começou a tirar as roupas, separando-as em duas pilhas. Geni assistia com olhos marejados.

A cada peça, ela se lembrava dos meninos, e pedia para si, mas Jacira estava decidida e não atendia aos seus pedidos. Vendo que Geni sentara-se em uma das camas e olhava com tristeza, ela perguntou:

-  VocĂȘ jĂĄ fez o jantar?

-  Eu? NĂŁo estou com disposição para isso. Essa menina sabe cozinhar?

-  Fazer a comida, por enquanto nĂŁo vai ser tarefa dela. Vamos dividir o serviço. Hoje vocĂȘ nĂŁo precisa cozinhar. Vamos fazer um lanche. Eu trouxe aquele queijo fresco que vocĂȘ gosta e mais algumas coisas.

-  Posso ajudar? - indagou Maria LĂșcia.

- Pode. Dobre as roupas desta pilha e coloque-as na caixa.

Geni observou-as em silĂȘncio durante alguns mi­nutos, depois se levantou:

- Vou descer e preparar o lanche. Quando estiver pronto eu as chamo.

Ela desceu e Jacira sorriu satisfeita. Sabia que ela nĂŁo resistira Ă  curiosidade. Antes de sair para fazer compras, Jacira sempre lhe perguntava o que dese­java comer. Geni nunca lhe dizia. EntĂŁo, escolhia a seu gosto. Mas ela tinha expectativa e sempre reclamava quando as compras nĂŁo eram o que esperava.

Jacira tentava ensinĂĄ-la a se colocar e dizer o que pensava. Mas Geni, apesar de ter melhorado em algumas atitudes, nĂŁo confiava mais em si mesma. Sua vaidade nĂŁo lhe permitia errar e por esse motivo nunca dizia o que queria.

Quando Geni chamou para o lanche, Jacira jĂĄ havia esvaziado e feito uma faxina no guarda-roupas, dei­xando suas portas abertas para que o ar circulasse.

Elas desceram e Jacira notou que Geni arrumara a mesa com o cuidado que fazia nos almoços de do­mingo. Convidou Maria LĂșcia a sentar-se e servir-se. Geni observava calada.

- Sente-se, mĂŁe. EstĂĄ sem fome?

- As lembranças daqueles ingratos me tiraram o apetite.

Jacira preparou seu lanche com prazer e res­pondeu:

-  Pois eu estou faminta. Esse pĂŁo deve estar uma delĂ­cia. Ainda hoje vamos nos sentar e combinar como serĂĄ a rotina da casa daqui para a frente. Vamos de­finir as tarefas de cada uma.

-  NĂŁo Ă© preciso. Aqui tudo Ă© muito simples - ob­jetou Geni.

-  Precisa sim. A organização Ă© a base de todo tra­balho. Como eu nĂŁo disponho de tempo para o serviço de casa, vocĂȘs duas terĂŁo de cuidar de tudo.

- O que depender de mim, estou disposta a fazer o que for preciso.

-  Ótimo, Maria LĂșcia. O que vocĂȘ fazia no pen­sionato?


-  Quando eu era menor sĂł estudava, mas sempre que deixavam eu ajudava no que podia. Mas a madre preferia que alĂ©m da escola eu fizesse os cursos que havia lĂĄ.


-  Que cursos vocĂȘ fez?

- De primeiros socorros, ajudante de enfer­magem, digitação. AlĂ©m disso, como eu ficava lĂĄ o tempo todo, onde precisasse, eu ia como ajudante. Eu adorava ajudar no berçårio e contar histĂłrias para as crianças do prĂ©.

Geni interveio:

-  VocĂȘ aprendeu muitas coisas, mas nĂŁo aprendeu a cuidar de uma casa.

-  Aprendi, sim. Sei fazer uma boa faxina, lavar e passar roupas. E nĂŁo tenho medo de trabalho. Com boa vontade sei que posso aprender a fazer tudo.

Mais tarde, quando Aristides chegou do tra­balho, passava das 23 horas e Geni esperava-o sen­tada na sala.

-  Estava sem sono?

-  Temos de conversar.

-  Estou cansado. Deixe para amanhĂŁ.

- NĂŁo. Jacira trouxe a mocinha para morar aqui. Estou preocupada.
-  Por quĂȘ? Ela foi bem recomendada e criada em um pensionato de freiras. Deixe de histĂłrias.

- Não são histórias. Ela é muito nova, não sabe fazer nada. Além disso, por causa dela Jacira recolheu toda roupa dos meninos e vai doar.

-   Ela estĂĄ certa. Para que guardar o que nĂŁo nos serve para nada?

-   VocĂȘ tambĂ©m? Elas sĂŁo tudo quanto nos resta dos nossos filhos. Como pode ser tĂŁo frio?

-   Por mim jĂĄ as teria doado faz tempo. Esperar para quĂȘ? Eles nos esqueceram.

Geni disse com voz lamentosa:

- Eu sou mãe, amo meus filhos! Sinto saudades! Aristides fixou-a sério:

-  Quando eles estavam aqui vocĂȘ vivia se lamen­tando, dizendo que eles nĂŁo sabiam fazer nada. Prin­cipalmente o Jair. Às vezes penso que eles foram em­bora para ficarem livres de suas lamentaçÔes.

-  VocĂȘ estĂĄ sendo injusto. Eles nĂŁo foram embora por minha causa. Jair estava iludido, achava que um dia ficaria rico. A esta altura jĂĄ deve ter percebido que pobre nĂŁo tem vez.

-  E se aconteceu o contrĂĄrio e ele estiver bem de vida?

-  Se ele estivesse bem, teria voltado para nos provar que tinha razĂŁo.

Aristides meneou a cabeça negativamente:

- VocĂȘ continua sempre julgando as pessoas. Eles estĂŁo seguindo sua vida e nĂŁo pensam mais em nĂłs. Chega de conversa. Estou com sono e quero descansar.

O marido subiu e Geni foi atrĂĄs. Ele se preparou para dormir e deitou-se em seguida. Geni sentou-se na beira da cama:
 
-  Essa histĂłria dessa menina morar aqui nĂŁo vai dar certo. Daqui a pouco ela vai começar a pĂŽr as manguinhas de fora, fazer amizades, querer trazer pessoas aqui. Pode atĂ© arranjar namorado.


-  Deixe de ser maldosa. Apague logo essa luz, eu quero dormir.
Ela foi apagar a luz, mas ainda disse:

- Depois nĂŁo diga que nĂŁo avisei! Aristides virou-se para o lado e logo adormeceu.

Geni deitou-se tambĂ©m, mas seus pensamentos tu­multuados nĂŁo a deixavam em paz.

No dia seguinte, Jacira acordou cedo, desceu e jĂĄ encontrou Maria LĂșcia na cozinha. Ela jĂĄ havia ar­rumado a mesa para o cafĂ©.

- A senhora quer que eu esquente o pĂŁo que sobrou de ontem Ă  tarde ou prefere que eu vĂĄ com­prar outro?

- Vamos esquentar este mesmo.

-  Posso passar o cafĂ©?

-  Pode.

Depois de colocar na mesa a garrafa térmica com o café, ela ficou parada esperando.

- Sente-se, Maria LĂșcia, vamos ver como estĂĄ esse cafĂ©.

Enquanto elas se serviam, Jacira perguntou:
- VocĂȘ dormiu bem?

Maria LĂșcia nĂŁo respondeu logo.

-  Pode falar. Estranhou a cama?

-  NĂŁo. Essa cama Ă© melhor do que a que eu dormia no pensionato. Acontece que...

Ela parou e Jacira perguntou:

-  O que foi? Fale, Maria LĂșcia.

-  É que eu tive um pesadelo e acordei assustada.

-  VocĂȘ ficou nervosa com a mudança. É normal. Quero que sejamos amigas e nĂŁo haja segredos entre nĂłs. VocĂȘ nĂŁo precisa ter medo. Desejo que seja muito feliz em nossa casa. Se alguma coisa a estiver preocu­pando, eu quero saber.

-  Foi sĂł um pesadelo. Acontece de vez em quando.

-  Conte como foi.

-  Eu sonhei que estava em um lugar escuro e um homem que eu nĂŁo vi o rosto queria me pegar. Eu me escondia e ele me achava. 

EntĂŁo, acordei e nĂŁo quis dormir mais para nĂŁo encontrĂĄ-lo.
-  VocĂȘ reza antes de dormir?

-  Sempre. Minha mĂŁe me ensinou.

-  Vou pedir a LĂ­dia para nos orientar.

-  Ela nos ajudou muito. Quando minha mĂŁe es­tava doente, ela nos visitava, mandava-me sair e ficavam conversando. Depois que ela saĂ­a, mamĂŁe ficava mais calma, melhor.

Aristides apareceu na cozinha e Geni o acompa­nhava mais atrĂĄs.

- Bom dia! O cheirinho do café me fez levantar.


- Bom dia. Sente-se, papai. Esta Ă© a Maria LĂșcia. Ela levantou-se. Ele olhou-a respondeu:

- Seja bem-vinda, minha filha. Sente-se, con­tinue tomando seu cafĂ©.

Ela obedeceu enquanto Geni jĂĄ havia se acomo­dado e estava se servindo.

-   Por que se levantou tĂŁo cedo? - indagou Jacira.

-   Acordei, senti o cheiro do cafĂ© e tive fome. Assim que comer, voltarei para a cama. Hoje sĂł vou para o bar ao meio-dia.

Eles terminaram de comer, Aristides subiu no­vamente e, depois que Maria LĂșcia tirou a mesa, Jacira apanhou um bloco e pediu que as duas se sentassem novamente.

-   Agora nĂłs vamos organizar o trabalho da casa. Primeiro, vamos anotar de maneira geral o que de­verĂĄ ser feito para que tudo fique em ordem. Depois, vamos repartir as tarefas entre as duas.

-   Nada disso Ă© preciso. O serviço da casa Ă© sempre o mesmo.

-   Sim. Mas eu quero discutir com cada uma quem faz o quĂȘ, para facilitar e tambĂ©m para que nĂŁo haja nenhuma dĂșvida. Eu tenho meia hora para fazer isso. HĂĄ muito trabalho me esperando no ateliĂȘ.

Jacira anotou detalhadamente todo o serviço do­mĂ©stico, depois que todas estavam de acordo, dividiu as tarefas. Ficou para Geni cozinhar e lavar toda roupa da casa. Geni protestou.

-   Eu quero sĂł cozinhar. Lavar roupa Ă© muito can­sativo. Eu sou uma pessoa doente!

-   Separar as roupas e colocĂĄ-las na mĂĄquina nĂŁo Ă© serviço pesado, vocĂȘ pode muito bem fazer. Ou serĂĄ que em vez de lavar vocĂȘ prefere passar?

-   NĂŁo. Odeio passar roupas! Eu lavo!

-   Combinado. O restante fica para Maria LĂșcia. NĂŁo Ă© muita coisa para vocĂȘ?

-   NĂŁo. Do jeito que a senhora dividiu as tarefas, ficou fĂĄcil. Vou dar conta.

-   EntĂŁo estĂĄ combinado. Eu quero que copie as duas relaçÔes. A que eu fiz ficarĂĄ com mamĂŁe e a outra com vocĂȘ. Assim nĂŁo vĂŁo confundir e cada uma saberĂĄ o que compete a outra.

-  Isto aqui parece um quartel - resmungou Geni.
-  O que disse, mĂŁe?

-  Nada. Agora as coisas aqui em casa se inver­teram. Em vez de a mĂŁe administrar tudo, Ă© a filha que faz isso.

-  Estou fazendo isso para facilitar. Procure cumprir o que prometeu e descobrirĂĄ como a organização favo­rece o trabalho.

Maria LĂșcia olhou para Geni e tornou:

- Eu estou acostumada. No pensionato Ă© tudo muito organizado. 

Elas dizem que Ă© preciso fazer tudo bem feito para se ganhar tempo. Ao fazermos de qual­quer jeito, sem capricho, acabamos tendo de fazer de novo e trabalhamos mais.

Jacira sorriu satisfeita:
 
- Agora preciso ir. Vou deixar algum dinheiro. Se precisar de alguma coisa, Maria LĂșcia poderĂĄ comprar no mercadinho.


Jacira apanhou a bolsa e saiu. Ela sabia que assim que virasse as costas, Geni ia tentar sabotar o que combinaram e torcia para que Maria LĂșcia se manti­vesse firme.


Na véspera, ela havia lhe pedido para que não cedesse às artimanhas de Geni. Não queria que ela voltasse à vida sedentåria.


Sentia-se satisfeita por poder contar com Maria LĂșcia, aliviando a mĂŁe do peso dos trabalhos domĂ©s­ticos e, ao mesmo tempo, abrigar uma ĂłrfĂŁ por quem jĂĄ sentia um carinho especial.



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